domingo, 15 de fevereiro de 2009

FOTOGRFIA, MARAVILHAS E MISÉRIAS


Efeitos da falência do papel

Desde que apareceram as máquinas digitais, a fotografia deixou de ser a mesma, com a redução drástica do suporte em papel, o arquivo fácil das fotos e o seu envio por e-mail instantâneo para todas as partes do mundo.
Também o tratamento da fotografia, nos computadores, veio facilitar o trabalho dos fotógrafos, permitindo-lhes obter efeitos e uma qualidade nunca vistas, sem grandes despesas ou perdas de tempo.
Por último, a queda de preço das máquinas fotográficas, quase paralela à sua sofisticação, automatismos e eficácia, culminando com o armazenamento simples e quase sem limite das fotografias obtidas num minúsculo cartão facílimo de descarregar num computador, ou de guardar no bolso, veio trazer a difusão da foto digital numa extensão nunca imaginada há bem poucos anos apenas.
Ora, como sempre acontece nestas circunstâncias, o comércio sofre alterações tremendas, no jogo tradicional dos preços, da oferta e da procura, na economia capitalista global com regras limitadas em que vivemos.
Os resultados desta proliferação espectacular dos equipamentos e das fotos digitais foi a redução drástica da fotografia tradicional, limitada ao indispensável de casos pontuais, condenada a desaparecer, na prática, dentro de muito pouco tempo. As empresas que se dedicavam a este tipo de negócio, que não se converteram a tempo a novas tecnologias, vão ter uma vida muito, muito difícil. Uma notícia de hoje refere que, neste momento, 45% das casas de fotografia ou artigos fotográficos, em Portugal, abriram falência ou estão em vias disso.
No que toca à fotografia, o que está a acontecer com a eficiência e a qualidade produtivas é uma autêntica revolução, com o desemprego brutal resultante daqueles que dependiam exclusivamente das transacções do respectivo sector
É o reverso da medalha da tecnologia que nos entusiasma e cumula de muitos benefícios e bem-estar, numa das faces, e de bastantes dificuldades na outra.
Neste caso, a perda de competitividade do papel é evidente.
Ainda não se trata da sua falência completa, nem pouco mais ou menos, mas apenas de um nicho muito importante da sua utilização. Entre outros, destaca-se o sistema do envio de correspondência ou de documentos rapidamente, de porta a porta sem transportador nem suporte, que já está a dar cabo do sistema de Correios tradicional. As tipografias, a imprensa convencional e os arquivos começam a sofrer fortemente os resultados da crise anunciada, e muitos outros sectores em que a utilização de papel era tradicional já entraram igualmente numa recessão de efeitos talvez irreversíveis.
O aumento imediato e galopante do desemprego assim resultante é o que provoca, para já, o desequilíbrio da balança da economia que traz problemas imediatos de resolução difícil.
Provavelmente só a diminuição prevista no abate das árvores poderá dar alguma alegria à Humanidade, mas a muito longo prazo, com os seus lentos efeitos benéficos sobre a natureza.
É
Mas, para já, esta é a fotografia inocente que poderemos ampliar facilmente nos ecrãs dos nossos computadores, sem necessidade de recorrer a fotógrafos, a reveladores ou artistas especializados, nem aos bons ofícios dos seculares fabricantes de papel fotográfico. E assim estaremos a contribuir, alegremente, para o seu desemprego.
Contradições permanentes deste nosso mundo de maravilhas e misérias…

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