domingo, 30 de dezembro de 2007

À BEIRA DO FIM DO ANO


Barrigas de aluguer à hora

Ontem abri a correspondência do correiodamanha@news.xl.pt e fiquei siderado.

Os títulos das notícias apresentadas eram rigorosamente os seguintes:

Gripe das aves já mata entre humanos

Engravidou menina de onze

Violador detido em flagrante pela PSP

Constâncio abre processo criminal

Portagens sobem 3% para ligeiros

Sovado até à morte

Laranja amarga no preço

Família desviou um milhão

Al Qaeda matou Bhutto

Nem uma notícia alegre ou, pelo menos, decente! Mas, pior que isso, era a descrição pormenorizada e, nalguns casos, propositadamente repetida ao longo dos próprios textos, de cada uma dessas notícias onde a sujeira, a pouca vergonha, a imoralidade total, o radicalismo sem contemplações eram postos a nu com insistência, como se nós não estivéssemos todos fartos dessas porcarias até à medula dos ossos! Ou ainda haverá alguém que não esteja?

Na realidade, que têm feito os senhores da C. S. durante estes anos todos, senão bombardear os leitores e os ouvintes com estas tristezas, a todo o momento e cada vez mais, com a justificação peregrina de que têm o dever de informar, já que a sua liberdade de informação é ilimitada e não pode ser coartada em nome seja do que for, porque os clientes exigem uma informação completa, isenta, de todos os factos…

Exigirão de facto?

Não conheço o Código Deontológico dos Jornalistas. Apenas conheço o Código Geral do Bom Senso que é comum a todos os humanos. E ele diz-me que informar provém de formar. Também me diz que, a informar, se pode desinformar, deformar e muitas outras coisas mais. Por arrastamento, já agora, também se aprende, mesmo sem querer, que a própria palavra formar pode ser utilizada com sentidos menos dignificantes, moralmente falando.

Não vale a pena alongar-me neste lamaçal de porcarias em que a C. S. justificadamente, segundo clama, se mete e quer meter-nos à força, pois não acredito que o cidadão comum bem formado goste de chafurdar nelas, de livre vontade...Fá-lo porque já quase não lhe deixam alternativa! As coisas boas quase não são publicadas, ou são-no com relevo diminuto.

Ontem, pois, ficara sem coragem. Hoje, último domingo do ano e um pouco mais animado, resolvi pesquisar na net qualquer coisa de jeito, na barafunda das notícias….

Para não variar muito, e talvez pela força do hábito, fui direito aos artigos de opinião dos nossos diários ditos de referência. Saltou-me aos olhos, imediatamente, o tom crítico dos franco atiradores encartados, com os seus artigos apontando a tudo o que mexe, fuzilando os seus inimigos de estimação em serviço, naquela senha partidária que na sua cegueira chamam isenção e que caracteriza os invejosos que nada criam, mas tudo deitam abaixo, na sua filosófica sapiência moralista de terra queimada em que, se não é para mim, não é para mais ninguém…Ou então, na sua fingida humildade: só eu sei que nada sei…mas os outros ainda sabem menos!

Depois de correr as diferentes capelinhas da elite jornalístico partidária, seleccionei um artigo de N. B. S. no Diário de Notícias, porque o seu título condizia um tanto com a passagem do ano tradicional e não me arrependi. Chamava-se «À beira das doze passas» e não metia guerras, assaltos roubos, corrupção, mas apenas fazia uma recolha das últimas e anedóticas tricas partidárias produzidas sobre o BCP e a CGD. Do mal o menos, apesar de já estar farto desta guerra de fofoca e respectivos comentários oportunistas que não é a minha. Mas foi o melhor que consegui. Parabéns ao N. B. S!

Saltei para o Público e, logo a frase da semana chamava a atenção para: «A cabeça dos portugueses», da autoria de V. P. V. E não resisti a imaginar o belíssimo espectáculo que se antevê na frase:

"Olhando para a televisão e para os jornais do fim do ano é verdadeiramente desolador verificar em que é que os portugueses ocuparam a cabeça em 2007."

Não pude ler o artigo de opinião, porque o Público só permite, estrategicamente, a sua leitura aos assinantes e eu já estou velho para me enfeudar a grupos que se arvoram de liberdade plena, sempre apregoada, mas encapotadamente a mantêm condicionada. Mas não devo errar se disser que se trata de mais um texto derrotista de bota-abaixo, com que este articulista usa mimar-nos.

Também já não tenho pachorra para comentar esses quadros derrotistas sistemáticos de quem parece que não sabe escrever doutra maneira ou sobre mais nada…e é pena, porque sabe, eu sei que até sabe e bem!

O último título que seleccionei vem em vários jornais e refere-se a uma graçola de A. B. na TV. O A. B. desde há uns anos a esta parte, quase só se dedica a zurzir em todas as direcções, mas especialmente naquela que engloba o partido que está no Governo, de que ele até já foi ministro, há bastantes anos:

«Sócrates foi a barriga de aluguer…» de Angela Merckel !

Já tinha ouvido e lido vários mimos ao Primeiro Ministro, a propósito das coisas mais diversas. Os sindicalistas, por exemplo, e o povo sofredor chamam-lhe ladrão, de vez em quando; as oposições e os patrões, aldrabão e mentiroso! Os juízes chamam-no tirano e anticonstitucionalista; os professores e os universitários, ignorante. Há dias, um senhor do C. M., despeitado pelo êxito de Sócrates na cimeira de Lisboa, chamava-lhe o faxineiro de serviço da C. E., entre outras formosuras.

Mas essa de barriga de aluguer, é o máximo! A P. M. alemã era a Mãe legítima do tratado, ela é que tinha feito todos os esforços para concebê-lo, Sócrates não passava de um oportunista, candidato a ganhar uns tostões, uns encómios…etc., que o seu trabalho e o de Portugal, ao contrário do que dizia a propaganda, fora zero! Fiquei muito triste. Mais triste do que quando ouvira alguém dizer, uma semana atrás, que Portugal, isto é, o Sócrates, tinha tirado o coelho da cartola…e depois já não tinha tirado, etc.

Portugal está bem entregue, nas mãos de tais «expert» da política jornalística caseira, como agora se diz no inglês da América que nos vai colonizando, a par do Brasil, querendo significar hábil, perito, conhecedor, autorizado, versado, entendido, experto, do latim expertu, donde provem o nosso idioma e a tal palavra inglesa usada na imprensa lusa a torto e a direito! Mas expertu (ou melhor expergitu) também deu, em português a palavra esperto, no sentido de acordado, fino, activo, vivo, vivaço, astuto, matreiro! É neste sentido que devem ser chamados os citados derrotistas de serviço em actividade, pois nestes tempos de inseminação artificial, já não há inconcebíveis! E expertos, cada vez eles me parecem menos…

Façamos votos para que o Novo Ano de 2008 seja melhor que este que amanhã acaba, com este governo ou com outro qualquer, que não estou inscrito em nenhum partido, corporação, maçonaria, ordem religiosa, loby empresarial ou bancário, ou sequer alguma capelinha de interesses ocultos…Faço a gestão muito, muito cautelosa da minha reformazita e já chega. Até que Deus queira!

E que viva Portugal, para além de certos sábios, faxineiros e chico espertos em barrigas de aluguer que se perfilam por aí, a escrever artigos à hora!

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