Crónicas e comentários é um conjunto de textos baseados, maioritariamente, nas notícias vindas a lume na imprensa, mas também em outras variadas fontes e julgadas interessantes de apreciação pelo seu autor, independentemente do conteúdo.
Existiam em Portugal mais de dois milhões de fumadores, segundo dados do Inquérito Nacional de Saúde, de 2005. "Um estudo feito por uma empresa científica" parece indicar que esse número deve ter baixado pelo menos 5%, num ano de aplicação da lei antitabaco, o que equivale a cerca de 100.000 fumadores. Também «22% dos fumadores alteraram os seus hábitos, fumando, em média, menos nove cigarros por dia.»
Isto significa uma descida extraordinária na prevalência do tabagismo em tão pouco tempo e um benefício visível nas condições de saúde dos portugueses, em geral. Mas não nos pode fazer esquecer a confusão que se estabeleceu na sociedade portuguesa, um tempo antes antes e logo após a promulgação da lei.
Antes, foi a gritaria dos fumadores que viam o seu vício dificultado no futuro, sendo ainda obrigados, coisa que nunca lhes tinha passado pela cabeça, a não fazer fumar os que nunca tinham querido fazê-lo. Numerosas vozes se ergueram em defesa do fumo do tabaco, apenas condicionado à vontade do fumador inveterado. Chegaram alguns comentaristas encartados, do alto dos seus púlpitos, a culpar a lei de atentado à sua liberdade, passando por cima da liberdade dos não fumadores que eles próprios, sem respeito nenhum, obrigavam fumar, à força, com total impunidade.
Depois, foi um levantar de problemas de toda a ordem, nos locais de trabalho, nas salas de espectáculos e de reuniões, finalmente nas lojas, nos cafés e restaurantes, onde os fumadores eram praticamente os ditadores absolutos e incontestados.
Para culminar, foi metida no circuito a ASAE, culpando-a, a torto e a direito, de exageros na fiscalização, da perda de negócios do pequeno comércio, da caça à multa e muitas outras coisas mais.
Paulatinamente, a lei começou a ser cumprida, com protestos aqui e ali, até à sua aplicação correcta. Hoje, 94% da população entende que a nova lei protege a saúde. E um terço dos inquiridos (35 por cento) está de acordo com as restrições impostas, que a entrada em vigor da lei teve efeitos benéficos na melhoria da sua saúde, sobretudo para quem sofre de asma, alergia e rinite...
Ainda bem. Chega de desatino e confusão.
Vai sendo tempo das pessoas compreenderem que, em democracia, não podem fazer tudo o que querem. Melhor, é tempo de compreenderem que têm deveres a cumprir, a esforçar-se para corrigir os seus vícios e, não sendo possível, agir ao menos de forma a não prejudicar os seus vizinhos que não têm culpa disso...
Também não faria mal nenhum à nossa sociedade, nesta entrada do ano 2009 que agora se aproxima, se uma certa publicidade maldosa, um certo tipo de discurso agressivo e uma certa postura egoísta fossem mais honestos, mais comedidos, muito menos exuberantes.
Tenho em cima da mesa o Dicionário da Língua Portuguesa 2009, da Porto Editora.
Já o comprei há dois meses e não sei quantos mais terá de impresso, porque não diz. Mas também não importa muito, porque é de 2009, para 2009 e para depois de 2009, não sei por quanto tempo.
A curiosidade deste dicionário é que já traz as duas grafias, antes do acordo (aAO) ortográfico e depois (dAO)...É óptimo (aAO) ou ótimo (dAO), conforme se queira, até que a grafia acordada seja tornada obrigatória.
Sempre assim aconteceu com todos os acordos ortográficos, pela impossibilidade de aplicar uma nova ortografia de forma instantânea, como muitas pessoas pensam.
Também não é nenhuma tragédia o acordo ortográfico, como outros tentam fazer crer. Desde 1911 houve várias alterações e acordos, e à falta de maleabilidade e teimosia de alguns «sábios» se deve a existência de muitas das divergências de hoje, nas versões brasileira e portuguesa do idioma. Penso que este acordo, não sendo o óptimo para cada uma das partes, é uma acção de grande importância linguística e política, para todos os países da língua portuguesa. Tudo o resto é pura defesa de interesses mesquinhos, de vistas curtas, sob a capa de princípios de ética ou de defesa de étimos que, desde D. Afonso Henriques, têm vindo a ser alterados, a gosto ou a contra gosto dos entendidos ou das academias. E o importante, sempre que há alterações, é que todos saibamos escrever português conforme fica estabelecido e compreendido, nos países de língua oficial portuguesa e fora deles, com especial relevância para as altas instâncias internacionais.
Desde que me conheço, já passei por algumas transformações ortográficas. Longe de mim voltar a escrever como nos meus tempos de menino, de estudante de liceu, ou mais tarde ainda...
Parece-me que este acordo ortográfico (ratificado em Portugal pela quase totalidade dos deputados em Maio de 2008) é, sobretudo, confluente e corajoso, em oposição às tímidas, paralelas ou até divergentes modificações feitas no século XX, permitindo desta feita a unificação da escrita do Português, como exige a Grande Pátria Lusófona, à semelhança do Inglês, do Francês e do Espanhol.
A aplicação de um acordo deste tipo é coisa complicada, envolverá todas as escolas, muitas entidades e serviços, algum esforço de aprendizagem, persistência e o abandono de posições de teimosia e resistência. Está visto que essas situações de oposição renitente não são da maioria das populações, mas de alguns doutores do idioma. Mas sempre assim foi. As alterações ortográficas nunca tiveram o apoio total dos sábios. A maioria delas foi imposta pela voz popular ou pelo poder político, com os académicos a reboque.
A Porto Editora, ao imprimir o novo Dicionário da Língua Portuguesa 2009, com 265000 entradas, está dando um exemplo de nacionalismo e de eficácia, transferindo para um livro de uso corrente o que começava a andar por aí nos opúsculos, algumas vezes de consulta mais complicada e nem sempre à disposição.
Mais uma telenovela parece ter chegado ao fim, com a promulgação do Estatuto dos Açores. Digo parece, porque ainda poderá ter continuação a pedido de vários interessados, quando o Estatuto tiver que ser aplicado, em determinadas condições.
Mas, para além do que possa acontecer no futuro, o que já se passou foi um perfeito drama ou, se quisermos, um conjunto de cenas trágico-cómicas levadas a cabo por actores de primeira plana do nosso circo político-mediático.
Houve, efectivamente cenas com actos para todos os gostos, onde não faltaram as cambalhotas de trapézio, as palhaçadas do costume, as ameaças do domador, as incompetências das feras, o fim de cena com o seu ar de tragédia...
E no entanto, cá vamos todos, cantando e rindo, levados, levados sim, como se nada... como se se tratasse só de um circo!
O Presidente da República promulgou finalmente o documento, contra sua vontade, mandando os correspondentes recados aos partidos políticos que o encostaram à parede. Depois do burro morto, como diz o povo...
Agora, durante vários dias, a imprensa, os comentaristas ou analistas políticos vão entreter-se com o tema e entreter a população com as suas teorias, os seus próprios recados, as suas bizarrias, as suas jogadas, as suas fofocas...
E na altura própria, também o Tribunal Constitucional poderá intervir, abrindo a possibilidade de novas cenas, de novos actos com toga e tudo.
Cá estaremos todos, de ânimo levantado, para aguentar estas tropelias todas, sem piar! E por quê piar, se fomos nós todos que votamos nestes actores?
