segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Lagartixas com os dias contados?

O presente envenenado…


É claro que podemos sempre, em tudo o que se faz -e o que se não faz -ver um presente envenenado!

Lembro-me de um colega que tinha uma mulher que era uma jóia e lhe aturava todas as maluqueiras, e de quem ele suspeitava que lhe dava pastéis para envenená-lo! Um dia chegou mesmo a visitar-me para ver se, muito em segredo, metia uma cunha ao director do Laboratório de Polícia Científica que tinha sido meu professor de Química Orgânica, afim de mandar investigar com brevidade um pastel que guardava religiosamente num frigorífico! Acabou numa esquizofrenia muito acentuada e faleceu com um AVC provavelmente acelerado por essa e outras manias que não conseguia ultrapassar.

Postos casos extremos como este, penso que devemos, habitualmente, começar por tomar como normal aquilo que vemos e depois ir corrigindo as nossas opiniões sem a pretensão de antecipar o futuro, a não ser naqueles casos de evidente falta de senso...

Vem isto a propósito (ou não), de um mail contendo um vídeo que um amigo me enviou, todo escandalizado com o seu custo incrível, de pura propaganda turística a uma gigantesca obra em projecto prestes a ser aprovado, para descanso e lazer de nababos, a construir em terras quilométricas, de protecção ambientalista feroz e concluindo, decidido:

-Como é possível?

No entanto, achei o custoso vídeo uma preciosura e também uma espectacular obra de artista de marketing, já se vê! Para uma obra de milhões, prevendo turistas aos milhões e com muitos milhões, é necessário, nos dias de hoje, um vídeo de milhões! E não de tostões!

Aqui não está o mal.

O mal, acredito piamente, é que vão à vida muitas lagartixas da zona, apesar de todos os cuidados levados em conta e de todos os protestos havidos e para haver.

Se até nós, quando mijamos para o chão, destruímos o micro ecossistema local de algum formigueiro que vivia feliz até à nossa chegada!...

Como em tudo o que se faz, há sempre um verso e um reverso e, na maior parte dos casos, só com muito
bom senso se podem pesar os benefícios e os prejuízos, o que nos permite seguir em frente sem remorsos.

O ideal seria podermos manter sempre tudo aquilo de que gostamos e aumentá-lo até ao infinito, sem ceder nada em troca...mas isso é impossível! E, na minha óptica, a vida humana (e, se possível só depois, a sua qualidade) deve ter sempre, sempre, prioridade sobre as coisas que nos rodeiam e sobre os outros bichos.

Mas as decisões, todos sabemos que nem sempre são fáceis de tomar. E cometem-se muitos erros, pelo meio.

Só para acabar, cá vai esta:

Nos finais da Segunda Guerra Mundial e nos anos que se lhe seguiram, houve uma tentativa de acabar com a malária, utilizando DDT que tinha uma eficácia tremenda sobre o mosquito Anhophelles, o veículo do terrível mal. Os resultados foram espectaculares e pouparam-se muitos milhões de vidas, chegando a pensar-se que seria questão de uns poucos anos até erradicar a doença da face da terra! Ao fim de algum tempo, porém, vieram as contra indicações ao DDT -para o meio ambiente e especialmente para o homem -com a O.M.S. a proibir terminantemente o seu uso maciço e, posteriormente, até nos insecticidas caseiros dos países civilizados. Desde então para cá, a malária não só não regrediu, como ganhou terreno nessas zonas, apesar de todos os esforços, e anualmente morrem largos milhões de pessoas nos países afectados, sem que a comunidade em geral ou os ambientalistas protectores das lagartixas e das aves raras em particular, se preocupem muito com isso, pois é lá um problema dos selvagens e do terceiro mundo...

É que na Europa, onde somos muito saudáveis e felizes, praticamente não existe malária, devido aos cuidados tidos com os arrozais e à secagem quase total dos poéticos pântanos do antigamente e seus fantásticos ecossistemas, feita quando ainda não havia tantos ecologistas de serviço!...

Onde é que eu vi, ou li, que as armas de arremesso são quase sempre de dois bicos?

Um abraço, amigos !

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