segunda-feira, 25 de agosto de 2008

TRANQUILIDADE

Crime e segurança politiqueira

Na época passada, um respeitável e bem conhecido treinador de futebol ficou célebre pela utilização da palavra tranquilidade a propósito de tudo e de nada, facto que foi aproveitado pelos «Gato Fedorento» para um dos seus programas cómicos mais bem conseguidos da TV.

Os tempos eram outros. De há um ano a esta parte, para ser mais preciso talvez desde o começo deste ano, uma onda de crimes violentos a que não estávamos habituados tem varrido o país, trazendo as populações de certas zonas em sobressalto, de nada valendo as recomendações de tranquilidade que as autoridades tentam fazer passar na Comunicação Social. A verdade também é que esta onda tem sido habilmente cavalgada pelas Magistraturas e aproveitada ou explorada igualmente por essa mesma Comunicação Social, à falta de grandes notícias, com a política em férias.

A Procuradoria e os senhores Juízes, tantas vezes acusados de soltarem os presos, antes da reforma do Código Penal, como de atulharem as cadeias com presos em prisões preventivas por dá cá aquela palha, encontraram no aumento da criminalidade a justificação para a sua não concordância com a reforma do Código. Se dantes eram as populações que se queixavam das suas decisões de soltura dos criminosos entregues pela polícia, no tempo em que o Código lhes permitia encerrá-los na cadeia, para protecção dos cidadãos, agora que o Código restringe certos abusos de utilização da prisão preventiva, encontraram a sua tábua de salvação. A culpa, para eles, é exclusivamente do novo Código Penal e dos políticos que o aprovaram.

Lá se foi a tranquilidade do sistema e das gentes! Parece que essa mesma tranquilidade tomou conta dos criminosos que por aí abundam, tantos como os treinadores de bancada sugerindo soluções para a resolução do problema. Alguns vociferam:

-Prendam os bandidos! Não os soltem! Aumentem as penas!

Outros ainda vão mais longe:

-Ponham mais polícia nas ruas! Dêem-lhe mais autoridade! Que atirem a matar, se for preciso!

-Um partido da Oposição, autor do célebre decreto das Super Esquadras à custa do policiamento de proximidade, deu também a sua opinião abalizada e definitiva para acabar com o crime:

-Demita-se, senhor Ministro!

Os comentaristas que exploram a situação aventam também soluções interessantes:

-Corrijam o novo Código Penal! Aumentem o número de polícias! Reforcem o policiamento das bombas de gasolina, das carrinhas de valores, das agências bancárias, dos tribunais, dos supermercados, dos bairros problemáticos, de tudo o que mexe!...

Estes e outros perguntam e dão a resposta sábia:

-De quem é a culpa? Do governo!

O caricato de tudo isto é que ninguém tem uma ideia, uma só ideia luminosa que possa resolver ou ajudar a resolver este problema. Este ou qualquer outro!

Como em todas as questões que assoberbam o país, os corriqueiros treinadores de bancada proliferam.

Um deles, partidário do Código Penal anterior que dantes criticava asperamente, até gozava com a ausência de férias do «esforçado» Ministro de Administração Interna sempre agarrado ao telemóvel, tentando fazer concorrência aos bandidos nas horas extraordinárias.

Respondi-lhe no mesmo tom jocoso:

«Se eu fosse ministro e seguisse as directivas de todos os treinadores de bancada que por aí abundam, metia meio mundo em prisão preventiva e publicava um decreto a proibir o crime à outra metade que ficasse em liberdade. Era remédio santo e teríamos todos tranquilidade absoluta. Não seria necessário formar mais polícias, e podia mandar o telemóvel às ortigas. Fácil, meu caro Watson!»

Quero apenas acrescentar, a finalizar estas linhas, que não tenho procuração do Ministro ou do Governo, nem pertenço a qualquer partido político. Detesto apenas a politiquice.

Como todos os portugueses, gostaria de ver este magno problema resolvido. Mas, infelizmente, confesso com humildade que não tenho a solução.

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