Armas e assassinos não assinalados
As escolas cada vez ensinam mais novidades, as novas tecnologias cada vez mais enchem as nossas cabeças, as nossas vidas cada vez mais se encontram dependentes dos avanços da Ciência. Se alguém ainda tiver dúvidas a esse respeito, bastará lembrar-lhe que a esperança média de vida passou de 55 anos nos meados do século passado, para os 80, nos nossos dias.
A Ciência e a Tecnologia são o motor do progresso da humanidade e, se algo corre mal, na nossa vida em sociedade, não podemos culpá-las disso, mas apenas do mau uso que delas fazemos.
Sucede ainda que, ao progresso da Ciência, nem sempre corresponde igual progresso na educação, na moral individual, no civismo e na convivência das populações. Por outro lado, à dispersão rural das populações que ocorreu durante milhares de anos, seguiu, a partir dos fins do século XIX, a concentração nas áreas urbanas, formando-se verdadeiras colmeias humanas extraordinariamente organizadas, mas com novos e mais graves problemas.
O contacto entre as gentes, nas escolas, no trabalho, nos meios de diversão e de transporte, tornou-se sempre mais absorvente, exigindo cada vez mais do seu civismo, das suas convicções morais. O tempo gasto na escola, no trabalho e nos transportes é cada vez maior, e o que sobra para a família e o lazer, cada vez mais exíguo. Em casa, como se isso não bastasse, a privacidade da vida familiar é invadida pelos meios de comunicação social, não restando tempo para um contacto mínimo entre os membros da própria família ou os amigos mais íntimos. A desagregação da vida familiar é evidente. A moral, a tolerância e o amor do próximo vão-se tornando autênticas miragens, em certos meios sociais ou em determinadas situações, vítimas de uma concorrência feroz que se tornou a principal razão de ser para muita gente…
E, como se tudo isto não bastasse, alguns arautos de medidas radicais vão instilando subliminarmente, nas camadas jovens que procuram cativar, atitudes de despotismo e de crueldade apenas compatíveis com a Idade Média, ou ainda o uso de drogas proporcionando cenas de prazer e violência inauditas, através da destruição da própria personalidade.
A facilidade com que se adquirem armas de fogo, legal ou ilegalmente, na maioria dos países civilizados, parece estar em consonância com o progresso. Nunca tantas armas estiveram nas mãos de tantos, como nos dias de hoje. Não admira, pois, que, de vez em quando, algum anormal prima o gatilho, sem respeito pelo seu semelhante e até por si próprio. É de admirar, pelo contrário, que sejam tão poucos os anormais que se revelam.
Hoje, quase em simultâneo nos EUA e na Alemanha, dois países com o nível de vida mais elevado do mundo, dois energúmenos ainda jovens resolveram, inexplicavelmente, disparar sobre familiares e sobre colegas de escola, causando dezenas de mortos e feridos, deixando as respectivas populações em estado de choque. Ainda há poucos meses aconteceu algo semelhante numa escola da super educada e cívica Finlândia.
Estes acontecimentos deixam os educadores de todo o mundo a interrogar-se sobre o por quê de tais ocorrências, em países que caminham na frente do progresso e do bem-estar, onde a Ciência e a Tecnologia comandam a vida das populações e dão orientações para o mundo inteiro.
Não faço ideia da conclusão a que terão chegado.
Uma coisa é certa: o radicalismo, seja de optimismo exagerado ou de profundo desespero, nunca é bom conselheiro, para o que quer que seja. As armas nunca puderam resolver, sozinhas, qualquer problema. Pelo contrário, postas nas mãos dos déspotas, ou de assassinos não assinalados, só servem para causar desgraças ou aumentar as existentes. Como controlar as armas e prevenir os crimes dos assassinos? Todos falam, mas ninguém dá a solução, porque não é fácil.
Perante estas situações aberrantes, apetece voltar à Idade da Pedra.
Por momentos esquecemo-nos de que o mundo é povoado, actualmente, por mais de seis biliões de seres humanos…
Pena é que, no meio deles, habitem algumas ovelhas ranhosas.
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