quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

MANOEL DE OLIVEIRA


O corredor fundo

Já tudo foi dito de Manoel de Oliveira. O director de cinema com oitenta anos de carreira, e o mais velho do mundo em actividade, começou a sua vida de adulto como corredor de automóveis!

Cedo concluiu que essa não era a sua vocação e enveredou por aquilo de que gostava, o cinema, transformando-se assim, num autêntico corredor de fundo.

Neste dia, «ao chegar aos cem anos, Oliveira deverá, pela primeira vez na vida, concluir num prazo de três meses duas longas-metragens. Prepara, neste momento em que completa o centenário, o seu quadragésimo segundo filme que deverá ser apresentado no início de Fevereiro, no Festival de Berlim. O próximo projecto já tem data para ficar pronto: o Festival de Cannes, em Maio».

É obra!

Quem o vê, no pequeno ecrã, dando entrevistas, ou na cadeira de director, em pleno trabalho de filmagem, não imagina a idade que tem. Mais inimaginável ainda é ouvir os projectos que ainda se propõe levar a cabo, com a mesma inteligência e simplicidade com que dirigia o célebre Aniki Bobó, em 1942!

As homenagens que lhe têm sido feitas são inteiramente merecidas. Para mim, duas referências, tiradas de uma entrevista à BBC, definem o homem que «recusa fazer produções comerciais e não faz nada pensando no público que vai assistir aos filmes.» Diz também, a esse respeito: "Não penso no público porque não entendo essa palavra. Públicas são as cadeiras, as salas. As pessoas não são públicos, mas cada um com sua identidade própria e uma forma muito particular de ver e viver."

É assim que, no meio de tanto oportunismo, Manoel de Oliveira, com cem anos de idade mas de espírito perfeitamente lúcido, continua a seguir o seu caminho, honestamente, tranquilamente, sabiamente, na sua personalidade inconfundível de sempre.

Coisas muito raras, nos dias de hoje.

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