quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

BPN, O FOLHETIM INTERMINÁVEL


As dúvidas e as certezas

O Governo e o Presidente da República acharam por bem intervir rapidamente no BPN, impedindo a sua falência e tentando garantir a confiança dos cidadãos no sistema bancário português. A maioria dos partidos achou, na altura, que era provavelmente a decisão correcta. A semelhança desta situação com outras, passadas em países amigos e não só, mostra, pelo menos, que a intervenção não deve ter sido errada. Veremos.
Entretanto, com o passar dos dias e o extremar da politiquice corriqueira e balofa que inquina a nossa classe política, a evolução e divergência das opiniões partidárias foi aumentando, com acusações mútuas e suspeitas de má gestão por parte do governador do Banco de Portugal que deveria ter previsto a tempo, fiscalizado convenientemente, e evitado finalmente o que se passou no BPN. É como se a polícia fosse a culpada do roubo da fruta e o ladrão considerado inocente porque fez apenas o aproveitamento da oportunidade…
Deste modo, a averiguação que deveria ser levada a cabo por todos, aos verdadeiros culpados, nem sempre tem sido posta no lugar primeiro, como urgia, fazendo muitos cidadãos comuns pensar, instintivamente, que o verdadeiro cerne da questão estaria a ser posto de lado, por motivos inconfessáveis.
Tenho acompanhado desapaixonadamente o desenrolar do caso. Sem conhecimentos de política, de finanças ou de economia, tudo o que tem vindo a lume sobre este assunto parece-me algo estranho, desenquadrado da maneira de pensar do cidadão normal, para o qual só pode haver duas alternativas de explicação possíveis à actuação dos responsáveis pela evitada falência do banco: ou os administradores do BPN, todos ou apenas alguns, foram ignorantes e ineptos no seu trabalho, o que parece inverosímil, ou foram corruptos e coniventes. A aclaração destas premissas é fundamental e urgente e deveria ultrapassar em prioridade, tudo o demais.
De começo, a PGR pareceu intervir com rapidez, tornando arguido o principal administrador do BPN. Ficou todo o mundo à espera de que os restantes «compagnons de route» aparecessem mas, afinal, nada de novo aconteceu em vários meses, a não ser a fofoca lateral ao caso.
Também, nesse intervalo, a Assembleia da República, desejosa de intervir com o seu habitual enredo politiqueiro, tirou da cartola policial-judicial da questão, um aspecto económico-político, sem quaisquer resultados significativos, a não ser a alimentação diária da comunicação social com notícias acessórias e o aumento do descrédito da classe política perante a população. A simplicidade de uma questão de fraude ou roubo, posta nestes termos, longe de ficar simplificada, enreda-se extraordinariamente quando a política e a comunicação social se metem num assunto que deveria caber principalmente à Polícia e à Justiça, já de si lentas e complicadas…
Com tantos investigadores e comentadores em campo, é lícito perguntar em que ponto podemos situar, neste momento, as investigações em curso. Até agora, das audições de responsáveis do BPN, na Assembleia da República, só é possível retirar uma evidência: afirmam todos, como era de esperar, a sua inocência, fazem passar a mensagem de que ninguém é culpado, de que o presidente da instituição tinha uma gestão muito pessonal, de que todos tinham avisado com antecedência o BP, da fraude que estava a ser cometida. E portanto…
O único culpado é o Banco de Portugal, acusado de falta de zelo, de desleixo, de falta de clarividência, de falta de actuação atempada, na fiscalização e na tomada de medidas que se revelariam imprescindíveis.
Como o presidente do BP é do partido do governo, a tese é muito querida, não só pelos administradores do BPN já ouvidos, como pelos partidos da oposição.
Com uma cajadada se matam dois coelhos.
E assim, enquanto os políticos se divertem, lutando alegremente pelos seus interesses imediatos, a comunicação social enche folhas de papel com banalidades tornadas importantes, para assegurar a manutenção das vendas.
A Polícia investiga, investiga e pouco descobre, como é costume nestes difíceis casos de corrupção de colarinho branco.
A Justiça continuará lenta, calada e serena, até que Deus queira. Todos sabem, aliás, que o veredicto nunca será emitido antes de muitos recursos e muitos anos de árdua luta.
Entretanto, os cidadãos, já fartos da telenovela, encolhem os ombros, «ligam à terra» e continuam cientes de que o assunto terminará em aberto, passe a natural aberração, isto é, sem ficar completamente esclarecido, como vai sendo muito frequente neste país, em casos semelhantes. Infelizmente, só os inocentes poderão ainda ter dúvidas a esse respeito.

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