domingo, 24 de fevereiro de 2008

CRÓNICA DO XEQUE-MATE SALOIO

Deixem trabalhar a PJ

Acabei de ler o comentário de um «opinion maker» da nossa praça, em que referia, entre outras passagens pouco felizes, que a demissão de um Director da PJ que reside no Porto, a Capital autónoma do Norte e do Trabalho, tinha sido um xeque-mate ao Procurador-Geral da República, que reside em Lisboa, a Capital do Poder, dos burocratas e dos malandros…Não foi escrito, mas subentende-se, é tradicional.

Achei uma certa graça e não dei grande atenção ao comentário. Trivialidades destas estou já habituado a ler, há muitos anos.

Mas, aquilo que eu julgava uma bolinha de sabão, afinal era algo mais. Tinha-se transformado num aerostato! Isto porque, mais adiante, outro comentarista encartado atirava-se ao governo como gato a bofe, culpando-o de tudo o que estava a acontecer na PJ, a coitadinha de serviço neste caso, desde o descontentamento pelos vencimentos e reformas, às guerras entre Norte e Sul, às interferências «abusivas» do Ministério Público, etc, tudo por causa da não publicação de uma certa lei reformadora…

E um terceiro referia-se às rivalidades de protagonismo entre o Ministro da Justiça e o Procurador-Geral, que teria sido ultrapassado, desautorizado, etc.

Já não aguentei mais. Que será preciso para que as pessoas que escrevem se dediquem a dar ideias, a fazer comentários justos, e deixem a fofoca permanente e destruidora? O país não necessita dessas coisas

Mas a verdade é que está na moda atirar pedras, seja a quem for que tenha um mínimo de autoridade ou queira fazer um pouco de governação. A Intifada, da invenção do Yasser Arafat e seus apoiantes, tornou-se um símbolo de luta por uma liberdade ideal inatingível, aquela que não vai a lado nenhum a não ser a guerra, a destruição, a fome e a miséria.

Ora o Governo e o Procurador são, neste momento, os detentores da Palestina cá deste Burgo e vá de atirar-lhes pedras até fartar. O magistrado, que até há uns meses era o supra sumo, despromovem-no ao nível de um vulgar funcionário. O Governo que já foi, no início, o depositário de todas as esperanças para corrigir os nossos males passados e futuros, culpa-se de todo o mal que existe, de autismo, de autoritarismo feroz, de fazer tudo à bruta…e agora, a dois anos das eleições legislativas, de tudo fazer apenas para propaganda política eleitoralista...

E aqui está o retrato fiel do espírito burguês campónio, finório e oportunista do portuguesinho desta aldeia que embandeira em arco nas festividades saloias e mata à sacholada na discussão pela gota de água do poço que já não chega ao rego da horta.

A qualquer comentarista sério que se preze exige-se, acima de tudo, independência, honestidade para lá do xeque-mate tortuoso e inteligente, da intifada violenta e popularucha, de tantos malabarismos adequados às circunstâncias ou de terrorismos alqaédicos da moda, mesmo literalmente falando.

Ninguém foi capaz de chamar a atenção, e isso era o primordial, dos senhores da PJ e do Ministério Público para o facto de que a virtude está no trabalho eficaz de conjunto para que foram criados, não na fragmentação de interesses mesquinhos. Tentou explorar-se ao máximo a polémica desnecessária e a desunião que não conduz a nada.

Deixem ao menos a PJ e o Ministério Público trabalhar, que bem são precisos ao país! Não lhes inventem ou aumentem os problemas que os afligem e, sobretudo, não fabriquem ou explorem novas tricas entre eles, que só servem para corroer as instituições e a própria Sociedade.

E quanto ao governo, ponham os erros da governação a nu, sem medo e, se souberem, alvitrem soluções e correcções, não se envergonhando de confessar também quando se enganam, ou de elogiar quando ele merece. A honestidade vale milhões!

Imaginar um xeque-mate para preencher o comentário obrigatório do dia, desancando o primeiro que aparece pela frente, não é coisa que deva fazer-se, muito menos de que eu goste.

Nem o xeque-mate foi inventado para fofocas destas.

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