sábado, 8 de dezembro de 2007

A Cimeira Europa-África

Comentário à opinião de um senhor comentarista de serviço...


Discurso de grande ingenuidade, o do Sr. J. M. S., do meu ponto de vista! Para se fazer qualquer coisa na área internacional, como em muitas outras, não chegam intenções piedosas, conceitos morais, nem guerras, mas há que promover consensos e estes só se conseguem partindo de ideias gerais que todos aprovam. Só daí é que se vai caminhando, passo a passo, para os casos particulares. Conseguir reunir líderes de países que convivem precariamente e à pedrada... é, só por si, um feito histórico da diplomacia portuguesa.

Falar abertamente, ao conjunto, de direitos humanos, de forma a ser ouvido e conseguir traçar algum fio condutor, já é uma tarefa quase sobre humana.

Tratar, ainda que ao de leve, dos problemas de emigração, incluindo a clandestina, com todas as suas misérias, de forma a obter um mínimo que seja de consenso e de benefício para estes pobres dos pobres que os países de origem enxotam e os de destino usam e remetem para bairros de lata…é uma acção de alto mérito.

Fazer um encontro de interesses económicos entre os dois continentes atrapalha o senhor comentarista-moralista?…Mas é o mais que poderia ter sido feito! Sem essa parceria, como foi resolvido chamar-lhe, nada mais conseguiria ser obtido. Nem inundando o continente de dinheiro! Rotular isto, simploriamente, de neocolonialismo, tal como foi estabelecido pelo comunismo antes da queda do muro, é confrangedor, mesmo que seja, como diz, para evitar que os chineses comam tudo. Cuidado, que ainda nos comem a nós, também!...

Mas há um problema muito mais grave e de importância capital, que o senhor J.M.S. parece ignorar, e que condiciona tudo o que de bom queira levar-se a cabo, no Continente Africano: a precariedade da maior parte dos governos dos seus países (qualquer que seja o regime, com Mugabes ou sem Mugabes) e até de vários estados soberanos. E, sem um mínimo de organização estatal-governativa, é impossível a resolução dos grandes temas que hoje assoberbam esta parte do mundo, e de que ele e toda a gente fala: o analfabetismo, a fome, as doenças como por exemplo a sida, a tuberculose, a malária, a escravatura e a emigração, a corrupção oficial e oficializada, a anarquia, a guerra e o genocídio (que grassam por todo o lado e não só no Darfur, na Somália ou no Congo…), e tantos, tantos outros que encheriam páginas.

Infelizmente, pois, só irão conseguir-se sempre, por muitos anos, com cimeiras ou sem elas, pequenos remendos num pano completamente esburacado…

Ao senhor comentarista faz pirraça que a «faxineira» presidência portuguesa obtenha currículo com uma cimeira em que «os líderes europeus e africanos vão brincar às casinhas»? Triste sina a nossa, em que o jornalismo nacional só tem bocas e canetas para desvalorizar o que fazemos e dizer mal do que é nosso, usando ainda por cima, giríssimo termo de caserna! …

Como dizem os brasileiros que, esses sim, nos vão colonizando devagarinho, sem cimeiras e sem o seu protesto:

Haja Deus!

A opinião de J.M.Santos, no C.M.de 7-12-2007 Os europeus querem apenas salvaguardar o que resta dos seus interesses económicos em África. Antes que os chineses comam tudo. Neste fim-de-semana os líderes europeus e africanos vão brincar às casinhas em Lisboa. Tudo numa boa. Para Portugal ver e suportar os condicionamentos do trânsito. Mas porquê este folclore? Discutir África e as suas relações com a Europa teria necessariamente de passar pela discussão dos grandes problemas dos africanos. Fome. Mortes por inanição. Sida. Tuberculose. Malária e todas as outras doenças não mortais, mas que em África continuam a matar. Analfabetismo. Escravatura de homens, mulheres e crianças. A esperança de vida ultrajante. A cleptocracia florescente essencialmente nos países produtores de petróleo. Todo o tipo de corrupção. Mas não……………………. A presidência portuguesa, que felizmente está no fim, cumpre um ciclo de faxineiro desejoso de mostrar serviço. Ficará contente se nada der para o torto e não tem mais aspirações

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