segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Crónica familiar...


PONTO DE VISTA

Hoje recebi uma opinião de um sobrinho com bastante cultura e um artista na escrita, em apreciação de alguns textos do blog. Referia ele que eu cada vez me fazia mais cáustico, sobretudo para a Comunicação Social, poupando os feitos dos governantes…certamente porque, perante os seus actos e as suas responsabilidades há sempre muito que dizer.

Está certíssimo. Não lhe tiro um grama de razão.

Mas há uma explicação para essa minha escolha. A Comunicação Social é que me põe ao corrente das notícias e não o Governo, a Autarquia, ou a Instituição, quaisquer que sejam a tendências partidárias, religiosas, profissionais, etc. E a minha experiência de largos anos abriu-me os olhos para as «malandrices» postas a circular através do papel de jornal, da rádio, da TV, e agora da Internet, umas vezes inconscientemente, outras propositadamente, a verdade é que cada vez mais repetidamente, quase constantemente!

Claro que a Comunicação Social repete permanentemente que é apenas o veículo das notícias e só pretende mostrar as virtudes ou defeitos da origem…mas, ocultando sempre as fontes, fica o rabo de fora do gato do sábio ditado popular…

A realidade, pois, é bem diversa. A Comunicação Social nem sempre se limita à transmissão verdadeira pura e simples das notícias e ao relato exacto dos factos, mas exerce uma actividade selectiva deles, usando critérios próprios; critica-os de acordo com as suas variadas tendências, conveniências, ou objectivos, quanto mais não seja tendo em vista o rendimento comercial imediato. Os artigos pagos e os anúncios encaixados são a garantia de vida da Imprensa escrita, oral ou televisiva. E, além disso, a propaganda subliminar exercida pela Comunicação Social é incomensurável!

Portanto, há que ter cuidado em extremo com o que sai na C.S., hoje em dia. E cada vez se torna mais difícil extrair a verdade de uma notícia, do embrulho em que nos é servida, por bem simples que pareça ser. Exagero? Não!

Ainda não falei, por exemplo, de alguma investigação jornalística superficial, medíocre e pouco fundamentada.

Ainda não falei, por exemplo, da avidez de transmitir notícias na corrida, antes do vizinho da concorrência, nem que para isso tenha que inventar-se uma passagem, antecipar-se uma hora, subentender-se um pormenor…chegando por vezes a noticiar-se, como tendo ocorrido, factos na realidade adiados ou inexistentes!

Ainda não falei das parangonas de acusação de pessoas, de lançamento de boatos, de ataques incríveis, directos ou encapotados a personalidades, órgãos de soberania, incluindo a própria Justiça, instituições, etc., tantos dos quais sem provas concludentes, baseados apenas nas «dicas» das célebres fontes ocultas…

Ainda não falei dos artigos pouco isentos ou até propositadamente tendenciosos de certos comentaristas, funcionando quase como anúncios de direcção única…

A Liberdade de Imprensa tudo permite. Ela é, nos regimes democráticos actuais, sobretudo um extraordinário e quase invencível poder, como é fácil constatar através da existência dos verdadeiros trusts dos EUA, da Itália, da Inglaterra, da Austrália…e do Portugal da pequena escala. A Imprensa é a notícia, mas principalmente o comando, a polícia, o fiscal e, simultaneamente, o acusador e o juiz impoluto e sem culpas. É falacioso pensar que um jornal, por exemplo, pode ser condenado por qualquer infracção à lei. Em algumas situações acontece, de facto, mas sempre sem grandes consequências. E no caso de haver vítimas caluniadas, é impossível indemnizá-las cívica e moralmente do mal que lhes foi feito e não tem preço.

Mas nem por um segundo sou contra a classe ou a profissão jornalística, tantas vezes sujeita às condicionantes actuais do cruel mercado de trabalho, como outras. Na Imprensa, como em tudo, há muitos e bons profissionais, outros nem tanto.

Finalmente, e para cúmulo, a grande Imprensa demite-se quase totalmente de grande parte das suas responsabilidades, impondo ao público o crime pormenorizado, o escândalo, a fofoca, sempre à frente da acção cívica e formadora das populações, coisa deixada, vamos ver até quando, à pequena Imprensa Regional ou local que sobrevive honestamente a duras penas.

Desta maneira, opto muitas vezes por deixar de lado uma possível crítica dos poderes constituídos, sejam governativos, autárquicos, institucionais, etc. A razão é simples: em primeiro lugar, uma crítica honesta e objectiva dessas entidades é sempre difícil, quando os elementos de base estão na posse dos eventuais criticados, no topo da hierarquia, geralmente com dados muito mais precisos e concretos que aqueles de que o cidadão comum pode dispor; em segundo lugar, os elementos que chegam às nossas mãos são aqueles que a Comunicação Social fornece, com transparência ou opacidade variáveis. É arriscado pois, honestamente falando, partir daqui para comentários além da superficialidade corriqueira, da maledicência pura, ou da fofoca política, sendo preferível esperar para ver…o que faz perder muitas vezes o sentido da oportunidade, está visto.

Por isso, é-me mais fácil e cómodo, egoisticamente falando, confesso, fazer comentários a certos comentários que deixam a porta aberta… e é rápido. Penso ter-me explicado.

Para terminar. Alonguei-me demais nos vícios da Comunicação Social. Poderia, já agora, como medida de compensação, avançar com a enumeração das suas enormes e incontáveis virtudes, se isso não fosse uma tarefa impossível…e desnecessária. Basta uma referência, em meia dúzia de palavras, para branquear largamente todos os defeitos que diariamente lhe atribuímos:

O Mundo não seria o que é hoje, sem a sua importantíssima intervenção. Nem pode viver sem ela.

Eu, muito menos!

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