Várias «ligeirezas» ocorreram, durante todo este processo legislativo, a nível partidário, a nível parlamentar e a nível presidencial.
Em primeiro lugar, não se compreende a falta de estudo exaustivo da Constituição pelos deputados, assessorados pelos melhores constitucionalistas. Esse estudo deveria igualmente ter sido levado a cabo pelos Partidos e pelo Parlamento, para não deixar quaisquer margens para dúvidas, no que se refere ao diploma a votar e à sua aplicação futura. Os Partidos e o Parlamento, cuja obrigação é defender a constituição que votaram favoravelmente, já não a conhecem, já não se revêem nela, ou já a desvalorizam? Felizmente que o Tribunal Constitucional existe, para suprir estes anacronismos, mas poderiam ter-se evitado discussões, votações, atrasos e o ferir de susceptibilidades que sempre ocorre, pelo meio.
Em segundo lugar, não se compreende que um partido vote em unanimidade com os restantes, por duas vezes, o mesmo diploma, e se abstenha à terceira, com medo de zangar os correligionários das Ilhas, com vergonha da cambalhota suprema de votar contra. Aconteceu, mesmo assim, uma aprovação maioritária por dois terços dos votantes, o que obrigou o Presidente a promulgar a lei.
Em terceiro lugar, não se compreende que o Presidente, que tão seguro se mostrou da inconstitucionalidade de um certo artigo do diploma, como esgrimiu na sua declaração amarga à Nação, não o tenha enviado em tempo à apreciação do Tribunal Constitucional. Preferiu a comodidade ou a visibilidade da posição (ou oposição) política, arriscando demasiado e sem necessidade, vindo a perder por um voto!
Por que o fez?
Que lhe terá passado pela cabeça ?
Teve receio de que o Tribunal validasse o documento, contra a sua opinião?
Ou supôs que os partidos da oposição, com o seu incluído, não permitiriam a sua aprovação, como pretenderia?
De nada servem as suas amarguras e a tentativa de passar a culpa a outros, lavando as mãos como Pilatos, porque o último erro do espectáculo circense a que presidiu foi apenas seu!
Mais uma vez o Primeiro-Ministro, tranquilamente, tirou um coelho da cartola, por habilidade política pessoal, mas também por mera incompetência dos seus ineptos opositores. Tenho que lhe tirar o chapéu, como único actor coerente nesta cena de tantos actores desastrados, tenha ou não tenha razão, coisa que não quero discutir. Há por aí sentenças a mais, para quem quiser tirar as coisas a limpo...ou talvez não...
Já estou velho para ser actor de teatro, sinto-me bem no meu observatório, e cada vez tenho menos paciência para assistir aos espectáculos...
Assim vai a nossa Democracia, de representação em representação, de discussão em discussão, cada vez espremendo menos sumo para dar aos portugueses, cada vez mais espremidos e baralhados eles próprios, cada vez mais enredados nos seus próprios labirintos...
Quem disse que a linha recta era o caminho mais curto entre dois pontos?
Após vários dias de sol, a chuva miudinha vem fazer-nos uma visita prolongada, segundo avisa o Boletim Meteorológico. Por vezes engana-se, mas tenho a convicção de que agora vai acertar.
O boletim da convicção é uma coisa tramada!
Podem vir os argumentos mais valiosos e convincentes, que não conseguirão nunca desmontar a sua estratégia que reside precisamente em não ter estratégia nenhuma. A convicção existe, e pronto!
É minha convicção, desta vez, que, não só a chuva miudinha vai continuar, como é costume, sempre que se apresenta, como vai transformar-se em bátegas a atordoar-nos por alguns dias, para alegria dos agricultores que anualmente, de há uns tempos para cá, aumentam as suas queixas da escassez de água.
Ainda bem. Há uns anos atrás, por causa da falta de chuva na altura prevista, tivemos uma seca de truz, com a água a ser racionada e distribuída pelos bombeiros às povoações mais desfavorecidas. A minha convicção é que, no próximo ano, não vai haver seca generalizada, em Portugal. Palavra do meu boletim de convicção.
Mas, voltando à chuva miudinha, os brasileiros chamam-lhe garua, palavra que não vem nos dicionários honestos, como muitas outras de uso corrente. Os africanos designam-na por cacimba, palavra que os portugueses usaram, mas já substituiram definitivamente pela chuvinha e, sobretudo, pela expressão simultaneamente mais prosaica e certeira de chuva molha tolos.
Os portugueses são fantásticos para arranjar expressões precisas, caracterizadoras, marcantes para toda a vida. Neste caso, andaram à chuva, no meio ou à volta dela, sem qualquer protecção, já se vê, e molharam-se, os tolinhos! Já D. Afonso Henriques os tinha avisado sabiamente que quem anda à chuva, molha-se, mas eles não aprenderam, ou desvalorizaram os oportunos conselhos do nosso primeiro rei. Mal agradecidos!
O guarda-chuva, está claro, não é usado pelos tolos, neste caso. Pensam que não vale a pena levar, nem abrir, que a chuvinha não molha nada. Além disso, o guarda-chuva custa a abrir, a dobrar e a fechar, a palavra é composta, coisa que não acontece na maioria dos povos que inventaram uma palavra simples e assim não se molham nunca, como acontece com os nossos aliados ingleses que não dispensam a umbrella. Até os franceses tão dados a rococós, e que foram durante muitos anos os nossos mentores, simplificaram para parapluie e nuestros hermanos espanhóis, muito parecidos connosco em tantas palermices, arranjaram a simplificação apressada do paraguas...
Seja por influência dos ingleses, dos franceses ou dos espanhóis, a verdade é que não saio à rua sem o dito, nestes dias de chuva miudinha, porque não quero fazer de tolinho, como boa parte dos portugueses que se julgam sábios quando saem, nestes dias, e lhes sai o tiro pela culatra...
Ontem mesmo, adivinhando o que aí vinha hoje, visitei o meu chinês de estimação, no quarteirão em frente, e fui comprar um desdobrável, ao preço da chuva, pensava eu...mas ao preço da chuva, como se dizia dantes, já nem a própria chuva se consegue, nos tempos que correm.
Mas há contradições do diabo.
Tenho verificado ultimamente que até os chineses lutam com grandes dificuldades para manter as suas lojas abertas. Os supermercados estão a ficar inundados de artigos chineses, importados directamente da origem, a preços sem concorrência. Só falta já colocarem os rótulos e os letreiros em mandarim ou pequinês, nos artigos e nas prateleiras...
E como dirão eles chuva molha tolos?
Para comprar o guarda-chuva, ontem, não precisei de falar chinês, bastou-me fazer o gesto...
Acabou-se-me a pedalada e apetece-me sair, mas andar à chuva, nunca.
Olho pela vidraça e vejo que ainda continua a cair a mesma chuvinha pegajosa...
Logo o boletim meteorológico teria que acertar, desta vez!
O desejo de Festas Felizes é consensual., nos países de cultura ocidental e cristã. Sempre que possível, junta-se a família, confraterniza-se, trocam-se prendas e abraços, fazem-se votos de saúde e de uma vida melhor para o ano que aí vem. Para que tal aconteça, os familiares distantes metem-se no carro e fazem longos quilómetros, sem descanso, na ânsia de chegar mais cedo à casa de família. Alguns deles sofrem graves acidentes de viação, encontrando o hospital ou a morte, numa viagem sem regresso. Marcam assim, definitivamente e para sempre, esta data festiva, com o carimbo da desgraça, no espírito de familiares e amigos.
