terça-feira, 24 de março de 2009

OFFSHORES E COISAS PIORES


É tão lindo o maganão!

Alguém descobriu que um quarto das riquezas privadas de todo o mundo estava na mão de offshores, o que equivalia a dizer que, se todos aqueles que depositam o seu dinheiro em paraísos fiscais pagassem impostos, daria para cobrir os Objectivos do Milénio, definidos pela Organização das Nações Unidas (ONU). Poderemos fazer uma ideia dos valores em causa? Provavelmente, não. Os paraísos fiscais são muito numerosos, as suas contas são fechadas ao comum dos mortais, os circuitos dos dinheiros ali depositados nunca é confessado, os nomes dos beneficiários das contas são segredos muito bem guardados, porque o segredo é a alma de todo este negócio. O problema dos offshores se fosse resumido apenas às fugas ao fisco, seria já um golpe muito sério nas economia das nações mas, por detrás deste subterfúgio que rotula o sistema, aparecem, ou desaparecem estrategicamente, muitos outros negócios obscuros, entre os quais a lavagem de dinheiro sujo vem à cabeça, como as luvas do narcotráfico, do contrabando de tabaco e diamantes, enfim, de mil e um negócios ilícitos, na maioria dos quais o processamento através da Internet torna praticamente impossível descobrir a sua origem e o seu rasto posterior.
Não sou perito nestas matérias que há pouco tempo ainda desconhecia totalmente, mas o que consegui apurar das notícias ultimamente vindas a lume, permite-me fazer um quadro negro da situação do país, no que a esta aberração contabilística se refere. Realmente, Portugal, como pequeno país, também neste item dos meandros da banca privada, não sobressai. Mas países ainda mais pequenos são sedes de offshores que deixam localmente enormes riquezas, colocando-os, como acontece com o Luxemburgo, por exemplo, no topo dos de maior produto interno bruto do mundo inteiro.
Ao cidadão comum custa a aceitar que assim seja, isto é, que um país, uma ilha, uma cidade, se transformem em paraísos fiscais onde são «lavados» e postos a render de forma legal, mas secreta, os fundos geralmente ganhos de forma ilícita na maioria dos países que têm falta de capitais para o seu próprio desenvolvimento e lutam desesperadamente para consegui-lo, através de inúmeros problemas de índole social, sanitário, económico, educacional, etc.
Não andaremos longe da verdade se considerarmos os offsores como uma das principais causas da grave crise financeira e económica em que o mundo se precipitou. E ainda há, por esse mundo fora, mesmo assim, quem apoie o sistema e não se atreva a modificá-lo, acabando de vez com esta verdadeira anomalia. Certamente, é legítimo pensar, agem sob a poderosa influência dos que dela se aproveitaram ou ainda dela retiram os seus enormes e imorais lucros…
Do ponto de vista estritamente moral, a existência dos offshores fiscais é absolutamente indefensável, ainda mais no mundo globalizado e sem fronteiras em que vivemos. O próprio Papa já se referiu a essa imoralidade, e parece que está para breve a publicação de uma encíclica sobre o tema, o que não quer dizer que o problema fique resolvido, dado o materialismo feroz e ditatorial da Humanidade, nos dias de hoje.
Também em Portugal, Nação onde tudo o que de bom ou de mal se copia do estrangeiro, para não perder o comboio da civilização, ou da barbárie, alguém decidiu autorizar a instalação de um offshore na ilha da Madeira, certamente na mira de caçar as benesses daí provenientes para o progresso interno, mas certamente ninguém fará ideia, actualmente, da quantia aproveitada pelas autoridades legais em benefício da população.
Desde há vários dias que a imprensa nacional se diverte a publicitar certos documentos enviados pelo líder da extrema-direita dentro de um cobertor colocado de forma anónima à sua porta, referentes a contas em offshores, de um familiar do Primeiro- Ministro, nas Ilhas Caymann, datados de 2001. Não sei qual o valor desses documentos, perante as autoridades judiciais, mas a intenção não foi tanto a de descobrir as imoralidades possíveis, mas a de tentar relacionar com elas o PM., porque ele não é intocável. Mas tudo fica por aí. Interessaria igualmente saber quantos portugueses que se dizem de gema andam embarcados neste mar encapelado, a que níveis, com que funções públicas ou privadas, tratando de emagrecer a Nação enquanto eles próprios engordam extraordinariamente. É tão lindo o maganão!
Seria interessante, por exemplo, descobrir como pessoas de baixos rendimentos e pequenos salários, ainda há quinze ou vinte anos rogando favores, movimentam hoje grandes contas, ostentando sinais de riqueza que fazem inveja aos portugueses em geral, e também a outros detentores de riqueza, legal e correctamente adquirida. Os offshores devem ter nestes casos, têm de certeza, um papel sujo que deve ser tirado a limpo, porque o caso do BPN, tenhamos a certeza, é apenas a ponta de um grande iceberg onde a Justiça parece ter encalhado, como aconteceu com outros de igual tamanho, noutras áreas da sua responsabilidade… E há quem diga que as consequências destas falhas da Justiça são coisas talvez piores que os próprios offshores!
Apesar de tudo, ainda creio em Portugal e penso que a grande maioria dos portugueses devem crer, para além destas e doutras enormes dificuldades. Se fosse um derrotista inveterado, limitar-me-ia a gritar pelo megafone:
-Salve-se quem puder!!!
Ora dessa maneira, está bem de ver quem é que iria salvar-se, enquanto todos nós nos afundaríamos sem remédio.

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