quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

COISAS DO ARCO-DA-VELHA

A ENTREVISTA, OS RECADOS E O LUCRO

Já várias vezes escrevi sobre recados, via Comunicação Social, a este ou àquele. Mas desta vez, lembrei-me de um caso ocorrido há uns tempos atrás, já pouca gente se lembra. O Inspector Geral da Administração Interna, não tendo coragem para expor directamente ao Ministro, os seus próprios problemas, resolveu mandar uns recados via entrevista a um distinto semanário, como agora vai sendo hábito, no aproveitamento simultâneo que este vem fazendo na capitalização em seu proveito, do descontentamento alheio…

Como resultado imediato, conseguiu por todos os sindicatos, organizações profissionais, partidos da oposição e outros, contra o desgraçado Ministro, desta forma obrigado a vir a terreiro quando não contava. Mas a vida de político é isto mesmo: bombos e festas por um lado, picardias e traulitadas por outro. «Quem não quer ser lobo, não lhe veste a pele», como diz o povo, na sua infinita sabedoria que cada vez aprecio mais.

Bem vistas as coisas, entrevistas e recados é o que está a dar na Comunicação Social. Geralmente, com este sistema mata dois coelhos, de cada vez. Por poucos patacos, enche umas boas páginas com temas que eventualmente vão agradar aos leitores superficiais e coscuvilheiros e, por via disso, consegue aumentar o número de leitores que eventualmente começava a decair…

Na realidade, a técnica para obter uma entrevista deste tipo tornou-se quase um lugar comum e nem necessita de estudos ou pesquisas. Com uma sociedade cada vez mais virada para o lucro fácil e o confronto de ideias superficiais -ou parvoíces – a propósito de tudo e de nada, com a correlação séria entre os factos e as notícias (que dá trabalho, inegavelmente) cada vez mais a perder terreno para a bisbilhotice e a intriga que todo o mundo apreende e explora num ápice sem qualquer esforço…a entrevista rasante e fofoqueira tem a vantagem de chegar facilmente a toda a gente e, ao mesmo tempo, servir ao entrevistado, via imprensa cúmplice, para escoamento de prosápias, ou de ressentimentos, ou de acusações aos inimigos de ocasião, mesmo quando convenientemente embrulhados.

Alguém, portanto, sai sempre sujo no retrato feito neste tipo de entrevistas. Provavelmente, em muitas delas, será esse o objectivo subjacente na artimanha jornalístico-informativa, o que é sempre deplorável. Pode ser quem está no ponto de mira, ou até vir a ser o entrevistado, por simples ricochete.

Mas numa coisa tenho que tirar o chapéu à Comunicação Social: saber tirar lucro a dobrar e nunca perder a embalagem para a próxima. Faz-me lembrar uma certa definição que li uma vez, há muitos anos, no Borda de Água:

«Judeu: indivíduo que, com uma pedra, mata dois coelhos…e ainda quer a pedra!»

Os judeus que me perdoem.

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