quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

EXPORTAÇÕES NA BERLINDA



As guerrilhas e os recados da praxe

Provavelmente estarei errado mas, para mim, a Economia tem aspectos que reflectem uma confusão e uma ambiguidade terríveis, em face das crises económico-financeiras como aquela que atravessamos. É interessante, embora não tenha graça nenhuma, observar como os economistas, especialmente se são políticos, esgrimem soluções, mandando estocadas uns aos outros, apregoando a infalibilidade das suas receitas. No fundo, as populações estão cientes de que andam às aranhas.
Não está aí o mal. O mal dos economistas, julgo, está na sua falta de humildade, em não procurar em conjunto as soluções porque, muito provavelmente, a verdadeira solução de uma crise global multifacetada está na aplicação de múltiplas medidas, de acordo com as circunstâncias e as possibilidades de cada doente. Deveriam ter a coragem suficiente para fazê-lo e deixar as opções políticas preferidas para outros personagens ou para ocasião menos crítica. Podiam até indicar uma solução estudada e concertada, aos responsáveis governamentais que certamente muito agradeceriam.
Provavelmente estarei a confundir a Economia-Ciência com a Economia-Corriqueira, mas isso pouco importa, neste momento.
A verdade é que, em Portugal, a guerra politiqueiro-economéstica e jornalística vai atingindo níveis de demência caricata difíceis de suportar, para quem vê televisão ou lê a imprensa diária. O caso é que a grande maioria da população presta já pouca atenção a essa guerra, mais preocupada que anda com o emprego e o custo de vida, pouco se importando se um sábio, ou simples oportunista, elege o investimento como receita prioritária, outro prefere as exportações, um terceiro, a ajuda das pequenas empresas, um quarto a descida de impostos, um quinto a subida dos mesmos, etc. Cada cabeça, sua sentença.
O Povo sabe, instintivamente, que todos têm razão e nenhum a tem. Ele interioriza, sabiamente que, quando a manta é curta, a cabeça ou os pés ficam de fora, ou o corpo todo, se não há cautela. A guerra entre governo e oposições é paradigmática desta situação ridícula onde o correcto seria que todos trabalhassem para o mesmo e se pusessem de acordo, porque o problema é grave e não se compadece com brincadeiras partidárias interesseiras, mesmo que sejam mascaradas de coisas sérias. Cada qual bate com os punhos na mesa o mais que pode, e assim só contribuem para o afundamento do país.
Agora são as exportações que estão na berlinda
Tal como os outros, para não ficar de fora, também o PR lança ao ar a sua moeda, a ver se sai cara ou coroa, apostando na necessidade de fomentar a exportação como única solução para sair da crise! É evidente.
Mas não é evidente que seja a única! Neste ponto, mesmo sem perceber nada de economia, posso não estar de acordo. E também ele não precisa que eu esteja…
Mas a propósito, lembrei-me logo, entre várias outras empresas, da Qimonda de Vila do Conde, falida, da PSG de Mangualde, quase fechada, da Auto Europa de Palmela em redução perigosa de produção, das falências ou dificuldades dos têxteis, do calçado, dos moldes, dos hotéis de charme e dos campos de golfe, com problemas em trazer turistas e da Casa do Douro em vender o vinho do Porto aos ingleses; por último, da Corticeira Amorim a despedir pessoal, por não conseguir comprador estrangeiro para as rolhas…
Sei que estou a ser pouco rigoroso e talvez injusto, mas já foi tempo em que exportávamos analfabetos e mão-de-obra barata, sendo que alguns ainda enviam remessas avultadas, mas os nossos actuais concorrentes dos países de Leste são engenheiros e médicos.
Também sei, e todos os portugueses sabem, que não se fabricam exportações por decreto, e que, nestas ocasiões, poucos querem comprar o que não seja imprescindível…
Todos sabem que há que ajudar a investigação e a inovação, incentivar e apoiar a gente jovem e todos aqueles que queiram fazer algo de novo e de bom que possa ser útil para o país e exportável.
Todos sabem que não é de um momento para o outro que se conseguirão frutos de exportação, sobretudo de árvores que já deveriam ter sido plantadas há muitos anos.
Enfim, todos sabem que o PR até pode ter razão, mas podia ter-se explicado melhor.
Todos sabem que a crise não é só de agora, mas é agora que se torna urgente a tomada de medidas concretas para solucioná-la.
Todos sabem que ela não se compadece com recados ou ideias vagas para a plateia, discussões com troca de piropos estéreis nas bancadas, ou aproveitamentos da comunicação, como se tudo isto não passasse de uma festa em que uns deitam os foguetes, outros acendem as mechas e os últimos apanham as canas…
O Povo aguarda, impaciente e sofredor, o fim do espectáculo e a solução que tarda. O tempo deve ser de consensos e não de guerrilhas institucionais, por mais bem intencionadas que queiram fazer-nos crer.

Sem comentários: