sexta-feira, 1 de agosto de 2008

A ERA DOS TRANPLANTES

Aos pares, no futebol!

Desde a descoberta da transplantação de vegetais, nos primórdios da Humanidade e, mais tarde, da enxertia nas plantas, que o homem sonhou, certamente, fazer o mesmo em animais, ou no seu semelhante. Tantos milhares de anos passados e tantas experiências falhadas até à concretização desse anseio, levaram instintivamente à utilização da palavra transplante para a mudança de órgãos ou partes deles, na espécie humana, talvez resultado de uma simples associação de ideias...

Curiosamente, a enxertia nas plantas há muito tem que ver com a melhoria das espécies e a criação ou o apuramento de raças. E na espécie humana?

Já mais que uma vez me referi, nas minhas crónicas e comentários, à generalização das transplantações por dá cá aquela palha, e também a certo tipo de transplantes mais difíceis e até mais paradigmáticos, o mais célebre dos quais foi, sem dúvida, o do coração de um dador num receptor com a vida a prazo. Ficou, dessa vez, provado em definitivo que esse órgão não passava de um motor de material orgânico de alta resistência e não tinha nada que ver com a sede das emoções, função que lhe era atribuída desde o início da Humanidade.

Verdade que o coração, bem protegido e escondido mesmo no interior do corpo, se prestava, desse modo, a todas as suposições, parecendo mais um órgão mágico que um aparelho mecânico. Depois, a corroborar a descoberta, foram usados com frequência e cada vez mais aperfeiçoados e eficientes, os motores metálicos ou plásticos, simplesmente eléctricos, a pilhas, e desprovidos de quaisquer sentimentos...

Há pouco tempo, os franceses conseguiram fazer o transplante da cara de uma moça acidentada que tinha ficado com a sua meia desfeita pela mordedura dum desses cachorros malvados que andam por aí à solta. Nem faço ideia da sensação que deve ter tido, ao ver-se ao espelho, com uma cara nova!

E já há muito foi idealizado o transplante de cabeças...e talvez até tentado em animais, a acreditar em notícias veiculadas por certa imprensa sensacionalista ou de cariz intencionalmente político. Sempre gostaria de ver se a inteligência, a memória e a vontade mudariam conforme a cabeça a funcionar, pois haveria então muitas cabeças a mudar, por aí...Para bem? Para mal? Imaginemos os problemas decorrentes e as discussões eternas acirradas, radicalizadas de legistas, filósofos, responsáveis políticos e religiosos, no mundo inteiro!

De transplantes da pele, de cabelos, de ossos, de rins, de fígados, narizes, orelhas, mãos, braços, pernas e dedos, nem vale a pena falar, de tão banalizados que se tornaram.

Mas a notícia de hoje, proveniente da Alemanha, refere-se ao transplante simultâneo de dois braços completos de um dador acidentado, a um homem de 54 anos, vítima ele próprio, dois anos atrás, de um acidente brutal.

Apesar de ter sido previamente alertado pela equipa médica para o facto de mais tarde vir a ser confrontado com umas mãos que não eram a suas, o certo é que o fulano, acordado da operação, olhou para elas e disse apenas:

-Muito bom!

Portanto, a partir daqui, a cirurgia aos pares, que já é uma realidade, correrá, imagino, célere para a vulgarização, a prazo. Tal o faz supor a velocidade do avanço da ciência e das técnicas implementadas.

Deus nos livre a todos destes acidentes e respectivas habilidades cirúrgicas, por mais bem sucedidas que sejam. E no entanto, há que agradecer a estas equipas de médicos, enfermeiros, cirurgiões, biólogos, farmacêuticos, engenheiros, técnicos de toda a ordem que colaboram em cada nova descoberta ou novo avanço.

Com um pouco de alegria, de ironia ou sadismo que sempre acompanha cada vitória, até apetece dizer que, a partir de hoje, aos pares, é mais barato!

Não resisto a transcrever o comentário jocoso feito à notícia por um provável adepto descontente com a sua equipa de futebol:

«- Estou boquiaberto! Há jogadores do Benfica que vão aproveitar este progresso para transplantar as duas pernas.»

O Benfica que me perdoe.

Sem comentários: