segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Crónica dos dias de hoje

PEQUENA HISTÓRIA


Há dias, um dos meus netos a quem os pais deram um telemóvel, apesar dos seus sete anos, o qual maneja com uma perícia que me deixa a um canto, ficou muito zangado quando lhe restringi o seu uso, devido ao saldo já quase no fim.

-Avô, vais ao multibanco, é fácil...

-Isso é que era bom. Não tenho dinheiro para isso!

-Avô, então deixa-me ligar à mãe, que ela carrega no multibanco, num instante!

A minha mulher ficou siderada.

-Estes miúdos agora...

Não permiti que concluísse. Virei-me para o meu neto e atirei, com ar censório:

-Miguel, quantos anos tens?

-Sete, avô.

-E já tens um telemóvel! Sabes tu com que idade o avô teve o primeiro telemóvel?

-Sei lá?!...

-Aos setenta!

A minha mulher fez um rápido assentimento de cabeça, mas não surtiu qualquer efeito.

Eu ainda propus conversa com os pais, pelo skype e outras alternativas similares. Mas ele abanava sempre a cabeça, até que disparou, mais uma vez, como se eu não tivesse ouvido a primeira:

-Ó avô, deixa-me ligar para a mãe...

-Não, Miguel, já quase não tens saldo.

-Então envio uma mensagem!

Fiquei sem coragem para continuar. Abandonei o combate, sorrateiramente, fugi para a sala contígua, peguei no meu telemóvel e comecei a fazer tentativas de aprendizagem para tentar eu próprio mandar mensagens...

Até agora, não tenho a certeza de ter conseguido fazê-lo com rapidez, mecanicamente, como ele o faz!

Às vezes lembro-me do D. Afonso Henriques, da sua valentia e dos seus reais, enormes problemas. Aos olhos do meu neto, se vivesse ainda, seria certamente mais nabo do que eu. E a D. Tareja, muito mais!

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