Hipóteses e perguntas pertinentes
Até hoje, não garanto que nenhum governante se tenha lembrado de mandar estudar a passagem do TGV, pela nascente do Rio Mondego, na Serra da Estrela, ou, na sua impossibilidade, pela nascente do Rio Zêzere, no Cântaro Magro! A paisagem era paradisíaca, sobretudo em dias de neve, com as faias muito direitas a bordejar o afluente do Tejo, qual chamariz de turistas como nunca se teria visto no nosso país. O comboio do chamado PI deitado, da linha proveniente de Madrid, entraria em Portugal pelas serranias de
Claro que, tecnicamente, todos estes projectos grandiosos eram viáveis. Os esquiadores nacionais, por exemplo, rejubilariam de alegria, as freguesias do Sabugueiro e de Marialva ensaiariam mesmo requerimentos para estações locais, na base de empreendimentos de utilidade turística, bem assim como as outras vilas à beira Tejo acima referidas, prevendo-se facilmente algumas manifestações populares de apoio.
Mas voltemos à realidade!
Estou certo, pensando melhor, de que a razão de não ter sido equacionado este espectacular projecto da Serra da Estrela se deveu, não a um esquecimento governamental, mas a uma imposição dos espanhóis durante o tratado de cooperação ibérico pois, dessa maneira e como se faz crer, a ser eventualmente concretizado, faria perder clientes nas pistas de esqui da Guadarrama que ficariam, assim como a cidade de Madrid, irremediavelmente condenadas.
Um professor do LNEC muito perspicaz, suspeitando entretanto da possibilidade desta opção e suas variantes, ainda teria adiantado, por sua conta e risco, que subscreveria projecto idêntico, apenas com a execução de um túnel sob a Estrela, com uma estação subterrânea no Sabugueiro, dotada de elevadores rápidos adequados, desembocando mesmo na proximidade do célebre restaurante que prepara o Cabrito com Castanhas, seguindo os esquiadores por um tapete rolante até ao alto da serra para comprar presuntos, queijos e chouriços, ou para as respectivas pistas artificiais.
Não faço ideia de qual seria a opinião dos ambientalistas a este respeito. Estamos a falar de áreas de paisagem protegida, com um subsolo rico em pedras raras pela sua dureza, cuja perfuração e destruição poderiam por em perigo a sustentação das giestas e da erva que crescem à superfície, para regalo dos pastores e dos rebanhos tradicionais de ovelhas da despovoada zona dos queijos da serra.
O certo é que, felizmente, os espanhóis, finórios e pragmáticos como sempre, bateram o pé e obrigaram-nos a meter o TGV no Alentejo, pelo meio das searas e das varas de porco preto, com as bolotas a cair sorrateiramente dos sobreiros sobre as rápidas locomotivas, espantando a sonolência natural dos condutores do comboio. Foi trigo limpo!
O grande problema que se colocou então ao governo foi ter de decidir quais seriam as estações do bólido, entre as candidaturas de Montemor-o-Novo, Vendas Novas, Estremoz, Évora, e Elvas, não falando já
Mas o governo é o governo e o povo é o povo. Já basta de filosofias!
O interessante e fundamental para o país, segundo alguns, neste momento crucial, qual encruzilhada de histórias, é apenas saber se o ministro das Obras Públicas mentiu ou não, se o fez ontem, há quinze dias ou há dois meses, se recuou ou não nalguma das decisões, se desautorizou ou foi desautorizado pelo primeiro ministro, enfim, se disse ou não que o Alentejo era um deserto, se afirmou ou não que jamais -em francês! -era uma palavra irredutível ou circunstancial….
Parece, contudo, não estou muito seguro disso, que ainda ninguém se lembrou de perguntar-lhe se fazia dieta, ou quantos quilos tinha engordado (ou emagrecido) desde a tomada de posse. Mas ainda estamos a tempo de saber…
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