segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

CHINESES NA NOVA CHINA


Portugueses em Angola


O tempo dos chineses a vender gravatas na rua, por 20 escudos, já desapareceu há muito. Eram poucos, numa época em que o único restaurante de comida chinesa de Lisboa, e provavelmente do País, era o fino e caro Restaurante Macau, na Barata Salgueiro. Só muito mais tarde apareceu o Peiping, na Duque de Loulé, e a seguir mais dois ou três... Em 1979, quando Portugal estabeleceu relações diplomáticas com a República Popular da China, "havia apenas algumas centenas de chineses no país, praticamente todos com passaporte de Taiwan". Deveriam ser esses, os tais das gravatas que circulavam na rua do Ouro, com o cordão de cabides ao pescoço, em Lisboa, ou na Praça do Comércio e ruelas de pequenas lojas, da Baixa de Coimbra. É mais que certo que também no Porto havia chineses a vender gravatas, mas não me foi dado comprovar, na altura.
Segundo os últimos dados oficiais, vivem em Portugal, actualmente, cerca de 20.000 chineses, à custa de 300 restaurantes, 500 armazéns, e 5.000 lojas. Estão a construir aqui a sua Nova China, à nossa pequena dimensão.
O seu negócio conseguiu, em pouco tempo, eliminar as famosas Lojas de 300. E as lojecas dos chineses que haviam começado com pequenas bugigangas, utilidades baratas e brinquedos, aumentaram de tamanho, apresentam já aos clientes os artigos mais diversos, fazendo uma concorrência tremenda aos lojistas tradicionais, não só pelos preços que praticam, mas também pelos extraordinários horários de abertura ao público.
A apreciação que os compradores fazem dos artigos chineses postos à venda foi melhorando, a pouco e pouco, à medida que se foram dando conta de que a China de hoje já não é a de há cinquenta anos atrás, que possui indústria e tecnologia de ponta invejáveis e se tornou no principal interlocutor comercial do Ocidente, fabricando tudo o que é possível imaginar, para as maiores multinacionais do mundo.
Se percorrermos as prateleiras dos supermercados e de muitas outras lojas, as de electrodomésticos, fotografia e informática incluídas, facilmente verificamos que uma percentagem elevadíssima de artigos é «made in China».
Há dias, pude constatar, porém, que alguns hipermercados também já estão a concorrer com as lojas dos chineses. Para além do seu horário alargado relativamente às lojas normais, apresentam algumas zonas com múltiplos produtos de utilidades correntes, a um, dois, três euros, todos de origem chinesa, importados directamente da China, como fazem os respectivos armazéns chineses de distribuição. A concorrência obriga.
Mas o fim da era das vacas gordas, que já é latente, também parece estar a trazer consequências para os chineses. A crise económica é mundial e a economia da China também sofrerá os efeitos da lenta mas progressiva ocidentalização do seu tradicional estilo de vida.
O bilião de bons compradores ocidentais dos seus próprios produtos fabricados na China, retrae-se nas compras, as exportações chinesas sofrem já esse impacto negativo e o crescimento do famoso PIB chinês está em queda vertiginosa, originando-se, deste modo o ciclo da desgraça, consubstanciado na velha história da pescadinha de rabo na boca…
Não sei, dadas as circunstâncias, se o número de chineses em Portugal vai continuar a subir ou não. Mas uma coisa é certa, o número de portugueses a emigrar para Angola tem vindo a crescer, de forma que já são cerca de 80.000, nos dias de hoje, os residentes naquele grande e promissor país.
As dificuldades são muitas, mas há gente que não tem nada a perder e as oportunidades, num país onde quase tudo está por fazer, também são grandes, para quem souber aproveitá-las.
Uma interessante reportagem que acabei de ler há pouco, citava o caso de Ana, uma desempregada em Portugal, de 49 anos de idade e desesperada. Ela nem acreditava que tinha encontrado emprego por anúncio, com tanta facilidade. Comentava simplesmente:
"Eu nem que tenha que ir semear couves e batatas, prefiro ir para Angola do que ficar por cá. Sempre vou para um país mais quente...»
Mas a vida em Angola não será tão fácil como imagina. Os seus principais adversários, na concorrência, vão ser, nas mais diversas áreas, os brasileiros e os chineses!

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