sábado, 7 de fevereiro de 2009

LEIS DA SELVA


Os cidadãos e os macacos

Há por aí quem considere que vivemos numa selva onde provavelmente os deputados à Assembleia da República seriam os caçadores dos seus próprios interesses, isto é, os macacos que saltitam de ramo em ramo e têm que ser deitados abaixo, em seu proveito.
Para que a caça pudesse ser produtiva, os senhores deputados fariam leis adequadas a esses objectivos ocultos, com verdadeiros alçapões disfarçados, na verdade autênticas armadilhas preparadas para os fins em vista.
Nesse artigo que eu li, a Assembleia da República não passaria de um bando de ignorantes, ineptos e corruptos, a que escapariam raríssimas excepções, provavelmente da sua cor política.
Também nessa Terra sem leis de jeito, arranjadas de propósito com fins inconfessáveis mais ou menos disfarçados, o poder de fiscalização da governação pela Assembleia da República estaria subvertida igualmente pelo bando de interesseiros da maioria parlamentar, sendo o próprio governo, ao contrário do que manda a constituição, a comandar e fiscalizar esse órgão político, onde as próprias minorias fariam fraco papel, submetidas, por sua vez, ao poder dos respectivos chefes partidários e respectivos lucros. Aliás, raros deputados escapariam à influência devastadora desses mesmos interesses e dos aliciantes das grandes empresas, etc., transformando-se a Assembleia da República numa autêntica Central de Negócios, ao serviço de quem domina os directórios.
Termina o artigo dizendo que as leis são más, porque procedem dum Parlamento incapaz. Concordo em absoluto com o diagnóstico. Cabe ao presidente aplicar a terapêutica.
Provavelmente, a terapêutica adequada, na mente do articulista, seria a dissolução da Assembleia.
Na verdade, porém, o nosso mundo nunca é a preto e branco, como alguns pretendem ou como uns quantos quiseram mesmo fazer, com as hecatombes que se conhecem. Há leis boas e leis más, há cidadãos bons e maus, bons deputados e maus deputados, bons e maus legisladores, políticos corruptos e honestos e até comentaristas melhores ou piores. Medir tudo pelo nosso gosto, e tentar impô­­-lo, ainda por cima, não me parece a melhor forma de transformar o país, sem danificar a sua democracia, a qual deve ser corrigida a todo o momento, com o civismo, a colaboração, a opinião construtiva e o voto de todos.
Realmente, se os deputados não prestam, cabe ao povo que os escolheu castigá-los, pela negação do voto nas próximas eleições, ou pela acção da Justiça se for caso disso. A selva ainda não chegou ao ponto de nos impedir o exercício do voto, em plena liberdade. A mesma liberdade que deveria fazer corar de vergonha quem faz afirmações de forma tão generalista.
Um pouco mais, e os cidadãos normais deste país que somos todos nós, seriam um grupo de malfeitores, a cumprir as malvadas e corruptas leis de uma Assembleia da República de bandidos.
A «selva» terá destas coisas. Fatalmente, porém, nem sempre os interesses, isto é, os macacos estão nos galhos. E os cidadãos bons e maus não devem ser confundidos, no meio da floresta dos interesses.
Enfim, quem caça com arco, atirando setas indiscriminadamente para o ar, quase nunca acerta, e não está livre de que lhe caia alguma na cabeça, especialmente se o vento muda de direcção...

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