sexta-feira, 27 de março de 2009

OS RATOS DECIDEM


O governo obedece

Hoje mesmo, a Lusa deu a notícia de que o Governo tinha desistido de uma estrada, em Trás-os-Montes, travada pela presença de uma colónia de ratos de Cabrera, protegidos pela UE, tendo optado por outra solução, devido aos inúmeros condicionalismos ambientais.

Vimioso, concelho limítrofe de Bragança e de Miranda do Douro, tem cerca de 5000 habitantes e 14 freguesias, três das quais ainda praticam o dialecto mirandês. A vila de Vimioso, sede do concelho, não possui mais de 1200 almas. Nestas condições, dado o isolamento e o esquecimento a que as gentes têm sido votadas, e a enorme falta de recursos, qualquer melhoramento que o Governo possa fazer em seu benefício será sempre bem vindo, quanto mais uma estrada de ligação de Outeiro ao Vimioso. No entanto, embora a nova estrada esteja incluída num pacote de melhoramento das acessibilidades que abrange ainda as ligações de Rio de Onor e Vinhais a Bragança, José Rodrigues, presidente da Câmara de Municipal de Vimioso, não sabe se será desta que a estrada que ficou célebre graças ao rato cabrera - por se supor que existia no local uma colónia daqueles animais, o que inviabilizou um projecto - irá desencravar.

Desde 1995 que já foram realizados vários estudos, nenhum saiu do papel. "Vamos ver se não é mais um", vaticinou.

E aí está como uma colónia de muito espertos ratos transmontanos inviabilizou durante anos uma estrada e mandou o Governo às urtigas. O presidente da Câmara de Vimioso ainda não está certo, portanto, de que a obra vai ter luz verde...

Não seria de admirar. Os ratos são animais determinados. Reza a História que um rato roeu a rolha da garrafa do rei da Rússia, e muitos outro, na Idade Média ou mesmo depois, foram os principais veículos de transmissão da peste que periodicamente dizimava as populações, como até em Lisboa aconteceu algumas vezes.

Agora, certamente porque a peste bubónica está quase erradicada na Europa e já ninguém se assusta com os ratos, como antigamente, não por acção das ratoeiras há muito caídas em desuso, mas pela prática da higiene e pelo uso eficiente dos raticidas da Bayer ou da Monsanto, a UE rabiscou uma directiva protegendo os ratos de cabrera, que devem ser tratados e preservados como animais de estimação, mesmo que para isso sejam inviabilizados caminhos ou estradas de comunicação entre povoações votadas ao abandono.

Até aqui, nada de novo. Quem projecta estradas, pontes ou túneis, deve abster-se de assustar a bicharada que circula nos campos vizinhos e nada mais. Manda a Ecologia.

Assim, depois de termos assistido à construção de viadutos enormes, a quilómetros de desvios aberrantes, ao congelamento de obras prioritárias de vulto, à montagem de barreiras defensivas, e à importação de candeeiros especiais (neste caso por causa das aves migratórias que agora nos trazem o vírus H5N1), das lagartixas que apanham moscas distraídas, dos linces invisíveis, dos sapos que coaxam alto e dos coelhos a que os caçadores chamam um figo, quando os apanham a jeito, etc., que mais poderíamos esperar?

Vale a pena referir, mesmo de raspão, as incidências ocorridas com a Ponte Vasco da Gama, o atravessamento do Rio Sado, perto de Alcácer do Sal, pela Auto-estrada do Sul, os problemas junto de Castro Verde e da Serra do Caldeirão, a qual se salvou milagrosamente de ser atravessada por um túnel quilométrico, à custa de umas quantas alterações bizarras ao trajecto inicialmente previsto, e a uns tantos desvios manhosos...

Ao lado destas ou doutras dispendiosas e demoradas ocorrências, as peripécias ocorridas com a estradita de terceira ordem a construir no Vimioso, são anedota pura.

E no entanto, neste caso, uma simples colónia de ratos, ecológica e «presumivelmente» referenciada, conseguiu valer mais que uma «vilória» de 1200 habitantes, ou mesmo um concelho de 5000, que necessitam de acorrer às Urgências Médicas de vez em quando...ou então o bom senso é uma batata.

Aqui, não há discussão possível.

Os ratos decidem e o Governo obedece. E é se quer... Caso contrário, eles apelam para a UE.

Não devemos rir. A Ecologia é uma coisa muito séria e deve ser tomada, sempre, como tal

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