quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

PÃO E PROZAC

Maria Antonieta e os brioches

Por causa de uma fuga do país mal conseguida e de umas respostas absurdas e infelizes dadas à populaça faminta, mas que ficaram na História, Maria Antonieta perdeu a cabeça. Outras razões não interessam para este caso.

Há uns anos, apareceu no mercado um psicofármaco, com indicações terapêuticas nos casos de depressão, de bulimia nervosa e de doença obsessiva compulsiva, a fluoxetina, comercializada inicialmente sob o nome de Prozac. Cedo começou a ser utilizado como panaceia na cura dos mais diversos males da cabeça e não só, não obstante um bom número de reacções adversas e contra indicações referenciadas. Dessa maneira, tomar Prozac passou a ser o mesmo, para muita gente, que levar pão à boca. E portanto os resultados destes exageros não se fizeram esperar.

Hoje, passados vários anos do início da utilização desse medicamento, sempre em maré-alta e por vezes descuidada, apareceu na imprensa um estudo de investigadores ingleses deitando abaixo a acção do Prozac, em determinadas circunstâncias. Logo alguns oportunistas tiraram as suas conclusões apressadas, chamando a atenção do público para os altos rendimentos das empresas farmacêuticas, com a venda do produto. Dias passados, logo a mesma imprensa publicitava que estas estavam a ficar preocupadas com as notícias que circulavam.

Também alguns comentaristas nacionais embarcaram na onda desse comentário superficial ou tendencioso. Um deles iniciava o seu artigo de opinião com a publicação da seguinte notícia:

Uma equipa de investigadores de uma universidade britânica está a deixar em pânico a indústria farmacêutica, nomeadamente os fabricantes de antidepressivos como o Prozac, o Seroxat ou os genéricos de fluoxetina, que em Portugal vendem cerca de seis milhões de embalagens por ano.

E continuava:

«O que dizem eles? Que os doentes “moderadamente deprimidos” não notam a diferença entre serem tratados com antidepressivos ou com placebos……... O género humano vive de substituições: um amor por outro, um gesto por outro, uma palavra por outra. O importante é que se acredite que a promessa de redenção e de felicidade se mantém, original e intacta. Imaginando que este estudo tem pernas para andar, iremos assistir a outra etapa: psicanalistas, psicólogos e terapeutas terão a vida mais difícil.»

Tem a sua graça, mas ofende.

A verdade é que todos os medicamentos, antes de ser aprovados e lançados no mercado, são testados contra placebos em milhares de casos e depois em populações significativas. Infelizmente, acontece que o uso que depois se faz deles, pelos pacientes e mesmo pelos próprios médicos, é muitas vezes desajustado às situações, abusivo e até contra indicado. Esse é o verdadeiro problema que deve afligir-nos.

O mesmo senhor comentava desta maneira o anunciado aumento de preço do pão:

«O preço do pão pode aumentar 50%. Há uns anos faria muita diferença; mas o País que sobrevivia a pão e sardinha já não existe e hoje evita hidratos de carbono para não prejudicar a linha. Se no séc. XVIII Maria Antonieta recomendou ao povo que comesse brioches por não ter pão, hoje diria que comessem bolachinhas. De dieta

O caso é que, mesmo hoje, no nosso país com tantos obesos, o pão ainda faz imensa falta a muita gente. Sem hidratos de carbono não se pode viver e o pão ainda é dos hidratos de carbono mais baratos.

Não dá para brincar com tal subida de preço, ainda que sob a carapaça de Maria Antonieta que por essas e por outras acabou por ficar sem cabeça. E mesmo que o país já não viva a pão e sardinha!

É claro que, se o preço dos cereais vier a subir, esse aumento irá reflectir-se imediatamente no preço do pão…e das bolachinhas referenciadas, as quais, por isso, nem sequer poderão ser consideradas alternativa fiável para ninguém!

. É provável até que, com a subida do preço do pão, venha a assistir-se, paulatinamente, ao aumento do consumo do Prozac, ou dos outros antidepressivos da concorrência....

Não se trata de nenhuma ficção. Estas são previsões para as quais não será necessário fazer nenhuma investigação, nem no Reino Unido, nem em qualquer outro país.

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