Há muitos anos que todos os portugueses falam na necessidade de pôr cobro a estas velhas desgraças da Quadra Natalícia.
Os sucessivos governos decretam medidas restritivas ou punitivas, todos os anos, as autoridades de vigilância das estradas destacam cada vez mais agentes e em turnos sempre mais alargados, sem grandes resultados. Estranhamente, parece que, nestes dias que se supõem de paz e de festa, muitos portugueses perdem a cabeça, exageram nos festejos e acabam na paz do cemitério.
«A GNR fixou hoje em dez o número de vítimas mortais nos cinco dias da Operação Natal. O balanço da Brigada de Trânsito refere 1.153 acidentes e 65 condutores detidos, dos quais 30 apresentavam uma taxa de alcoolemia igual ou acima de 1,2 gramas por litro de sangue.»
O relatório da Brigada de Trânsito é muito mais extenso, citando um número não despiciendo de condutores sem carta, sem seguro, sem cinto de segurança, e por aí fora, demonstrativos de uma total falta de civismo e de respeito pelas leis e pelos semelhantes que circulam nas mesmas estradas. Um destes energúmeno, por exemplo, foi apanhado com uma taxa de alcoolémia de 3,0 gramas, e outro a conduzir a mais de 200 quilómetros à hora numa estrada convencional...
Mas o que mais chama a atenção de um leitor atento é o desprendimento com que estes números são olhados pela população em geral, como se fossem uma fatalidade sem remédio, como se apenas coubesse aos governos e às autoridades resolver um problema que é, sobretudo, de cada um. E nada é mais errado que esta postura, da parte dos cidadãos.
Infelizmente, o que se aprecia por aí são as justificações mais incríveis para os atropelos às regras. Citam-se, por dá cá aquela palha, o mau traçado das estradas, a deficiente sinalização, a iluminação inadequada, a irresponsabilidade dos peões, a caça à multa por parte das autoridades, a má colocação dos sinais, os desajustados valores-limite afixados nos radares e nas placas limitativas de velocidade, enfim, mil e uma coisas, menos a responsabilidade do condutor.
Pior que isso são os artigos escritos em revistas da especialidade com responsabilidades acrescidas e que frequentemente se entretêm com textos desse mesmo jaez, numa defesa ridícula dos condutores pelas más razões, em lugar de incentivá-los, de estimulá-los a cumprir os seus deveres, a tornear as dificuldades de condução que inesperadamente aparecem a cada passo, a sair airosamente ou com menos perigo de problemas como um furo ocasional, uma fuga de óleo de travões, uma fractura acidental do pára-brisas, uma situação de encandeamento, uma actuação correcta nos casos de acidente, etc., etc.
A população desvaloriza todas estas incongruências. Estou certo de que pouco ou nada fará, de sua própria iniciativa, para dar a volta ao texto. E bastaria apenas um pouco mais de educação cívica, em casa, na escola, no trabalho, na rua, para diminuir drasticamente o número de acidentes e de mortes nas nossas estradas. Tão simples como isso, e tão difícil!
Por isso, talvez aberrante, mas sendo cada vez mais consensual, é que muitos pensam que a única forma de diminuir acentuadamente esta hecatombe de vítimas da estrada é a repressão policial, a fiscalização e a multa pesada, sem as quais o portuguezinho esperto não consegue viver, muito menos fazer qualquer coisa de jeito, mesmo para seu próprio benefício!
Estarão a exagerar? A árvore gigante iluminada e colorida, montada no cimo do Parque Eduardo VII, tornou-se hoje num local de peregrinação dos lisboetas, originando uma pequena embrulhada de veículos, praticamente sem polícia à vista, mas sem desgraças, que eu saiba...
Mas o Ano Novo aproxima-se e novos acidentes terão lugar, infelizmente com numerosos mortos e feridos, como de costume.
Há uns setenta anos, ninguém, em Portugal, sabia quem era o Pai Natal. Mesmo as renas eram animais quase só conhecidos dos nórdicos, e apenas os estudiosos, fora da Escandinávia, sabiam da sua existência.
Os presépios eram o louvor da Igreja e dos fiéis em honra do Nascimento de Cristo, desde os tempos medievais, e os animais mais utilizados na representação foram sempre, até aos dias de hoje, o burro, a vaca, o camelo, e as ovelhas...
A invenção do Pai Natal vestido de vermelho, sentado num trenó carregado de prendas e puxado pelas renas, teria que ser, fatalmente, dos Lapões, dos Suecos, Noruegueses e Finlandeses. A Comunicação Social e o Comércio desenfreado, incentivado sem dúvida pelas apetências e habilidades americanas, devem ter concorrido, decisivamente, para a sua institucionalização na maior parte dos países do Globo.
Hoje não há beco por esse mundo fora onde o Pai Natal não seja conhecido de graúdos e miúdos, viajando pela neve real das zonas geladas ou mais ou menos algodoada das zonas tropicais, ao encontro do pinheiro nórdico ou plastificado, com a sua estrelinha prateada no cimo, e as bolinhas e luzinhas a piscar em redor...
Os presépios, a pouco e pouco, apesar da resistência da Igreja, foram sendo relegados para segundo plano ou mesmo transformados em puro negócio de supermercado, subsistindo algumas maravilhas de arte nas catedrais, ou fechadas à chave, e aqueles que a devoção dos fiéis ainda constrói por aí, especialmente nos meios rurais.
Agora, em vez de presépios, as árvores de Natal, já plásticas na sua maioria, ocupam as praças, as ruas, as casas dos fregueses, com a miudagem dedicada ao seu enfeite...
Também a antiga tradição das prendas no sapatinho colocado de véspera na chaminé, ao lado do Menino deitado nas palhinhas, foi à vida, trocada pela descida do Pai Natal, depois da meia-noite, descarregando os brinquedos e zarpando num ápice, sem ser notado, sem deixar nem um ligeiro salpico de fuligem...
Nem isso já existe. As crianças agora nascem espertas, não engolem essas do sapatinho, nem do Pai Natal, nem quaisquer outras mentiras poéticas bem intencionadas. Hoje é pão, pão, queijo, queijo! As coisas não têm piada nenhuma, mas os comerciantes adoram! O Pai Natal é uma forma de embelezar a casa, de presentear os filhos, os familiares e os amigos com prendas a demonstrar amizade, ao menos de uma maneira fugaz, nesta quadra especialmente concebida para celebrar a fraternidade entre os homens, que deveria comemorar-se durante todos os dias do ano.
Também não é assim que acontece.
Os mísseis e os aviões espalham a destruição e a morte na própria Terra onde Cristo nasceu para pregar e lembrar aos homens que são todos irmãos. Pelo que vemos, nem sempre com resultados positivos. E no resto do Mundo as coisas não correm de melhor forma.
Num País que é o topo da civilização que nos rege, um maníaco, disfarçado de Pai Natal, lembrou-se de fazer das suas, levando a morte como prenda a uma família e amigos que comemoravam a noite sacra em volta da árvore enfeitada e iluminada... Ao bater à porta, perfeitamente uniformizado, uma criança de oito anos abriu, sorridente, para dar-lhe um beijo, levando um tiro como retribuição. Igual prenda sofreram oito familiares e amigos, na maioria crianças! Este Pai Natal assassino, foi a seguir incendiário, e acabou por cometer suicídio, pouco tempo depois.
