segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

BANCA E D.BRANCA


Em Portugal e no Mundo

Em Portugal, a D. Branca ficou célebre, pelo seu negócio de milhões de escudos, em cascata, numa fuga para a frente que nada tem de engenhoso, mas tem muito que ver com a esperteza de alguns, aproveitando a ganância sem escrúpulos de muito «boa» gente. Como sempre, os espertos de momento, desprezando princípios morais e desejando enriquecer à pressa, investindo em negócios simples, de honestidade aparente mas duvidosa e à sombra de uma falsa concepção moral, foram ludibriados como crianças imberbes. O espantoso do sistema que enganou tantos milhares de pessoas é a sua simplicidade desarmante.

A D. Branca proporcionava juros altíssimos aos investidores e dessa maneira atraía novos incautos ao apetecível negócio, em proporção geométrica, enquanto os juros pagos cresciam apenas em proporção aritmética...ou não cresciam mesmo, porque muitos investidores voltavam a investir no mesmo sistema. A crise rebentou com a notícia da fraude publicada nos jornais e a corrida à bolsa da D. Branca que, «coitada», já não podia devolver o que tinha gasto, posto a bom recato ou entregue como juros a alguns quantos felizardos da sorte que se retiraram a tempo.

Também a D. Branca e o seu grupo familiar não inventaram nada de novo. Esquemas semelhantes andam por aí em jogos de serões nocturnos ou gabinetes de máfia, onde os jogadores que perdem vão apostando sempre a dobrar para tentar recuperar das perdas, ou nos casinos, legais ou ocultos, onde o entusiasmo dos ganhadores os faz jogar até ficarem na miséria, para gáudio e proveito dos proprietários do negócio.

O truque está sempre no abuso da credulidade humana, no desejo bem humano também, na sociedade dos nossos dias, de enriquecimento rápido, a qualquer custo. Simples, meu caro Watson, como diria Sherlock Holmes!

Por mais incrível que pareça, o caso do escândalo financeiro de Bernard Madoff, o antigo presidente da bolsa Nasdaq, de Nova Iorque, é a cópia fiel da nossa D. Branca, ou do nosso BPN, à escala da banca planetária!

Muita gente se perguntará agora como isso foi possível, mas a resposta é sempre a mesma: credulidade e ganância, a nível mundial. Os bancos fazem os seus negócios na base da seriedade e confiança que inspiram aos seus clientes. Na cadeia piramidal que junta os bancos mais pequenos até chegar ao topo da Banca Anglo-Americana ou Mundial e aos grandes negócios da Bolsa, a seriedade e a confiança continuam a ser a base do sistema. Se alguma peça do alto desse sistema abdica em seu proveito da seriedade requerida, aproveitando a ganância escondida dos investidores, perde-se a confiança e a credibilidade. Está tudo perdido!

O Fundo especulativo de Bernard Madoff, detido na semana passada pelas autoridades dos Estados Unidos, arrastou grandes bancos americanos, mas também causou perdas enormes de muitos milhares de milhões de euros a grandes bancos europeus, como o BNParibas, o Banco Santander e outros grandes da banca do Reino Unido, da Suiça, da França, etc.

Vale a pena ler a notícia que transcrevo abaixo e comparar com a nossa pequenina D. Branca, ou o nosso minúsculo BPN.

«O esquema de Madoff – um especialista em hedge-funds e corretor em Wall Street que já assumiu o seu negócio como uma «grande mentira» – baseava-se apenas na captação de novos investidores para remunerar os mais antigos com juros elevados.

Segundo números na imprensa nova-iorquina, a fraude que escapou ao crivo das entidades de supervisão e regulação ascende a uns 50 mil milhões de dólares (cerca de 38 mil milhões de euros).»

Nos EUA, como em todo o Mundo, como em Portugal, a prisão incidiu rapidamente sobre a D. Branca, o Presidente do BPN, o Madoff, o homem da fachada, mas ficam de fora os numerosos compadres das seitas...O dinheiro roubado sumiu para sempre, para desespero, sobretudo, dos mais pequenos!

Outra novidade, que não chega a ser, é o último parágrafo da notícia., onde se verifica que a entidade de supervisão da fabulosa e tecnológica América, falhou redondamente, como já havia falhado em outros diversos e badalados casos, tal como a polícia falha constantemente nos numerosos roubos e assaltos que ocorrem por lá, a nível mais rasteiro...O mesmo aconteceu também na Inglaterra, na França, na Alemanha, na Itália, em Portugal...

Podemos estar certos de que, tanto a polícia como os supervisores bancários fazem tudo o que podem. Devem, no entanto, ser obrigatória e constantemente melhorados nos meios e nas técnicas ao seu dispor, para tentar superar, ou ao menos igualar, a melhoria constante da técnica inventiva utilizada nos processos de crime e vigarice que pululam no mundo inteiro, as quais geralmente levam a dianteira, quanto mais não seja pelo normal efeito de surpresa. Todo o investimento feito pelos governos e pelas entidades de segurança nesse sentido, a nível nacional e internacional, será sempre bem-vindo.

O ideal seria que a polícia e as entidades supervisoras possuíssem um oráculo infalível e fiável que determinasse uma actuação adequada, antecipada ou em tempo útil, e nos permitisse a todos dormir descansados.

Mas isso dos oráculos já foi chão que deu uvas.

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