segunda-feira, 11 de fevereiro de 2008

VIVA A PÁTRIA !

À espera de um novo milagre

Os portugueses são fantásticos! Num instante, sobem aos píncaros da autoestima, vulgo gabarolice, em que nos supomos os melhores do mundo…e no momento seguinte descem às profundezas do derrotismo, isto é, à sensação de total incapacidade de alguma coisa de jeito, em que até apetece morrer…

Outras populações de outros povos sobem e descem também nos seus próprios conceitos, mas com mais moderação, provavelmente devido ao seu melhor conhecimento das realidades, à sua literacia superior, ao seu calculismo estudado, à sua força de vontade comedida, persistente e nunca exagerada.

O conhecimento, o célebre «saber de experiência feito» que tão propagandeado tem sido desde há séculos, no nosso país, tirou aos portugueses a capacidade de pensar a frio, de programar seriamente o que quer que seja, sempre na sequência das experiências passadas, ou na expectativa de uma nova experiência rasteira e bacoca que venha salvar as situações mais delicadas. É o desenrascanço!

Agora, a malta está numa fossa. Não há emprego, não há dinheiro, não há perspectivas de melhoria imediata de nada…e então, que seria de esperar? Uma luta cerrada pela melhoria da situação, um esforço titânico para vir à superfície? Uma conjugação das forças vivas da nação, dos mais pequeninos aos maiorais? Uma publicidade feroz das melhores qualidades do povo e o investimento a todos os níveis na sua exaltação, na sua formação académica e profissional?

Pouco disto se nota. À subida de impostos, a maneira mais fácil e menos imaginativa de colmatar as dívidas, correspondem os portugueses com a aceitação passiva, os queixumes esperados…mas sem pensar ou procurar fazer nada susceptível de alterar a situação.

Os pequenos aguentam enquanto dura o fundo de desemprego ou o auxílio dos familiares…e depois, se não dormem ao relento nem vão à sopa dos pobres, logo se vê. Os grandes espreitam o lugar mais conveniente onde melhor rentabilizar o seu dinheiro sem esforço, até há pouco no imobiliário e agora nos empréstimos aos pequenos, afogando-os em juros altíssimos, o espectacular aumento de produtividade à portuguesa, pela negativa!

A propósito, quem falou, em tempos, no aumento da produtividade? Alguns, uns quantos visionários, ainda começaram a dizer que ele era possível, que os portugueses eram trabalhadores e iriam conseguir dar a volta ao texto…

Mas como dar a volta ao texto, se a maior parte mal sabia ler?

E foi assim que, apesar de umas quantas almas bem intencionadas e com ideias aproveitáveis, capazes de levantar o moral da rapaziada para produzir qualquer coisa, os portugueses foram metidos mais depressa no fundo, subvertidos pelos fazedores de opinião mais derrotistas, já que deitar abaixo ou mandar alguém para casa do diabo, é sempre mais fácil que indicar o caminho derto, que construir o que quer que seja.

Ontem mesmo, um conhecido jornalista do bota abaixo sistemático, atirava-se, como faz semanalmente, contra os políticos, como gato a bofe, tudo porque, segundo ele, eram peritos em mentirolas, e estariam a converter o LNEC a um determinado projecto antecipado de ponte sobre o Tejo. No fim, esperava que, com um pouco de sorte, seriam mandados para o Campo de Tiro de Alcochete…

E eu, que também não gosto de enredos e mentiras, comentei da seguinte forma, no reduzido número de caracteres permitidos:

«Mas por quê meter só os políticos no Campo de Tiro de Alcochete? Eles são apenas a amostra do resto do país, incluindo os que atiram a torto e a direito e nunca acertam. Coitado do LNEC, agora que, apesar da sua competência, até ele está na mira dos franco-atiradores!

Viva a Pátria, acima de todos os derrotismos que nos querem impor!»

Claro que também não chega dar só vivas e não fazer nada!

E, como em Portugal pouco se faz e muito se destrói, cá vamos andando «nesta apagada e vil tristeza», esperando um novo milagre, que o de Fátima já lá vai.

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