No Iraque, No Paquistão, na Índia, no Afeganistão, na Somália, no Zimbawue, na Guiné-Conackri, no Sudão, na Palestina, em meio mundo (e até à nossa volta) a morte, a violência, e a fome fazem das suas. Estes flagelos cá estão a lembrar-nos que a vida é transitória e deve ser bem gerida, mas que não tem qualquer valor para muita gente, tanto faz que uns comemorem o Nascimento do Menino Deus ou que outros se regalem com a chegada do Pai Natal carregado de prendas, ou não liguem nenhuma á efeméride.
Não há respeito nem amizade por ninguém, queixamo-nos nós, de vez em quando. E, no entanto, ainda somos uns felizardos, no meio destas misérias, neste campo de tantas contradições que é o mundo em que vivemos.
Mesmo na minha frente, tenho um pequeno presépio de cores vivas, em madeira, execução manual de mãos habilidosas de indígenas humildes e respeitadores das tradições ancestrais dos Andes Peruanos, com as diversas figuras nas posições habituais, sem armas, sem drogas, perfeitamente ingénuas, sem intenções ocultas...
Como gosto de permanecer a olhá-lo, esquecendo tudo, tranquilamente, e a imaginar as sensações que devem ter passado pelas mentes dos seus simples executantes...
Não há dúvida de que este foi um ano de excessos, com ataques terroristas em locais insuspeitados, demissões de governos não previsíveis, crise económica e financeira que já levou bancos à falência e países à beira da banca rota, milhões de pessoas a morrer de fome, desemprego a tentar a escalada e muitas outras coisas que dariam para encher várias páginas.
O sentimento geral de frustração e de insegurança alia-se a um recrudescimento de um certo radicalismo em todas as circunstâncias, a que não é estranha a globalização imposta pelas tecnologias da comunicação em que vivemos.
Alguém me dizia, há tempos, que eu culpava a imprensa de muitos sucessos, quando ela era apenas o veículo, a cara dos acontecimentos...Mas eu insisto.
A imprensa, por mais neutra que possa parecer quanto aos eventos que relata ou comenta, é sempre intervencionista. Se não fosse ela, grandes faixas da sociedade, a nível mundial seriam ignorantes do que acontece e estariam proibidas de intervir, ou de receber simplesmente os benefícios e as desgraças daí resultantes.
Quando, há muitos anos, um eminente cientista e filósofo disse mais ou menos, para escândalo de muito boa gente, que o bater das asas de uma borboleta no Arizona originaria uma catástrofe na Cochinchina, ninguém, até os mais avançados em conjecturas, poderia prever que pormenores muito mais insignificantes viriam hoje a ser ainda mais determinantes, na vida de cada um. E, à medida que o tempo passa, mais e mais se acentua a interdependência das populações, neste universo em que o equilíbrio que gera o bom senso, e a liberdade se tornam cada vez mais difíceis, exigindo de cada um mais regras, mais inteligência e cooperação com os semelhantes, mais abdicação daquilo que até há cinquenta anos julgávamos intangível, em troca de novas tecnologias, novos vícios, novas necessidades, novas comodidades e novas misérias...
No meio de tantas conjecturas, do acelerar constante dos novos conhecimentos, sentimos, por vezes que a Humanidade se desumaniza, se transforma em números, em estatísticas, em matemática pura, abstracta, sem alma, navegando no macro e no micro sem consideração pelo Eu, pelo Presente, pela Vida. É certo que grandes sábios da Matemática, da Física, da Química ou da Biologia sempre trataram de fazer essa Matemática inteligível mas, para o comum dos mortais, a sua linguagem não passou de frases ininteligíveis ou de lugares comuns, sem sentido. Por outro lado, a Matemática mais comezinha também por vezes desespera os sábios e nem sempre é apreendida pelas maiorias.
Por exemplo, uma notícia, veiculada na imprensa de hoje, dá conta de que o ano de 2008 vai ser, exactamente, maior que os antecedentes, porque a Terra se atrasou, no seu movimento de rotação. E assim, «na passagem de ano, o último minuto de 2008 contará com 61 segundos!
Não se trata de um bónus, mas de uma necessidade de acertar o Relógio do Homem com o Relógio da Terra.»
“Nós usamos, ao nível internacional, uma escala de tempo atómico e essa escala é muito mais precisa do que a Terra. Para que não existam grandes diferenças entre a escala de tempo atómico e a rotação da Terra é necessário haver pequenos acertos”.
Tão simples como isso, tão complicado como a notícia faz crer, ou vice-versa, tudo dependo do sábio ou do ignorante, do literato culto ou do alfabetizado iliterato que passam os olhos pela notícia...
Hoje é dia de Natal do ano de todos os excessos, até de um segundo a mais antes do fim.
Uns dias atrás, os guerrilheiros do Hamas lançaram mísseis provocatórios sobre território israelita e, nesta madrugada de oração e respeito para islamitas e cristãos, a aviação judaica mandou-lhes uns petardos de retaliação que causaram vítimas, enquanto o Papa e M. Abbas, em plena zona sagrada de Jerusalém, davam honras ao Senhor, como se pregassem no deserto...
Porque, afinal, quem dará importância a estas palavras de paz proferidas para multidões?
A imprensa globalizadora e hipócrita fá-las ressoar, de uma ponta à outra do planeta, mas como se fizessem parte de um gigantesco anúncio comercial ante o qual todas as boas intenções e todas as celebrações moral e secularmente impostas são desvalorizadas em luzinhas e balões, em festejos, em ágapes lautos e escandalosos, em trocas de presentes sem significado, enfim, num simples e geral encolher de ombros...
Talvez esta barafunda artificial e a sua furiosa publicação comercial sejam, sem dar-nos conta, os maiores excessos deste ano, maiores que todas as crises económicas e financeiras que se adivinham por aí. Também elas, como todas as outras, não terão solução à vista sem o regresso da paz às consciências.
E a paz armada, que a humanidade sempre desejou aplicar, nunca foi nem será remédio definitivo, como todos os radicalismos, como todos os excessos...
Então por que será que o Homem, sabendo isso, se obstina, teimosamente, na aplicação das soluções erradas que vem fazendo, desde o exacto momento da sua criação?
Ou alguém pensa por aí agora que, com este excesso de um segundo no tempo de rotação da Terra, de tantos em tantos anos, virá a regeneração da Humanidade?
Depois do mega cozido de Riba d´Âncora, da semana passada, pede-se mais um pouco de paciência aos portugueses ansiosos, que o Guiness ficará de novo à sua inteira disposição!
A grande notícia do dia 22 diz que «Matosinhos apresentou, este domingo, o maior bolo-rei do mundo, com 2 500 quilos, para garantir mais um registo português no «Guiness Book of Records».
Como é possível? Na minha perspectiva, não se trata de um único bolo-rei, mas de dois mil e quinhentos bolos de quilo, ligados uns aos outros, por algum pasteleiro habilidoso que conseguiu fazer as ataduras à socapa, de modo a que ninguém conseguisse detectá-las. E, sendo assim, os papalvos que se puseram a olhar para o bolo-rei gigante como boi para palácio, foram comidos, enquanto esperavam comer a sua apetecida fatia.
Mas provavelmente isto é apenas má-língua da minha parte, talvez eu esteja a exagerar. Eles, afinal, só desejavam colaborar num acto de benemerência de um pasteleiro bondoso, porque a notícia continua assim:
«O bolo foi vendido em fatias, em frente ao edifício-sede da Câmara de Matosinhos, com a receita a reverter a favor da Liga Portuguesa Contra o Cancro (LPCC)».
