terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

NOTÍCIAS A METRO


Discussões rasteiras

Ontem à noite resolvi dedicar alguns momentos ao interessante programa «Prós e Contras» que passa, às segundas-feiras, no Canal 1. Digo interessante, porque veio trazer aos telespectadores a possibilidade de observarem em directo discussões sobre temas de actualidade, com interventores abalizados, o que é raro, no nosso país.

Mas, o que, nos primeiros programas era tomado como uma apresentação cordata dos temas e uma intervenção elevada, medida e cautelosa dos intervenientes, foi-se banalizando e tornando cada vez mais num «falatório» trivial, de fraco nível, com poucas novidades ou soluções para os telespectadores, e onde sobressai a má-língua tão afiada como desnecessária, de boa parte dos intervenientes.

Resultado: debates destes, dentro de pouco tempo, não serão muito diferentes dos que podem ter lugar a cada esquina ou a cada canto de café, apenas com mais espectadores embasbacados, ganhando tempo e disposição para uma boa soneca. É pena que assim venha a acontecer.

O tema de ontem era, inevitavelmente, o caso Freeport e, inevitavelmente também, nada de novo foi dito sobre o assunto, a não ser a repetição a metro de uns quantos lugares comuns badalados diariamente na imprensa. Isso era esperado, mesmo com a presença de elementos de nível cultural acima da média, chamados a «depor» pela moderadora. E que mais poderia ser dito, depois da montanha de extrapolações permanentes de situações, provas, testemunhos, conclusões, (a partir de uns escassos factos onde a Justiça anda anos às aranhas), a que vimos assistindo, na criação aprimorada de um clima de telenovela grotesca, em tempos de crise financeira e económica que já não dá vontade de rir a ninguém?

Tenho repetido várias vezes que os portugueses são extraordinários a discutir o que quer que seja, provavelmente, como reconhecem os práticos americanos, os melhores do mundo neste capítulo. Lembram-me bastante os italianos dos filmes do pós-guerra e, por vezes os intriguistas da Itália da Idade Média e do Renascimento...com a diferença de que eles foram, simultaneamente, grandes artistas!

Ora os portugueses não são pequenos nem grandes artistas, mas unicamente simples especialistas na intriga e na má-língua. Pelo que, se existissem por cá novelistas à altura, o país seria um paraíso de autores com exportações garantidas, agora que o vinho do Porto e a Cortiça estão em baixa!

Já estou a ver alguns leitores destas linhas a chamar-me, vingativamente, má-língua...

Mas isto vem só a propósito do referido «Prós e Contras», onde figuras cultas e com responsabilidades acrescidas se entretiveram, boa parte das suas intervenções, a destruir tudo e todos, a dizer, resumidamente, que Portugal era um país de corruptos, de alto a baixo, isto é, desde os legisladores (com a conivência do Presidente da República), aos banqueiros, aos empresários, aos autarcas, aos funcionários e por aí fora, com a única excepção provável deles próprios e dos jornalistas...

Foram ditas ali, por essas «sumidades» coisas espantosas, como a de que todas as leis eram, à partida, feitas por legisladores corruptos ou coniventes com interesses ocultos, e proferidas muitas outras sentenças despropositadas e demagógicas que, à partida, ficariam a matar numa discussão de tasca ou de caserna. O tema, tratado de forma tão corriqueira, deu pano para mangas, como era de esperar.

E a certa altura, já perto do fim, alguém com certo bom-senso, advertiu, por outras palavras, que era bom não enveredar por essas generalizações ligeiras, sob pena de atingir ou desmotivar as muitas gentes sérias e honestas que existem no país, a todos os níveis.

Outra «boutade» interessante veio de outro senhor, também culto e responsável, deitando abaixo as confusas e corruptas leis em vigor no campo ambiental, feitas pelas maiorias de «nabos» e «interesseiros» (as palavras são minhas, mas traduzem as ideias expostas) que povoam a Assembleia da República. A afirmação foi fazendo escola durante minutos até que alguém, com dois dedos de clarividência, disse apenas , a rematar, que a legislação existente era a transposição das leis da CE, em vigor em todos os países europeus!

Enfim, poderia estar aqui horas a comentar as «paródias», as aberrações que foram ditas pela maioria de quem teve direito a alçar a voz. Muito pouco se aproveitou e o público merecia melhor que a transposição, para um grande ecrã de TV, dos lugares comuns da coscuvilhice nacional e da politiquice barata que inundam igualmente a intocável, oportunista, por vezes ligeira, irresponsável e pouco pedagógica Comunicação Social.

Quando o país vive à beira de uma crise, para a minoração (já nem digo resolução) da qual a colaboração e o concurso de todos se tornam cada vez mais imperiosos e decisivos, várias cabeças pensantes fazem exercícios de lógica imaginativa e rasteira, para passar o tempo e mostrar aos portugueses a sua verdadeira e pouco «útil» sapiência...

Enfim, casa onde não há pão, todos ralham e ninguém tem razão. Ainda veremos coisas piores.

Já me esquecia de dizer que, quase a terminar a «chachada», como clamaria o impagável Alberto João, em comício, alguém tirou um coelho da cartola, dizendo que todas aquelas «sentenças» não passavam, afinal, de problemas de Justiça e que, sem Justiça eficaz a tempo e horas, nada feito!

Apoiado! Não teria sido necessário perder tanto tempo, para chegar a esta conclusão óbvia.

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