PEQUENA HISTÓRIA
-Avô, vais ao multibanco, é fácil...
-Isso é que era bom. Não tenho dinheiro para isso!
-Avô, então deixa-me ligar à mãe, que ela carrega no multibanco, num instante!
A minha mulher ficou siderada.
-Estes miúdos agora...
Não permiti que concluísse. Virei-me para o meu neto e atirei, com ar censório:
-Miguel, quantos anos tens?
-Sete, avô.
-E já tens um telemóvel! Sabes tu com que idade o avô teve o primeiro telemóvel?
-Sei lá?!...
-Aos setenta!
A minha mulher fez um rápido assentimento de cabeça, mas não surtiu qualquer efeito.
Eu ainda propus conversa com os pais, pelo skype e outras alternativas similares. Mas ele abanava sempre a cabeça, até que disparou, mais uma vez, como se eu não tivesse ouvido a primeira:
-Ó avô, deixa-me ligar para a mãe...
-Não, Miguel, já quase não tens saldo.
-Então envio uma mensagem!
Fiquei sem coragem para continuar. Abandonei o combate, sorrateiramente, fugi para a sala contígua, peguei no meu telemóvel e comecei a fazer tentativas de aprendizagem para tentar eu próprio mandar mensagens...
Até agora, não tenho a certeza de ter conseguido fazê-lo com rapidez, mecanicamente, como ele o faz!
Às vezes lembro-me do D. Afonso Henriques, da sua valentia e dos seus reais, enormes problemas. Aos olhos do meu neto, se vivesse ainda, seria certamente mais nabo do que eu. E a D. Tareja, muito mais!
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