A partir daqui, eu penso que se trata, não de um, mas de vários recordes a inscrever no Guiness, que me perdoem os autores da ideia original.
Primeiro, o tamanho descomunal do bolo-rei, ainda que meio aldrabado, na minha óptica malvada.
Segundo, um bolo-rei como receita a reverter para a luta contra o cancro, na freguesia do Senhor de Matosinhos, coisa que nunca tinha sido vista, naquelas bandas!
Terceiro, «o facto de o Bolo-rei ter sido apresentado, pela primeira vez, em frente ao edifício da Câmara». O tema é novamente de suma importância para Matosinhos e demonstra que em Portugal poderá haver crise de muitas coisas, mas não há crise de bolo-rei, de há vários anos a esta parte.
Quarto recorde do Guiness, o Porto foi destronado, finalmente, depois de dezoito anos de luta acérrima entre os respectivos pasteleiros porque «actualmente, o Guiness regista como maior bolo-rei do mundo o que foi confeccionado no Porto, em 1990, também por iniciativa do gestor de empresas Victor Antunes e dos seus amigos e cuja venda também reverteu para a LPCC.»
Quinto recorde a inscrever no Guiness, o número de pasteleiros utilizados: «A confecção do bolo-rei, que tinha dois elos e 17 metros de diâmetro, mobilizou 30 pasteleiros durante 15 horas.»
Ora aí está! De gente deste quilate é que o País necessita, em todas as profissões. Bem, em todas não direi, porque de pasteleiros estamos bem servidos...
Tencionava terminar aqui o artigo quando, encarei com a notícia da guerra do bolo-rei escangalhado, verdadeira novela pasteleiro-jurídica, em que «o Tribunal de Braga absolveu, na sexta-feira passada, os dois proprietários e o pasteleiro da «Nobreza», acusados pela Pastelaria Paula do crime de contrafacção por alegadamente terem copiado o denominado «bolo-rei escangalhado». Só faltava mais esta!
A notícia, à boa maneira jurídica, dava todos os pormenores do grande evento, com as intervenções dos advogados, das testemunhas e dos juízes, onde não faltava um relato histórico da invenção do bolo-rei escangalhado, há uns bons quarenta anos...
Esta seria, pois, a sexta possibilidade de inscrição no Guiness, de uma só vez!
E comecei a ficar enjoado.
Mas para cúmulo, o Diário Digital trazia ainda, logo na peugada, o título com a notícia seguinte: «Bolo-rei para diabéticos no Rossio!» «Campanha Natal Azul», a Associação Protectora de Diabéticos de Portugal (APDP) e a Sociedade Portuguesa de Diabetologia (SPD) vão distribuir mil unidades de um bolo azul, com base «numa receita adaptada ao nível das dosagens e dos ingredientes de modo a poder ser ingerido por diabéticos».
É também apresentado um prémio de jornalismo para distinguir trabalhos e ao mesmo tempo incentivar o desenvolvimento de textos sobre esta doença.»
E por aí fora, linhas e linhas fazendo jus a uma sétima inscrição no Guiness. Somos mesmo muito bons, nisto!
Sete inscrições no Guiness, só à conta do bolo-rei, não são façanha para qualquer um! Portugal vai longe. Força, portugueses!
Pela minha parte, peço desculpa de não dar o meu contributo. Já estou velho para estas pepineiras.
Fiquei farto.
Vou dar uma voltinha, por aí, para espairecer.
Que me perdoem os oportunos jornalistas e os eméritos pasteleiros a quem me atrevo a dar um conselho simples, de amigo, com muitos anos no activo:
Para que se não diga que sou contra o regime democrático, começo por lembrar aquela frase, dita assim ou de forma parecida por um eminente político do séculoXX, segundo a qual a Democracia era o pior dos regimes políticos, enquanto não se descobrisse outro melhor.
Efectivamente, estas palavras são de uma extraordinária precisão e simplicidade, merecem-nos completa aprovação e toda a confiança possível. Podemos, pois, atirar-nos, com unhas e dentes, contra a Democracia, seguros de que nada de melhor iremos conseguir. Mais, podemos estar seguros de que, quanto mais expusermos os podres da democracia, mais ela se renovará e crescerá, como um cogumelo no meio do estrume, para gáudio e prazer dos apreciadores da boa mesa! Quem tal diria!? Ou melhor, quem já teria suspeitado disso, a não ser alguns estudiosos das Ciências da Natureza?
Estamos conversados.
O famigerado Estatuto dos Açores foi o cogumelo que saiu do escaldante caldo de cultura, semeado pela Assembleia da República e adubado pelo Presidente da República., onde proliferaram as sentenças de artistas vários de todos os quadrantes da Política, da Magistratura e da Imprensa, exibindo cada qual as suas habilidades, como num circo.
Na realidade, as cambalhotas políticas a que fomos assistindo, ao longo do desenrolar do processo, desde a apresentação da proposta de lei até à sua votação final, foram um espectáculo digno de nota alta, no Circo da Democracia Portuguesa. Ali foram apresentados vários saltos mortais, com e sem rede, e foi executado um triplo salto final, com mortal encorpado ou incorporado...
Por isso, do meio da agitação jornalística dos últimos dias que previa o fim da paz institucional, o começo das guerrilhas e das hecatombes nacionais que sistematicamente alimentam a imprensa culta que se imagina condutora do povo, surgiu o silêncio aterrador indicativo do falhanço, como se lhe tivessem cortado o pio...
E, no entanto, o que apenas se passou foi uma votação «maluca» na Assembleia da República, onde os prós e vários contras votaram a favor, e os principais actores do grupo dos contras resolveram abster-se! Pelo meio ficaram os ziguezagues e as cambalhotas de muito boa gente que veio demonstrar mais uma vez, no local dos espectáculos, que engloba a selecção dos melhores artistas do Circo da Democracia Portuguesa.
O povo português já sabia que era assim, mas talvez nunca com tanta clareza!
No final do espectáculo, os assistentes, ansiosos e receosos de algum acidente, embora com bilhetes grátis, saíram tranquilos porque ninguém saiu ferido, apesar das previsões dos comentaristas encartados, dos gritos de alguns artistas insatisfeitros, das diatribes dos mais radicais ou desbocados e da ameaça de bomba atómica do maestro principal.
Vamos, pois, ter um Santo Natal, na paz institucional permitida, mesmo com os problemas da Bolsa que sempre ocupam a imprensa e as eternas dificuldades das pequenas bolsas que vão sobrevivendo a custo e quase não conseguem ser notícia por absoluta falta de fofoca...
Também já não havia pachorra para tanta cambalhota.
Abusou-se do espectáculo. A desmobilização é geral
Por isso, e também por tradição, o Circo da Democracia Portuguesa vai estar encerrado durante alguns dias e a tranquilidade dos cidadãos seria absoluta se não fossem os acidentes nas nossas estradas e outros excessos previsíveis nesta época...muito mais que as votações dos Artistas e Contorcionistas da Assembleia da República, com todo o merecido respeito.
Começarei por dizer que o título e o subtítulo que dei a este pequeno artigo não são contraditórios, como parece. Há muita coisa que parece e não é.
