sábado, 7 de março de 2009

CÁ, COMO LÁ!


Depende só das circunstâncias

A propósito de Mourinho, que a imprensa italiana ataca sem piedade porque falou alto de mais sobre o que ela não gostaria de ouvir, há que dizer que o homem é frontal e sincero, que retribui sempre os mimos que lhe arremessam com pedras de grande calibre, sem medir a largura das testas para onde faz a pontaria, sem medo no arremesso nem arrependimento pelos estragos. Em certas ocasiões parece um David, acertando na fronte do Golias e deixando-o rasteirinho.
O Mourinho que está a fazer mossa na Itália já disparou a funda na direcção certa, mas não derrubou um adversário matreiro que não é o Golias da força bruta e pesadão que a Bíblia nos mostrou. Veremos se consegue esquivar-se à próxima cacetada do Golias e se lhe sobra tempo para apontar de novo a fisga. Quem vai à guerra dá e leva, mas já deve ter percebido que os artistas italianos não são pêra doce, tanto no futebol como no jornalismo desportivo. Só poderão ser derrotados com as mesmas fintas e matreirices que eles usam.
Pessoalmente, para além dos seus méritos inegáveis de treinador de futebol, penso que o Mourinho deveria ter um pouco mais de contenção naquilo que diz, independentemente de ter ou não razão. Fazer gala de frontalidade nem sempre é o melhor caminho para resolver problemas complicados e revela, por vezes uma tremenda falta de educação.
Curiosamente, por cá, a nossa imprensa defende agora o herói nacional com unhas e dentes. Diz um conhecido comentarista, acerca da célebre «prostituição intelectual» com que o nosso homem brindou os seus detractores, reforçando a ideia:
Meia Itália do futebol ficou escandalizada com o que Mourinho disse sobre os árbitros. Algumas das mais impúdicas virgens do futebol e do jornalismo desportivo italiano vieram dizer que o treinador português foi "longe de mais". É, na verdade, um ‘escândalo’ que tem a singularidade de elevar o cinismo a níveis estratosféricos e dizer mais sobre o poder, seja ele qual for, do que o melhor tratado sociológico do Mundo. José Mourinho tem toda a razão quando se mostra contra o que chama "prostituição intelectual».……………………………………………………………………………..................................................................................................................................................Tudo Tudo o mais é inveja pura do ‘portoghesi’, que em Itália quer dizer borlista e obviamente não rima com Mourinho, que se arrisca a ser campeão contra toda a ‘aristocracia’ futeboleira que vive meramente do amiguismo com Berlusconi, e companhia.
Mourinho é, pois, tratado, defendido e ovacionado pelos seus, como um herói, num nacionalismo muito à portuguesa que envolve no mesmo saco um país estrangeiro, a sua imprensa, o seu futebol e até o seu governo…Tudo isso que ali se afirma será certo.
E no entanto, uma dúvida paira no ar: que diria a imprensa portuguesa se o caso ocorresse em Portugal e o Mourinho fosse treinador de um dos grandes do futebol nacional, especialmente do Porto?
Certamente não faria os mesmos elogios, antes reagiria igualzinha à imprensa italiana…
E se em vez do Mourinho fosse o Scolari, ou o Quique Flores?
Cá, como lá!
Só depende das circunstâncias…

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