Falar alto tem custos elevados
Agora, provavelmente à falta de melhores notícias, tomam-se as palavras de Mourinho como prato forte, em Itália, enchem-se páginas de comentários, tecem-se acusações, ameaças de julgamento e de expulsão do português atrevido e cheio de prosápia que gritou alto de mais que «o rei vai nu» …
A Bela Itália da Arte insuperável na Pintura, na Escultura, na Arquitectura que se manifestam por toda a parte, até à saturação, também mostra a sua excelência em variantes menos nobres, mas com igual esplendor, como a Música, o Cinema, a Gastronomia, o Futebol…É certo que todas as nações têm coisas boas e más, mas poucas apresentam ao estrangeiro tanta variedade e discrepância entre elas e com tanta intensidade, como a Itália. É lá que tem sede o Pontifex Maximus, e também o Padrinho da Cosa Nostra.
Na terra do «Cálcio» e dos «Tifosi», os césares da política, os apoderados do futebol e os jornalistas encartados formam uma tríade que comanda o país, por eleição e também um pouco por apatia de um povo de artistas espantosos, com idiossincrasia muito particular, fruto duma história ímpar e duma localização geográfica na maior encruzilhada de civilizações de todos os tempos.
Os italianos são artistas insuperáveis! Admiro-os por isso e, sobretudo, porque conseguiram, no meio das suas discussões sem fim, da multiplicidade de governos, da corrupção quase transformada em arte profissional, e de um sem número de defeitos muito latinos, sempre levados ao extremo, alcançar um nível de prosperidade e bem estar invejáveis, conduzindo a Itália ao grupo dos países de maior economia, no mundo inteiro. Que fariam da Itália, se conseguissem reduzir a metade os seus maiores defeitos?
Mas provavelmente, deixariam de ser artistas! E a Itália deixaria de ser o que é, como diria La Palisse.
Vem esta minha apreciação patusca e superficial a propósito das tais palavras de Mourinho, o Papa do Futebol Português que tomou a Itália de assalto, mais facilmente que João XXI, na Idade Média. Mas mandar bocas, na Itália da Tríade, é mais complicado que mandar rezar padre-nossos e avé-marias…O futebol nacional italiano é mais intocável que o próprio Papa. Mourinho vai ter grandes dificuldades, se não desviar para a sanita o que deitou cá para fora sobre certos árbitros, clubes de futebol e jornalistas italianos. Ele já passou por situações difíceis na Inglaterra e venceu. Mas na Itália, o jogo, como a imprensa, são muito mais subtis e complicados que na Inglaterra de futebol e jornalismo muito mais directos e acutilantes. Por alguma razão a Itália já foi três vezes campeã do Mundo de Futebol, e a Pátria do Futebol, apenas uma.
Estou para aqui a falar mal da imprensa italiana, mas a imprensa portuguesa segue-lhe os passos. Mourinho, se dissesse o mesmo, em Lisboa ou no Porto, já estava amarrado ao pelourinho.
Lá, como cá, falar alto tem custos elevados.
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