Do que não há dúvida é de que o mundo não seria o mesmo que hoje conhecemos sem as descobertas dos portugueses, nos séculos XV e XVI, chamem-lhes agora descobrimentos, achamentos ou outra patacoada qualquer. O que interessa é que foram os portugueses que deram novos mundos ao mundo e permitiram trazer para a Europa, assaltada pelos turcos e em grande aflição, as especiarias e outras raridades do Oriente, via Cabo da Boa Esperança, ou do Brasil, via Cabo Verde...
Tudo já lá vai. O Império desapareceu e ficou só na imaginação dos estudiosos. Ficaram também os livros de história para recordar aos curiosos destas coisas que os portugueses foram um Grande Povo, sempre à espreita de conquistar, de cristianizar e colonizar, de comercializar tudo o que lhe aparecesse pela frente, dentro do desconhecido meio mundo que começava nas tais léguas a Oeste de Cabo Verde, até às Molucas, a Oriente. E não só.
Foi assim que Lisboa se tornou o centro de comércio da pimenta, do cravinho, da noz moscada, da malagueta, do caril, do colorau e de muitas outros temperos excêntricos orientais que, a pouco e pouco criaram profundas raízes na tradicional alimentação dos portugueses. Mais tarde haveria de acontecer também o mesmo com o bacalhau a que os ingleses chamavam, ainda no século passado, peixe fedorento, mas que agora correm a saborear das tais mil maneiras que só os nossos cozinheiros conhecem e executam com mestria. A necessidade obriga!
E dessa maneira, pela mesma necessidade também, os portugueses tornaram-se grandes inventores de uma cozinha tradicional excelente, com os meios insignificantes que tinham à disposição e que eram desprezados pela maioria dos povos mais evoluídos.
Um dos exemplos mais interessantes é a matança do porco caseiro. Foi sendo adaptada aos tempos, refinada com variadas receitas culinárias e os diversos enchidos que fazem a tradição e o orgulho de cada povoação, e encheram há algum tempo de preocupação uns tantos comentaristas mais formalistas na interpretação das leis da CE, (muito mais que as próprias gentes rurais) perante imaginárias tropelias da ASAE...
Artigos incríveis foram então escritos sobre esses temas, pelos tais comentaristas que, na maior parte das vezes, só conheciam as alheiras de Mirandela falsificadas, as chouriças de Trancoso confeccionadas em Alguidares de Baixo, ou a chanfana de Foz de Arouce que vem descrita no livro de cozinha de algum editor curioso...
Tiro o chapéu à ASAE que eliminou tanta porcaria que havia por aí e que não devia fazer parte da comida tradicional portuguesa, a qual se encontra, felizmente, de perfeita saúde, para desconsolo dos tais profetas das desgraças.
Este ano, por exemplo, já vi, de passagem por zonas rurais, preparativos e sinais de execução da tradicional e cruel matança do porco, porque se escuta à légua! A mesma matança que nem assim, com tanto alarido dos bichos, atraiu as iras da Sociedade Protectora dos Animais e de outros artistas e literatos que simultaneamente atacaram a ASAE com toda a fúria, por serem grandes apreciadores de chouriças, morcelas ou sarrabulho, mas que nunca viram um boi à sua frente. Não os culpo disso.
Um filho meu, de quatro anos de idade que tinha vivido sempre numa grande cidade, no estrangeiro, quando chegou a Portugal, confundiu também uma pele de coelho posta a secar numa cruzeta, com a pele de uma vaca! A sorte dele é que, logo de seguida, eu tive a diligência de mostrar-lhe uma série de animais domésticos e nunca mais voltou a enganar-se. Nem todos têm a mesma sorte.
Mas, voltando às descobertas mais recentes dos portugueses, pondo de lado as fantásticas andanças marítimas dos séculos de grandeza, verificamos que quase todas fazem parte da cozinha tradicional.
É um elogio! Desconfio que não haverá muitos povos com uma riqueza e variedade de preparações culinárias artesanais tão grandes como Portugal, pois cada cantinho se arroga de ter inventado uma receita única, especial, a melhor do mundo, do que quer que seja. O bacalhau, a carne de porco e alguns vegetais são os grandes responsáveis dessa tremenda variedade que os turistas estrangeiros mais curiosos descobrem e com a qual se deliciam, quando nos visitam com tempo.
Vai daí, com a citadina febre de notícias habitual e a patusca ânsia rural de fazer reviver as grandes sagas de antanho, alguns descobridores actuais, de ideias mais avançadas, servindo-se das também tradicionais fofocas da imprensa, resolvem, de vez em quando, explorar um mega evento digno do Guiness. E assim apareceu a Feijoada Monumental da Ponte Vasco da Gama, a Super Caldeirada de Lagoa, O Pão-de-ló Monumental já não me lembro de onde, a Cataplana Gigante de algures, a Sardinhada Industrial de Portimão, a Paelha dali, a Salsicha Quilométrica dacolá, o Bolo-Rei de não sei quantos ovos, etc., etc.
O Porquinho do cortelho, claro, não podia ficar de fora. Uma notícia de um matutino de hoje dá conta de um almoço especial para mil e duzentas pessoas, a realizar domingo, numa freguesia do concelho de Caminha, cuja ementa é um Mega Cozido à Portuguesa. Pode ler-se que «em relação ao megacozido, já foram "mobilizados" cinco porcos, cuja carne entrou na confecção de mais de duas mil chouriças e dezenas de presuntos. Centenas de quilos de carne de vaca e de frango, assim como couves, batatas, cebolas e cenouras, são outros dos ingredientes.»
Em aparte à notícia, apraz-me esclarecer o seu autor que cinco porcos dariam, no máximo, duas dezenas, ou seja, vinte presuntos exactos, e certamente um número bem mais discutível de chouriças. Contudo, nem os presuntos nem as chouriças são comidos «em verde», mas necessitam de vários meses de fumeiro, até ficarem apetecíveis, motivo porque desconfio muito da tal «mobilização»!
De qualquer modo, tanto material para 1200 pessoas apenas, é obra, a menos que sejam de muito alimento...Fartar, vilanagem! (É sem ofensa.).
A notícia não refere, mesmo assim, quantos barris ou garrafões do imprescindível tinto vão acompanhar o farto repasto, nem se umas quantas garrafas de Água das Pedras serão postas à disposição dos esfomeados caminhenses mas, mesmo assim, quantos fregueses não estarão já a salivar abundantemente, enquanto aguardam a chegada da hora...e outros tantos ficam por lá a roer as unhas de inveja!
A notícia diz apenas que este é o sexto Megacozido da Terra, desta vez abrilhantado pela cantora lírica Sofia Escobar, natural de Viana do Castelo, e a sua receita pecuniária será entregue à Comissão de Obras da Recuperação da Igreja Paroquial de Riba d´Âncora.
A crise mundial ainda não deve ter chegado ali. Mas, pensando bem, para comezainas e peditórios a crise nunca chega, no nosso País.
Viva Portugal dos grandes eventos noticiosos e das invenções tradicionais espectaculares!
Ao diabo as multas da ASAE e igualmente os seus detractores derrotistas!
Tristezas não pagam dívidas! E como é por uma boa causa...
O que se vê e lê por aí, em termos de verdade, honestidade, e respeito pela vida e propriedade alheia é desanimador para alguém que tenha sido educado na observação estrita destes princípios. Bem sei que os princípios cada vez valem menos, nos dias que correm, e que as crises económicas cada vez são mais difíceis de inverter, tornando-se num caldo de cultura da falta de honestidade, da mentira e do roubo. Mas fazer destas anomalias a normalidade, como os recentes casos da banca quase conseguiam, ultrapassa todas as raias da moral e da decência humanas.
