sexta-feira, 8 de fevereiro de 2008

PISTOLAS NOVAS PARA CANHOTOS

A anedota da semana


Ainda não recuperei totalmente da notícia que encheu as páginas dos jornais de ontem e de anteontem, sobre a entrega das pistolas Glock, encomendadas com pompa e circunstância a uma fábrica austríaca.

Durante muito tempo, a imprensa deu conta do deficiente armamento da PSP, utilizando pistolas do tempo da outra senhora. Essas pistolas tinham sido enaltecidas quando da sua chegada a Portugal, tendo feito as delícias de outras polícias europeias, pela sua segurança, rapidez de tiro, etc. Agora eram já uns mostrengos sem segurança nenhuma, ficando a quilómetros das usadas pelas polícias estrangeiras e até pelos meliantes que por aí vêm aparecendo…sendo acusadas por alguns acidentes havidos e pela fraca actuação da PSP com o seu uso.

Vai daí, o Governo acabou por pedir às entidades competentes um estudo sério para substituir as malvadas por outras, qual último grito da eficiência e da moda, a preço conveniente, com o aval da experiência de países mais conhecedores da matéria, etc. O concurso internacional aberto para o fornecimento das cerca de 50000 pistolas foi ganho por um conceituado armeiro austríaco, comprometido, desde logo, à sua entrega num prazo pré estabelecido.

Até que enfim! A notícia foi publicitada, a polícia exultou de felicidade, a imprensa calou os apitos, os leitores e os cidadãos encheram-se de esperança no futuro combate perfeito ao crime por aí à solta.

O tempo foi passando, e a certa altura todo o mundo ficou a saber que as pistolas estavam a caminho, com algum atraso sobre a data prevista, mas nada de grave. As entregas iam iniciar-se, com a remessa das primeiras dez mil. Os guardas em breve iriam iniciar o seu treino, antes de serem feitas as atribuições definitivas e a recolha das antigas.

Mas dois factos anedóticos ocorreram então.

Em primeiro lugar, um pormenor bem pequeno veio logo ensombrar todo o esquema. Não havia coldres adequados às novas armas, pelo que todo o processo iria sofrer atraso, sabido que a sua aquisição exigia novo concurso público com prazos, formalidades e burocracias a cumprir!

E, passado o primeiro impacto dessa grande descoberta, foi decidido pelos comandos, para ganhar tempo, dar início às acções de treino dos guardas utilizadores do material recebido. O mais caricato veio logo a seguir.

A patilha de segurança e desbloqueamento das armas estava colocada no lado errado, impedindo a sua utilização eficiente e rápida, em caso de urgência, a não ser pelos guardas canhotos!

A fábrica austríaca havia mandado armas para canhotos!!!

Lá teriam as suas razões e, das duas uma: ou na Áustria os polícias atiram todos à esquerda, ou pensaram que os portugueses eram esquerdinos anormais!!! As autoridades nacionais apressaram-se logo a desmentir tal suposição. Nas forças policiais portuguesas só havia 5% de canhotos e a fábrica austríaca prontificou-se a mudar a patilha para o lado correcto, sem custos para o comprador. Do mal, o menos.

Mas o motivo da minha estupefacção não foi a colocação errada da célebre patilha, mas a falta, mais que provável, de especificação correcta e completa das características da arma encomendada, porque não vi, da parte dos comandos e na imprensa, nenhuma reclamação ou pedido de indemnização à fábrica pelo suposto erro.

E se, em vez das dez mil enviadas, tivessem chegado, de uma só vez, as cinquenta mil armas previstas na encomenda?

Por isso é que ainda não recuperei totalmente da notícia da chegada de pistolas para canhotos!

Só cá, e a complementar os problemas havidos com a entrega, por outra fábrica austríaca, de uma encomenda de carros de combate! Em conclusão: os austríacos serão assim tão broncos, ou fazem-nos? O mais certo é eu ter razão no meu diagnóstico...e preferia não ter.

Não sei se terei coragem para ler, na altura própria, a notícia da chegada da encomenda dos coldres, não venham eles também para mãos trocadas…

E, apesar de tudo, não quero ainda acreditar que os fora da lei sejam mais profissionais que as nossas forças de segurança na escolha, na compra e no manejo das armas com que atiram sem escrúpulos à polícia e aos cidadãos. Cada macaco no seu galho.

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