sábado, 1 de março de 2008

APANHADOS DE ECONOMIA BARATA

Crónica de um ignorante às aranhas

Não percebo nada de economia, isto é, cá me vou desenrascando com a minha economia caseira….e por vezes nem acerto. Sempre tive muita dificuldade em entender as conclusões dos sábios do ramo, não porque ache que o seu blá-blá-blá seja totalmente indecifrável, mas porque me dou conta, frequentemente, que elas são contraditórias e nunca permitem chegar a qualquer solução real directa dos problemas vividos pelas populações. Socorrem-se constantemente das estatísticas, dos históricos, das previsões mais ou menos falaciosas, dos «ratios» tão teóricos quão impenetráveis à compreensão dos restantes mortais que, como eu, só entendem de receitas básicas e despesas correntes, com o respectivo saldo. Por isso, os economistas de gema deveriam escrever os seus artigos em forma simples, de forma a serem compreendidos pelas populações e até pelos igualmente simples leitores vulgares da nossa imprensa. Escrever coisas complicadas para gente complicada, faz-me lembrar os articulistas dos jornais do século XIX que escreviam pomposamente, criando até, por vezes, guerras fantásticas de cultura discutível e inócua, entre si, na realidade destinadas a uns míseros leitores de uma época de população analfabeta na sua quase generalidade…

Já há muito me tinha apercebido de duas coisas:

A primeira é que a Economia, utilizando a Matemática para os seus estudos, cálculos, estatísticas ou previsões, não é, apesar disso, uma ciência exacta!

A segunda é que, por isso mesmo, permite uma coisa incrível, isto é, tirar diversas conclusões, de uma mesma solução encontrada!

Bizarro? Nada bizarro. Basta ver uma discussão político-académica entre economistas, possuidores dos mesmos dados, na televisão. Experimentem e verão que tenho razão.

Mas outra apreciação pode ser feita também, com grande realismo: as conclusões são sempre adaptadas à sensibilidade política do sábio, coisa que é impensável num físico, num químico, num matemático puro, etc.

Era o que faltava se qualquer ciência que se preze estivesse sujeita à política! A política conseguiu tapar a boca ao Galileu, mas não conseguiu inverter a marcha dos planetas em torno do sol!

Ora o que acontece com os comentaristas de economia, em Portugal, é que são eles próprios a politica! Mas, se não quisermos ser maledicentes com a política, podemos dizer que são eles próprios origem e vítimas da própria politiquice nacional!

Numa curta sequência de parágrafos publicada por um «economês» no Diário Digital, por exemplo, refere-se, no primeiro parágrafo, a tecla da «propaganda» sobre a recuperação da economia nacional e, logo a seguir, incentiva-se o investimento como a salvação da Pátria. No segundo, desvaloriza-se o crescimento obtido no PIB (1,9%) e o eventualmente previsto para o futuro próximo (2-3%). Como a carga fiscal não aumentou, desvaloriza-se, fazendo ênfase no corte de benefícios. E no último, ao contrário do primeiro, desvaloriza-se o geral dos investimentos, foca-se o provável investimento público em obras, um dos grandes motores, que sempre foi, da economia nacional, só porque é ano de eleições…e portanto conduzirá a um crescimento artificial!

É a tal economia com letra pequena que dá para tudo o que se queira!

Como eu disse acima, por vezes, certos comentadores querem fazer de uma ciência respeitável, uma falsa ciência, uma economia ao sabor da politiquice ou dos seus interesses do momento…muito fácil de praticar e transmitir à plebe, mas difícil de encobrir a quem lê com cuidado...

Falta acrescentar por último, no que ao citado artigo se refere, e para ser ainda mais explícito, que um economista comentarista de outra cor, afirmaria simplesmente o contrário, com os mesmos dados…ou, se quiser ser simpático, diria provavelmente a mesma coisa, susceptível de ser interpretada às avessas!!! Extraordinário!

Para que estava guardado este povo humilde e sofredor ao qual pertenço e não está enfeudado a nenhum loby, como agora se diz!

Mas isto é apenas mais um aspecto do país que temos, ou que certa classe de iluminados nos tenta mostrar: a capacidade inesgotável de baralhar, como num jogo de cartas, as coisas sérias e simples, para poder aplicar, na altura própria, o trunfo que têm guardado na manga!

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