domingo, 8 de fevereiro de 2009

CHOQUE DE GERAÇÕES


A ditadura dos computadores

Surgiram, há poucos meses, as primeiras notícias sobre a intenção governamental de aplicar «chips» de identificação nas matrículas dos automóveis. Parecia uma boa medida, dada a possibilidade de caçar os que fogem ao pagamento de seguro obrigatório, os que não cumprem as regras básicas de condução nem pagam as portagens, os assaltantes tipo carjacking agora na moda, os fugitivos à justiça, etc., etc. Mas, como não há bela sem senão, logo apareceram os Velhos do Restelo, alertando para os perigos de eventual cerceamento das liberdades individuais e outras coisas…motivo pelo qual só agora, no início de Março próximo, vai ser posta em prática. Poderia ter sido ser pior, dada a nossa tradicional pecha para discussão estéril.
Devo dizer que, pessoalmente, não me preocupa nada trazer um chip na matrícula do carro, porque não estou a ver-me a cometer nenhum crime ou assalto, a não pagar ao fisco ou as portagens, a circular sem seguro obrigatório, a exigir busca da polícia, ou andar fugido à justiça. E tenciono aderir à promoção gratuita que já veio anunciada, para os que aderirem logo primeiros meses, até porque, em caso de roubo da viatura ou da matrícula, o chip ajudará a polícia a encontrá-la e aos larápios. Quem não estiver de acordo, que se amanhe como quiser.
Não há dúvida é de que o tão badalado, criticado, ridicularizado, famigerado choque tecnológico veio facilitar muito a vida à grande maioria dos cidadãos.
Se não existissem os computadores, melhor, se os cidadãos não os utilizassem, ou melhor, se não tivessem sido igualmente empurrados para isso, muitos benefícios de que usufruímos actualmente tinham-nos passado ao lado, de forma totalmente despercebida. Durante alguns anos, assim aconteceu, foi tempo perdido para nossa desgraça. Os portugueses olhavam para os computadores como boi para palácio, desvalorizando a sua utilidade, acreditando que aquilo era febre passageira, coisa de ricos, brincalhões ou gente que não tinha mais nada que fazer.
Interessante foi também a atitude de muitas pessoas cultas e responsáveis, mas conservadoras e até retrógradas, face às novas tecnologias que iam surgindo na imprensa, pensavam e teimavam, apenas para distracção e diletantismo. Lembro-me de, ainda há muito pouco tempo, ter ouvido na TV o desabafo de um digníssimo juiz conselheiro desvalorizando a utilização do computador pessoal, para o benefício do qual já não estava virado, na idade de 54 anos…Isso era para uso de gente jovem. Não julgo que estivesse a pensar que «burro velho não aprende letras»...
O certo é que, a pouco e pouco, especialmente de há meia dúzia de anos a esta parte, a utilização dos computadores foi criando raízes na sociedade portuguesa e, por via de alguma pressão administrativa, as repartições e as escolas foram entrando na era progressista dos nossos dias.
A evolução foi mais significativa ainda nos aparelhos.
Os monstruosos monitores de há poucos anos deram lugar aos finos ecrãs LCD e os grandes e pesados blocos foram paulatinamente ultrapassados pelos portáteis, a que já se substituem agora, em muitas situações, os pequenos «notebooks». Prevê-se, sem perigo de errar que, na próxima geração, ou muito antes, quem não souber manejar um destes aparelhos não conseguirá arranjar emprego, possivelmente não conseguirá mesmo sobreviver, neste mundo quase inteiramente computarizado. O computador é rei absoluto no Ensino, nas Ciências e na Investigação, na Indústria, no Comércio, nos diferentes Serviços, Públicos ou Privados, nas Forças Armadas e até na Agricultura.
Que haverá ainda, no nosso mundo eminentemente tecnológico e comodista que não sofra a influência directa ou indirecta do computador, cada vez mais miniaturizado?
Quem conseguirá ainda, nos nossos dias, ter força para resistir-lhe?
Imaginar o mundo sem comutadores, já é impossível. Mais fácil já é fantasiar sobre robots, viagens interplanetárias e, paralelamente, nos antípodas, o microcosmos e a inteligência artificial.
Também eu não me imaginava, uns anos atrás, matraqueando no simples teclado de um computador. Muito menos trocá-lo, a breve trecho, por um portátil de grande capacidade.
E ainda me lembro de fazer caretas, quando via os meus filhos, distraídos das suas obrigações escolares, agarrados ao Spectrum, de 15 Kb!!!

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