sexta-feira, 15 de agosto de 2008

OLIMPÍADAS EM PEQUIM-II

O espectacular banalizado

Já começo a estar cansado das Olimpíadas, em Pequim, apresentadas a toda a hora na Comunicação Social, de tal forma que nem resta tempo para respirar! Fazem-me lembrar Florença com as suas numerosas e espectaculares obras de arte, tantas e tão belas que, aos meus olhos de turista curioso, acabaram banalizadas, ao fim do segundo dia de visita à cidade!!!

Não quero, evidentemente, dizer que não gosto. Pelo contrário, adorei especialmente uma cerimónia de inauguração fantástica sob diversos pontos de vista, ultrapassando tudo o que, desde o começo destes certames, fora realizado até agora. Seria, pois, bem difícil não gostar. Provavelmente não existe mesmo ninguém que não tenha gostado.

Mas o aparato, tantas vezes repetido, das competições, dos resultados, dos comentários, da politiquice e da fofoca subjacentes, acaba por cansar o mais resistente. O bom, como disse, acaba por ser banalizado e o mau sempre explorado pelos oportunistas do costume. O desporto não escapa à regra.

A competição desportiva tem aspectos interessantes e também muitos anacronismos. O desporto não é matemática, como desejam os treinadores dos atletas. Os resultados não são previsíveis como os jornalistas pretendem fazer crer. As emoções dos desportistas são difíceis de controlar. As assistências são sempre exigentes de vitórias e nunca são compreensivas, nas derrotas. O esforço dos atletas, dado o seu número cada vez maior, só raramente é compensado por resultados vitoriosos.

Estas são as principais certezas entre tantas aberrações da época competitiva em que vivemos na qual o desporto amador foi simplesmente desvalorizado e profissionalizado, deixando de ser o que era, e transformando-se quase numa luta de galos pela sobrevivência, outro perfeito anacronismo ante o espírito olímpico feito de fraternidade, sem ouros nem medalhas, mas com simples e simbólicas coroas de oliveira, como prémio.

Ora o profissionalismo trouxe consigo o exagero competitivo, de forma que, muitas vezes, os atletas atingem o limite do esforço físico pagando com o sofrimento e a falta de saúde a curto prazo. Geralmente, estes desportistas de alta competição atingem o máximo esplendor físico pelos trinta anos, ou menos ainda, e a sua longevidade é curta.

Também a propaganda, o poder político, o poder económico e os media completam o quadro negativo desse desporto de alta competição. Mas é impossível voltar atrás.

Que virá a seguir? Será que um dia chegaremos ao cúmulo de tratar os atletas como os gladiadores ou animais de circo a abater, por entre vivas da assistência aos vencedores, tal como nas arenas romanas?

Mas a glória destes também é efémera e só dura enquanto demonstrarem poder físico para repetir as proezas, entrando no esquecimento rápido, ao menor falhanço.

Tudo isto me veio à lembrança, à terceira vez que vi, em retrospectiva, num curto espaço de tempo, a cerimónia da inauguração das Olimpíadas de Pequim, já entrecortada pelas competições, as entrevistas, as alegrias e alguns choros de atletas, os vivas e os impropérios da assistência...

E jurei para mim mesmo parar um pouco, para poder apreciar melhor, calmamente, mais tarde para não abandalhar, essa primeira visão fantástica da abertura destes jogos de Pequim que me deixou encantado.

Foi um espectáculo único, digno de ver-se por muitos, muitos anos! Não há necessidade de transformá-lo num espectáculo corriqueiro e banal...

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