Comparados com estes, os casos de mutação ou usurpação de personalidade que ultimamente surgem nos jornais parecem pequenas brincadeiras de crianças. Também não é assim. Exigem a atenção dos profissionais sérios e não devem ser menosprezados por eles, ou postos de lado com um simples encolher de ombros.
Hoje, por exemplo, li num periódico a notícia de que dois idosos, dos arredores de Coimbra, tinham sido roubados em cerca de 2000 euros por dois desconhecidos que se apresentaram como funcionários da Segurança Social.
Já não é a primeira vez.
Há uns anos, outros espertalhões faziam-se passar por funcionários bancários ou das finanças e exigiam as notas de escudos, guardadas com esforço de muitos anos no colchão da casita do monte alentejano, para trocar por novos escudos ou euros imaginários.
O caso de falsos vendedores de lotaria com o vigésimo premiado já tem barbas de tão antigo, mas há gente que ainda cai, de vez em quando.
Muitos outros charlatães têm aparecido por aí e feito a sua época. Vêm e vão, voltam de tempos a tempos, quando lhes parece que o sistema está esquecido e surge de novo a oportunidade de serem bem sucedidos, ante a ressuscitada credulidade dos cidadãos. De há uns tempos para cá, têm, no entanto, aparecido casos insuspeitos mais rebuscados, mais inverosímeis, com uma aparência de seriedade e honestidade muito difícil de desmontar.
Foi o caso de um falso polícia, fardado e tudo, que cobrava multas aos desprevenidos que apanhava a jeito.
Foi o caso de um falso advogado que exerceu durante anos, com consultório estabelecido, exibindo certificados profissionais, representando clientes a quem nunca passou pela cabeça estarem em presença de um aldrabão!
Foi o caso de um falso médico que, além do consultório particular onde exibia os seus méritos, exercia num hospital público e frequentava conferências e congressos da especialidade.
Foi o caso de uma falsa juíza que extorquiu quantias importantes a pessoas ou entidades por um processo simples, insuspeito das vítimas.
Quantas outras situações deste tipo têm ocorrido, que já nem recordo? Já é caso para pensar qual será a profissão que está a salvo de ter gente desta, no seu seio...e como é difícil estabelecer uma barreira intransponível para evitar estas actividades fraudulentas.
O certo é que não se trata apenas de um caso de polícia. Infelizmente, nem a verdade, a honestidade e o respeito pelos outros cidadãos se determinam por decreto...
Longe vão os tempos da pirataria profissional, organizada e avalizada pelos governos interessados como um factor de desgaste, uma guerra encoberta às portas dos inimigos de estimação. Foi assim que, principalmente nos séculos XVI e XVII, os navios espanhóis, e também os portugueses, foram atacados pelos corsários ingleses, franceses e holandeses, para não falar dos turcos, dos chineses, e doutros de menor estofo.
Nas Antilhas, tornadas célebres pela pirataria oficializada, a caça aos tesouros que vinham do México, da Amazónia e do Peru para a Espanha tornou-se o pão nosso de cada dia, e os feitos dessa malta de ladrões foram frequentemente enaltecidos pelos governantes que os armavam e incentivavam na sombra. A História ficou assim cheia de heróis em vez de assassinos, e as histórias de quadradinhos dos dias de hoje fizeram as delícias de uma certa juventude, na última metade do século XX, só vindo a perder interesse pela transposição das peripécias para os ecrãs de cinema e de televisão. Mas ainda se vão vendo por aí os piratas de cara façanhuda, de facalhão e espada, de botas altas até à coxa, casaca cheia de botões e chapéu a imitar os da época...
No ano passado, fui dar um passeio para matar saudades ao Porto, onde frequentara a Universidade, nos anos 50. Resolvi, a certa altura, ir tomar um cafezinho ao Diu, na rua da Boavista, à Cedofeita, porque ali havia passado boas horas de convívio e estudo, com colegas de Faculdade. Não podia ser maior o meu espanto quando, logo à entrada, um pirata com perna de pau e pala negra no olho de vidro fazia as honras da gerência aos clientes. Ainda perguntei a um funcionário por que tinham escolhido o pirata para lhes dar as boas vindas e, já agora, porque não punham a tocar baixinho, de vez em quando, aquela canção brasileira, a condizer, que começava assim:
Eu sou o pirata
Da perna de pau,
Do olho de vidro,
Da cara de mau...
Mas ele encolheu os ombros, começou a rir e eu não tive coragem de continuar.
Nunca mais voltei a lembrar-me de piratas e quejandos, até começar a ler as notícias dos jornais, com os assaltos a petroleiros, paquetes de turismo, rebocadores e até cargueiros com material de guerra, em certa zona do Oceano Índico, à saída do movimentado e estratégico Estreito de Ormuz, no celebrado Corno de África.
A coisa não é nenhuma brincadeira. Vários países já mobilizaram barcos de guerra para proteger as suas embarcações, mas ainda assim a situação está a tornar-se insustentável. Segundo notícia da Lusa, o Conselho de Segurança das Nações Unidas, aprovou uma nova resolução autorizando por um ano as operações no território da Somália, em cujas costas piratas sequestraram hoje mais um cargueiro turco!
Até que enfim! A única forma de acabar com essa pirataria é enfrentá-la no seu próprio refúgio. Mas creio que não vai ser tão fácil como alguns pensam, porque antevejo que alguma organização terrorista deve estar a financiar esta gente.
Oxalá me engane.
Há duas horas atrás, fui ao Centro Comercial próximo de casa e tive mais um desses encontros surpreendentes, na área dos cinemas, nada menos que uma escultura em tamanho natural, do Capitão Gancho!
As crianças mais pequenas que passavam por ali, perguntavam aos pais que as acompanhavam quem era aquele...e eles lá se iam desenrascando conforme podiam, recorrendo às histórias de quadradinhos que tinham visto em miúdos ou aos filmes com Errol Flynn, de espada em punho, a saltar de corda em corda como um macaco, de veleiro para veleiro, sempre salvo, sempre vencedor, sempre alegre, sempre do lado da justiça e da razão, sempre castigador com as madamas que lhe apareciam pela frente...
Aposto que nenhum deles relacionou, ao menos por alguns momentos, essa «heróica» e mal retratada pirataria de antanho com a que ocorre actualmente no Índico, com gente de cara enfarruscada e metralhadora em punho, assaltando navios pacíficos, roubando, sequestrando e matando tripulantes e passageiros desprevenidos. E contudo, passados séculos, a pirataria é a mesma, servindo interesses inconfessáveis, apenas com outros actores, com meios diferentes e muito mais poderosos.
Será que, neste mundo de contradições permanentes, daqui a uns anos, alguns desses piratas somalis ainda se vão tornar heróis de banda desenhada ou de filmes de casa cheia, nos seus países de origem, em vez de apodrecerem esquecidos na prisão?
Durante dois ou três dias, a notícia de choque na Comunicação Social foi o par de sapatos atirado a George W. Bush, por um jornalista iraquiano. E logo de um jornalista!
O fulano deu-se ares de nacionalista inconformado com a presença do máximo responsável político pela Guerra do Iraque de 2003, pela derrota e julgamento de Sadam Hussein, pela sua deposição das respectivas e numerosas estátuas, e pela destruição dos milhares de retratos pendurados por lá, como enfeite.
O país, segundo a diplomacia americana, era suspeito de possuir bombas químicas que nunca foram encontradas, de falta de democracia e de outras coisas mais. Não conseguiu desmentir a tempo. O presidente Bush, por sua vez, era agora suspeito de ter avançado para a guerra, como retaliação à independência do Iraque perante a pressão ianque, o que não permitia que este se transformasse numa loja âncora em substituição do Irão, depois do desaparecimento do Xá. Até ver, ainda não conseguiu os seus verdadeiros objectivos, e não quer abandonar a presa, nos tempos mais próximos.
Ora, perante esta dupla frustração, o jornalista resolveu actuar por conta própria. Como não conseguia pôr-se a jeito para dar um pontapé no traseiro de G. W. Bush ou empurrá-lo para fora de cena, tirou os sapatos dos seus pezinhos, número 43, calçados depois da ablução e da oração na mesquita mais próxima, e atirou-os à cabeça do presidente americano. Teve pontaria. Mas não acertou por um triz, porque o homem foi suficientemente rápido para se esquivar aos arremessos. Afinal, 43 não era o seu número da sorte, embora fosse o seu número de pé, como descobriu, numa olhadela espectacular, o presidente Bush, pelos vistos muito bom nestas coisas! O atrevido foi logo agarrado pela polícia, revistado e preso a bom recato, para julgamento, não fizesse ele, por acaso, parte da Al Qaeda...
Tema de primeira, para a imprensa mundial!
Menos atenta ao fenómeno esteve, porém, a imprensa grega, entretida com as manifestações dos estudantes e de outros recalcitrantes impacientes, ante os polícias aturdidos. A população da Europa, admirada, expectante, ficou a ver como o chefe de governo descalçava a bota. Não sei ainda se o conseguirá.
O facto é que ele teve muita sorte, porque os seus jornalistas não costumam descalçar os sapatos por dá cá aquela palha. Ou não se lembraram ainda, que é o mais certo.
Por enquanto, a imprensa europeia vai-se entretendo a mandar recados a quem muito bem entende mas, com a crise que está instalada, se pega a moda de atirar sapatos aos presidentes, alguns podem não ter a sorte de desviar-se a tempo, como Bush, mesmo com sapatos de outros números e detectáveis à légua...
Talvez por cá o preço dos sapatos faça pensar um pouco os eventuais jornalistas recalcitrantes. É menos arriscado, mais profissional, mais fácil, mais barato e mais eficaz atirar artigos de jornal.
Em Portugal, a D. Branca ficou célebre, pelo seu negócio de milhões de escudos, em cascata, numa fuga para a frente que nada tem de engenhoso, mas tem muito que ver com a esperteza de alguns, aproveitando a ganância sem escrúpulos de muito «boa» gente. Como sempre, os espertos de momento, desprezando princípios morais e desejando enriquecer à pressa, investindo em negócios simples, de honestidade aparente mas duvidosa e à sombra de uma falsa concepção moral, foram ludibriados como crianças imberbes. O espantoso do sistema que enganou tantos milhares de pessoas é a sua simplicidade desarmante.
A D. Branca proporcionava juros altíssimos aos investidores e dessa maneira atraía novos incautos ao apetecível negócio, em proporção geométrica, enquanto os juros pagos cresciam apenas em proporção aritmética...ou não cresciam mesmo, porque muitos investidores voltavam a investir no mesmo sistema. A crise rebentou com a notícia da fraude publicada nos jornais e a corrida à bolsa da D. Branca que, «coitada», já não podia devolver o que tinha gasto, posto a bom recato ou entregue como juros a alguns quantos felizardos da sorte que se retiraram a tempo.
Também a D. Branca e o seu grupo familiar não inventaram nada de novo. Esquemas semelhantes andam por aí em jogos de serões nocturnos ou gabinetes de máfia, onde os jogadores que perdem vão apostando sempre a dobrar para tentar recuperar das perdas, ou nos casinos, legais ou ocultos, onde o entusiasmo dos ganhadores os faz jogar até ficarem na miséria, para gáudio e proveito dos proprietários do negócio.
O truque está sempre no abuso da credulidade humana, no desejo bem humano também, na sociedade dos nossos dias, de enriquecimento rápido, a qualquer custo. Simples, meu caro Watson, como diria Sherlock Holmes!
Por mais incrível que pareça, o caso do escândalo financeiro de Bernard Madoff, o antigo presidente da bolsa Nasdaq, de Nova Iorque, é a cópia fiel da nossa D. Branca, ou do nosso BPN, à escala da banca planetária!
Muita gente se perguntará agora como isso foi possível, mas a resposta é sempre a mesma: credulidade e ganância, a nível mundial. Os bancos fazem os seus negócios na base da seriedade e confiança que inspiram aos seus clientes. Na cadeia piramidal que junta os bancos mais pequenos até chegar ao topo da Banca Anglo-Americana ou Mundial e aos grandes negócios da Bolsa, a seriedade e a confiança continuam a ser a base do sistema. Se alguma peça do alto desse sistema abdica em seu proveito da seriedade requerida, aproveitando a ganância escondida dos investidores, perde-se a confiança e a credibilidade. Está tudo perdido!
O Fundo especulativo de Bernard Madoff, detido na semana passada pelas autoridades dos Estados Unidos, arrastou grandes bancos americanos, mas também causou perdas enormes de muitos milhares de milhões de euros a grandes bancos europeus, como o BNParibas, o Banco Santander e outros grandes da banca do Reino Unido, da Suiça, da França, etc.
Vale a pena ler a notícia que transcrevo abaixo e comparar com a nossa pequenina D. Branca, ou o nosso minúsculo BPN.
«O esquema de Madoff – um especialista em hedge-funds e corretor em Wall Street que já assumiu o seu negócio como uma «grande mentira» – baseava-se apenas na captação de novos investidores para remunerar os mais antigos com juros elevados.
Segundo números na imprensa nova-iorquina, a fraude que escapou ao crivo das entidades de supervisão e regulação ascende a uns 50 mil milhões de dólares (cerca de 38 mil milhões de euros).»
Nos EUA, como em todo o Mundo, como em Portugal, a prisão incidiu rapidamente sobre a D. Branca, o Presidente do BPN, o Madoff, o homem da fachada, mas ficam de fora os numerosos compadres das seitas...O dinheiro roubado sumiu para sempre, para desespero, sobretudo, dos mais pequenos!
Outra novidade, que não chega a ser, é o último parágrafo da notícia., onde se verifica que a entidade de supervisão da fabulosa e tecnológica América, falhou redondamente, como já havia falhado em outros diversos e badalados casos, tal como a polícia falha constantemente nos numerosos roubos e assaltos que ocorrem por lá, a nível mais rasteiro...O mesmo aconteceu também na Inglaterra, na França, na Alemanha, na Itália, em Portugal...
Podemos estar certos de que, tanto a polícia como os supervisores bancários fazem tudo o que podem. Devem, no entanto, ser obrigatória e constantemente melhorados nos meios e nas técnicas ao seu dispor, para tentar superar, ou ao menos igualar, a melhoria constante da técnica inventiva utilizada nos processos de crime e vigarice que pululam no mundo inteiro, as quais geralmente levam a dianteira, quanto mais não seja pelo normal efeito de surpresa. Todo o investimento feito pelos governos e pelas entidades de segurança nesse sentido, a nível nacional e internacional, será sempre bem-vindo.
O ideal seria que a polícia e as entidades supervisoras possuíssem um oráculo infalível e fiável que determinasse uma actuação adequada, antecipada ou em tempo útil, e nos permitisse a todos dormir descansados.