quarta-feira, 3 de dezembro de 2008

ANTIOXIDANTES ÀS TERÇAS E QUINTAS


Notícias de estimação

Acabo de ler a notícia dum estudo que questiona o efeito dos antioxidantes no envelhecimento. Diz o «estudo, dos sábios investigadores ingleses da University College London que não há indícios de que as dietas e os cosméticos que contêm antioxidantes possam retardar o envelhecimento».

Fiquei desasado! Eu andava, há já algum tempo, a tomar doses fortes de antioxidantes, a ver se durava mais uns anitos, e senti desejo de me enfiar pelo chão abaixo! Também me ocorreu bater nos sábios investigadores, nestes do estudo citado, porque me tinham tirado a esperança de chegar aos cem, e nos anteriores, de 1956 que me tinham prognosticado vida longa, se usasse uns antioxidantezinhos, por exemplo, com um copito de tinto às refeições, embora depois alguns já idealizassem com whisky e outras porcarias...

Ao diabo esta gente que descobre, redescobre, tapa, destapa e volta a tapar grandes novidades da ciência que afinal não são, porque descobrem finalmente que se enganaram!

Mas quem há que não se engana?

Até Deus parece que se enganou ao criar o homem e colocá-lo no paraíso, pois logo a mulher estragou todos os planos, ao comer a maçã proibida e colocá-la definitivamente na dieta obrigatória. Ainda bem!

Depois dessa cena, o homem ficou entregue às desgraças, aos enganos permanentes, de recuperação difícil. E a ciência, que é humana, também não escapa. Devia haver um fundo de compensação para que os enganados pudessem ser indemnizados pelos erros da ciência, à semelhança do que acontece com os sinistrados das colheitas, dos incêndios, dos naufrágios e de tantas outras mazelas que afligem a humanidade. Mas as companhias de seguros, como o seu nome indica, são muito, muito seguras e não correm atrás de foguetes. Quer isto dizer que não arriscam nada em problemas decorrentes da investigação científica! Só acreditam nela, depois de cem anos de provas dadas!

Ora, no caso dos antioxidantes, ainda só passaram cerca de cinquenta, e isso não basta. Foi também o que aconteceu com o azeite, na década de quarenta. O azeite era, até então, o melhor do mundo. Desde tempos imemoriais os povos usavam-no para curar as feridas e as maleitas mais diversas e, de repente, vá de dar preferência ao óleo de amendoim, depois ao de girassol, depois ainda ao de soja, (não falando nas misturas de fuelóleo feitas há anos em Espanha)...e finalmente redescobriu-se que o azeite era o melhor que existia à face da Terra. Ora, por este andar, quem há por aí que volte a acreditar na ciência?

Eu, que já vi muita coisa, que já ando nesta vida há muitos anos, continuo também muito descrente das notícias jornalístico-científicas e, como não há seguro para as vítimas dos erros da ciência, há muito que tomei uma resolução: viver sempre com moderação, não embarcando em panaceias científicas, propaladas pelos jornais, enquanto não suficientemente provadas e descritas nas cautelosas revistas científicas que não andam por aí nas mãos do pagode.

Ora os jornalistas coscuvilheiros, que não são de moderações, estão sujeitos a ser enganados, na sua ânsia de apresentar novidades ao público e tornam-se nos veículos dos mais inocentes ou caricatos dislates científicos, tantas vezes tomados como ciência certa! Mas isso é lá com eles.

O que não está certo é que transmitam às populações notícia desses tais estudos definitivos, normalmente inconclusivos ou provisórios e, quase sempre, lhes acrescentem algo da sua lavra, pois quem conta um conto, acrescenta um ponto. Quem se trama é o Zé.

Até porque, logo ali à espreita, existem os espertalhões do negócio para se aproveitar dos incautos.

A Ciência, com letra grande, não necessita de propagandistas encartados, nem de comerciantes oportunistas. A maior parte dos cientistas, dos investigadores e dos inventores são gente simples e humilde e não andam nas páginas dos jornais, geralmente guardadas para a fofoca científica que nada tem que ver com as verdadeiras descobertas. Muitos deles só após a morte foram reconhecidos como génios pela Humanidade.

Mas a Ciência usa a dúvida sistemática como método essencial. E eu, como ainda lhe tenho muito respeito, apesar dos falhanços de tantas teorias, ao longo dos séculos, cá vou tomando os meus antioxidantes com um copito de vinho tinto e temperando o bacalhau com azeite, apesar de todas as trapalhadas que se vão lendo por aí. Se não conseguir chegar aos cem anos, paciência.

Sem comentários: