domingo, 28 de dezembro de 2008

FESTAS FELIZES E VELHAS DESGRAÇAS


O Natal, o Ano Novo e os novos acidentes

O desejo de Festas Felizes é consensual., nos países de cultura ocidental e cristã. Sempre que possível, junta-se a família, confraterniza-se, trocam-se prendas e abraços, fazem-se votos de saúde e de uma vida melhor para o ano que aí vem. Para que tal aconteça, os familiares distantes metem-se no carro e fazem longos quilómetros, sem descanso, na ânsia de chegar mais cedo à casa de família. Alguns deles sofrem graves acidentes de viação, encontrando o hospital ou a morte, numa viagem sem regresso. Marcam assim, definitivamente e para sempre, esta data festiva, com o carimbo da desgraça, no espírito de familiares e amigos.

Há muitos anos que todos os portugueses falam na necessidade de pôr cobro a estas velhas desgraças da Quadra Natalícia.

Os sucessivos governos decretam medidas restritivas ou punitivas, todos os anos, as autoridades de vigilância das estradas destacam cada vez mais agentes e em turnos sempre mais alargados, sem grandes resultados. Estranhamente, parece que, nestes dias que se supõem de paz e de festa, muitos portugueses perdem a cabeça, exageram nos festejos e acabam na paz do cemitério.

«A GNR fixou hoje em dez o número de vítimas mortais nos cinco dias da Operação Natal. O balanço da Brigada de Trânsito refere 1.153 acidentes e 65 condutores detidos, dos quais 30 apresentavam uma taxa de alcoolemia igual ou acima de 1,2 gramas por litro de sangue

O relatório da Brigada de Trânsito é muito mais extenso, citando um número não despiciendo de condutores sem carta, sem seguro, sem cinto de segurança, e por aí fora, demonstrativos de uma total falta de civismo e de respeito pelas leis e pelos semelhantes que circulam nas mesmas estradas. Um destes energúmeno, por exemplo, foi apanhado com uma taxa de alcoolémia de 3,0 gramas, e outro a conduzir a mais de 200 quilómetros à hora numa estrada convencional...

Mas o que mais chama a atenção de um leitor atento é o desprendimento com que estes números são olhados pela população em geral, como se fossem uma fatalidade sem remédio, como se apenas coubesse aos governos e às autoridades resolver um problema que é, sobretudo, de cada um. E nada é mais errado que esta postura, da parte dos cidadãos.

Infelizmente, o que se aprecia por aí são as justificações mais incríveis para os atropelos às regras. Citam-se, por dá cá aquela palha, o mau traçado das estradas, a deficiente sinalização, a iluminação inadequada, a irresponsabilidade dos peões, a caça à multa por parte das autoridades, a má colocação dos sinais, os desajustados valores-limite afixados nos radares e nas placas limitativas de velocidade, enfim, mil e uma coisas, menos a responsabilidade do condutor.

Pior que isso são os artigos escritos em revistas da especialidade com responsabilidades acrescidas e que frequentemente se entretêm com textos desse mesmo jaez, numa defesa ridícula dos condutores pelas más razões, em lugar de incentivá-los, de estimulá-los a cumprir os seus deveres, a tornear as dificuldades de condução que inesperadamente aparecem a cada passo, a sair airosamente ou com menos perigo de problemas como um furo ocasional, uma fuga de óleo de travões, uma fractura acidental do pára-brisas, uma situação de encandeamento, uma actuação correcta nos casos de acidente, etc., etc.

A população desvaloriza todas estas incongruências. Estou certo de que pouco ou nada fará, de sua própria iniciativa, para dar a volta ao texto. E bastaria apenas um pouco mais de educação cívica, em casa, na escola, no trabalho, na rua, para diminuir drasticamente o número de acidentes e de mortes nas nossas estradas. Tão simples como isso, e tão difícil!

Por isso, talvez aberrante, mas sendo cada vez mais consensual, é que muitos pensam que a única forma de diminuir acentuadamente esta hecatombe de vítimas da estrada é a repressão policial, a fiscalização e a multa pesada, sem as quais o portuguezinho esperto não consegue viver, muito menos fazer qualquer coisa de jeito, mesmo para seu próprio benefício!

Estarão a exagerar? A árvore gigante iluminada e colorida, montada no cimo do Parque Eduardo VII, tornou-se hoje num local de peregrinação dos lisboetas, originando uma pequena embrulhada de veículos, praticamente sem polícia à vista, mas sem desgraças, que eu saiba...

Mas o Ano Novo aproxima-se e novos acidentes terão lugar, infelizmente com numerosos mortos e feridos, como de costume.

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