Força, portugueses!
Depois do mega cozido de Riba d´Âncora, da semana passada, pede-se mais um pouco de paciência aos portugueses ansiosos, que o Guiness ficará de novo à sua inteira disposição!
A grande notícia do dia 22 diz que «Matosinhos apresentou, este domingo, o maior bolo-rei do mundo, com 2 500 quilos, para garantir mais um registo português no «Guiness Book of Records».
Como é possível? Na minha perspectiva, não se trata de um único bolo-rei, mas de dois mil e quinhentos bolos de quilo, ligados uns aos outros, por algum pasteleiro habilidoso que conseguiu fazer as ataduras à socapa, de modo a que ninguém conseguisse detectá-las. E, sendo assim, os papalvos que se puseram a olhar para o bolo-rei gigante como boi para palácio, foram comidos, enquanto esperavam comer a sua apetecida fatia.
Mas provavelmente isto é apenas má-língua da minha parte, talvez eu esteja a exagerar. Eles, afinal, só desejavam colaborar num acto de benemerência de um pasteleiro bondoso, porque a notícia continua assim:
«O bolo foi vendido em fatias, em frente ao edifício-sede da Câmara de Matosinhos, com a receita a reverter a favor da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC)».
A partir daqui, eu penso que se trata, não de um, mas de vários recordes a inscrever no Guiness, que me perdoem os autores da ideia original.
Primeiro, o tamanho descomunal do bolo-rei, ainda que meio aldrabado, na minha óptica malvada.
Segundo, um bolo-rei como receita a reverter para a luta contra o cancro, na freguesia do Senhor de Matosinhos, coisa que nunca tinha sido vista, naquelas bandas!
Terceiro, «o facto de o Bolo-rei ter sido apresentado, pela primeira vez, em frente ao edifício da Câmara». O tema é novamente de suma importância para Matosinhos e demonstra que em Portugal poderá haver crise de muitas coisas, mas não há crise de bolo-rei, de há vários anos a esta parte.
Quarto recorde do Guiness, o Porto foi destronado, finalmente, depois de dezoito anos de luta acérrima entre os respectivos pasteleiros porque «actualmente, o Guiness regista como maior bolo-rei do mundo o que foi confeccionado no Porto, em 1990, também por iniciativa do gestor de empresas Victor Antunes e dos seus amigos e cuja venda também reverteu para a LPCC.»
Quinto recorde a inscrever no Guiness, o número de pasteleiros utilizados: «A confecção do bolo-rei, que tinha dois elos e
Ora aí está! De gente deste quilate é que o País necessita, em todas as profissões. Bem, em todas não direi, porque de pasteleiros estamos bem servidos...
Tencionava terminar aqui o artigo quando, encarei com a notícia da guerra do bolo-rei escangalhado, verdadeira novela pasteleiro-jurídica, em que «o Tribunal de Braga absolveu, na sexta-feira passada, os dois proprietários e o pasteleiro da «Nobreza», acusados pela Pastelaria Paula do crime de contrafacção por alegadamente terem copiado o denominado «bolo-rei escangalhado». Só faltava mais esta!
A notícia, à boa maneira jurídica, dava todos os pormenores do grande evento, com as intervenções dos advogados, das testemunhas e dos juízes, onde não faltava um relato histórico da invenção do bolo-rei escangalhado, há uns bons quarenta anos...
Esta seria, pois, a sexta possibilidade de inscrição no Guiness, de uma só vez!
E comecei a ficar enjoado.
Mas para cúmulo, o Diário Digital trazia ainda, logo na peugada, o título com a notícia seguinte: «Bolo-rei para diabéticos no Rossio!» «Campanha Natal Azul», a Associação Protectora de Diabéticos de Portugal (APDP) e a Sociedade Portuguesa de Diabetologia (SPD) vão distribuir mil unidades de um bolo azul, com base «numa receita adaptada ao nível das dosagens e dos ingredientes de modo a poder ser ingerido por diabéticos».
É também apresentado um prémio de jornalismo para distinguir trabalhos e ao mesmo tempo incentivar o desenvolvimento de textos sobre esta doença.»
E por aí fora, linhas e linhas fazendo jus a uma sétima inscrição no Guiness. Somos mesmo muito bons, nisto!
Sete inscrições no Guiness, só à conta do bolo-rei, não são façanha para qualquer um! Portugal vai longe. Força, portugueses!
Pela minha parte, peço desculpa de não dar o meu contributo. Já estou velho para estas pepineiras.
Fiquei farto.
Vou dar uma voltinha, por aí, para espairecer.
Que me perdoem os oportunos jornalistas e os eméritos pasteleiros a quem me atrevo a dar um conselho simples, de amigo, com muitos anos no activo:
-Não abusem!
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