quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Coitado do Pessoa...

ESTATÍSTICAS PSICOLÓGICAS


As estatísticas, na minha modesta opinião, são a gestão das esperanças, das incertezas, ou, dito de outra maneira, das verdades a meio gás…

Não sou perito em estatísticas e por isso os meus comentários sobre o assunto também podem não ser os mais correctos. Mas a Matemática não é para aqui chamada.

A Comunicação Social, com o seu hábito peregrino de falar e informar de tudo e de nada, valha ou não valha um chavo, é a grande culpada do espalhafato das estatísticas por esse mundo fora, a propósito das coisas mais bizarras. Também a intenção de quem faz certas estatísticas ou de quem as publica nem sempre está a descoberto. Algumas serão louváveis, outras nem tanto e outras ainda simplesmente reprováveis.

Outro problema das estatísticas, além do objectivo que pretendem atingir, é a forma como o fazem, o modo como são escolhidos, efectuados, distribuídos e trabalhados os parâmetros e os resultados dos inquéritos. Por isso, acho que todas as estatísticas, na minha humildade, deverão ser apreciadas sempre com o maior cuidado, nunca de ânimo leve, nem com a ligeireza que caracteriza certas notícias que a Comunicação Social nos apresenta, qual correia de transmissão, aliás nem sempre totalmente isenta…

Vem isto a propósito de um estudo levado a cabo pela Universidade Fernando Pessoa, provavelmente com base em alegados métodos científicos, proclamado há dias em parangonas nos diários da nossa praça e que não resisto a transcrever:

Estudo conclui que maioria das pessoas desconfia dos sorrisos dos políticos

01.12.2007 - 13h50 Lusa

As pessoas desconfiam do sorriso dos políticos, sendo essa desconfiança maior quanto mais eles sorriem, conclui um inédito estudo científico realizado pelo Laboratório de Expressão Facial da Emoção, da Universidade Fernando Pessoa, no Porto.

As conclusões desta investigação referem que “oito em cada dez pessoas consideram que os sorrisos exibidos pelos políticos são quase todos falsos”.

O estudo, hoje parcialmente divulgado à Lusa, envolveu 2610 cidadãos portugueses, em número igual de homens e mulheres, com idades entre 18 e 70 anos.

“A desconfiança é idêntica em todas as classes etárias, mas tem uma incidência significativa nos jovens e nos adultos”, salientam as conclusões deste estudo, que utilizou a denominada Escala de Percepção do Sorriso, elaborada pelo psicólogo Freitas-Magalhães, que se dedica ao estudo das funções e repercussões do sorriso no desenvolvimento das emoções e das relações interpessoais.

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Mal fora que os matemáticos se tornassem no único dono do mundo da Estatística. Seria o fim da alegria mundial, com tudo transformado em números cinzentos, e conclusões sem discussão!

A alegria da discussão, acompanhada por vezes de alguns tabefes, é o sal da vida. Se ela se resumisse a matemática pura que nos comanda na sombra, aliás, este mundo não teria graça nenhuma. A alegria deve vir sempre à superfície! E os psicólogos também têm aqui um importante papel a desempenhar...

Foi talvez por isso que a U. Fernando Pessoa resolveu gastar largas horas e muita massa neste estudo que deve ter achado de altíssima importância científica. Não sei se o terá ou não, ou qualquer utilidade prática. Aqui fica a minha dúvida sistemática, um dos princípios fundamentais do método científico, conforme me foi ensinado na escola e de que mais tarde pude comprovar a exactidão, em diversas ocorrências da minha vida académica, profissional e social!

Realmente, com inéditos estudos científicos destes, a economia do país está salva!!! A partir de agora, deveremos mostrar sempre cara de pau?! Mas já é o que temos! E nada de risinhos, segundo a U. Fernando Pessoa, que as pessoas desconfiam logo…

Quase pela certa haverá também que pedir ao Governo e à C.E mais uns subsídios, para suprir a falta de meios para continuar o estudo e as investigações e por aí adiante...Há que persistir em trabalhar na extraordinária, inédita, salvadora, estatística psicológica!

Tenho que aplaudir, no entanto, os eminentes professores psicólogos da Universidade Fernando Pessoa que com tanto ineditismo fizeram jus ao cargo que desempenham, pois nem ao F.P. cujo nome aproveitaram, e que foi bem genial em tantos escritos e situações, tal coisa passou seguramente pela cabeça. O esforço merece sempre um prémio.

Não resisto a fechar o texto com dois comentários, não meus, mas de dois leitores do jornal, que acompanhavam a notícia citada acima.

03.12.2007 - CARLOS SILVA, Almada

Então é necessário fazer um estudo para se chegar a esta conclusão que todo o lusitano já sabe? Senhores da Fernando Pessoa, por favor façam estudos daquilo que ainda não sabemos. Ora bolas!

03.12.2007 - Sousa da Ponte, UK

Bolas para estes sabões. Não preciso de nenhum estudo para dizer que as pessoas desconfiam dos políticos, estejam estes a rir, a chorar ou a cagar (que é o que mais fazem) para nós. E quando eles sorriem, desconfiem ainda mais. Vão mas é fazer bolas de sabão com o cu.

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