segunda-feira, 18 de agosto de 2008

OLIMPÍADAS EM PEQUIM-III

A lição do rei

Um atleta que ganha uma medalha de oiro nos Jogos Olímpicos, nos dias de hoje, é um fenómeno! Mas como devemos classificar um atleta que ganha oito medalhas? Não sei. Talvez um super fenómeno ou, prosaicamente, o rei das medalhas

Há uns cinquenta e tal anos, fui assistir, no Estádio Nacional, a uma sessão de propaganda e promoção do desporto, para a qual haviam sido convocados os melhores atletas do país e convidado expressamente um atleta norte americano, vencedor do pentatlo nas primeiras olimpíadas do pós guerra. Pois nas competições em que entrou, o atleta em referência ganhou todas as provas aos campeões portugueses que com ele haviam sido confrontados.

Isto pode dar uma ideia da dimensão do desporto português, na altura. Uma marca que me ficou na memória foi a do salto à vara que o fulano estabeleceu em 4,51 metros, contra 3,80 do campeão português.

Muito longe estão as marcas obtidas nos tempos de hoje, não só porque os atletas são mais eficientes, mas até porque as varas são de um material extremamente leve e flexível que não existia na altura. Mesmo assim, esta desproporção de valores deixou-me aparvalhado!

Não sei exactamente quantos países concorriam na altura, aos jogos olímpicos. Seriam alguns 50 ou 60, e um total de cerca de mil ou dois mil atletas?..Actualmente, com mais de 200 nações e 6000 atletas a competir, a conquista de medalhas já não é o passeio que era antigamente, muito menos no tempo dos gregos de setecentos antes de Cristo.

Por isso, a conquista de uma medalha de ouro, mesmo de prata ou de bronze é, actualmente, uma coisa cada mais difícil, só acessível, na realidade a atletas de eleição, tanto pela sua condição física, como pelo trabalho exaustivo e persistente de preparação e treino durante anos, exigências que, em muitos casos, há cinquenta anos apenas, para não ir mais longe, nem sequer eram imaginadas.

Também certas artimanhas, como a utilização de hormonas, de anfetaminas e derivados sanguíneos, estão a ser combatidas sem piedade.

Mas então, como é possível um atleta ganhar oito medalhas de oiro, numas olimpíadas?

Como foi possível?

Certamente com muito trabalho, paciência, determinação, persistência, esforço individual, honestidade, privação de muitos prazeres habituais ao longo de vários anos, eu sei lá, numa idade em que todas estas qualidades são esquecidas por tantas apetências que a vida oferece, no objectivo ambicionado da vida fácil, sem sacrifícios...

Sendo assim, como seria fácil, conceber a glória, a soberba, a importância, o orgulho deste rei das Olimpíadas de Pequim, recordista do Guiness, herói do desporto da nação mais importante e poderosa da Terra! Quantos desportistas não invejariam realizar o seu feito? Quantos não se sentem importantes e soberbos, com um simples bronze?

E no entanto, isso que nós os leigos na matéria podemos imaginar, não tem nada que ver com a resposta simples, despretensiosa dum rei de 23 anos apenas, a um jornalista que lhe perguntou, à queima roupa, depois de alcançar a oitava medalha, que sentia, depois da proeza que acabava de realizar:

- «Nem sei o que sinto neste momento. Há demasiadas emoções a passar por mim. Penso que só gostaria de ver a minha mãe».

Aqui está uma lição que dificilmente poderá ser esquecida.

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