domingo, 24 de agosto de 2008

POLÍTICOS

A ambição e o castigo a prazo

Uma estatística recente dizia que «Os portugueses avaliam de forma positiva o trabalho desenvolvido pelo bombeiros (94 por cento), carteiros (89 por cento) e professores da escola primária e secundária (89 por cento). Em quarto lugar, surgem os médicos (87 por cento), seguindo-se os militares (80 por cento) e os polícias (75 por cento).

Só 14 por cento dos portugueses inquiridos manifestaram confiança nos políticos, aos quais deram nota negativa, juntamente com os publicitários (40 por cento), os empresários de grandes empresas (41 por cento) e os banqueiros (46 por cento).»

Mas será que devemos encarar estas afirmações, simplesmente à letra?

A verdade é que os políticos são gente muito especial. Considerados pela população em geral como a nata imprescindível dos executivos de um país, são, simultaneamente, acusados das maiores arbitrariedades, das maiores incompetências, das maiores fraudes, dos maiores abusos, dos maiores roubos...até dos maiores crimes. É caso para dizer que os políticos são os maiores vigaristas existentes à face da terra, necessários, contudo, ao governo das nações. Mesmo assim, são inicialmente queridos das gentes, ganham as votações, são adorados por elas com a mais descarada subserviência, são utilizados com perspicácia para a obtenção de grandes proventos, para a propaganda das maiores vaidades, para a convivência no maior luxo e honrarias, em suma, para a obtenção das maiores benesses...

Também os políticos são usados como motivo de notícia e dos comentários mais diversos por parte dos media que deles igualmente tiram proveito. Servem para fazer as leis do país, para fazê-las cumprir, para revogá-las também, ultrapassá-las, contorná-las, e até ridicularizá-las, às vezes.

Não há nada que um verdadeiro político, na sua ambição, não se julgue capaz de fazer. Mas em breve irá ter a fama de havê-lo feito, sem que isso aconteça...e também exactamente do seu contrário! A imprensa que o diga.

Poderá parecer incrível, à primeira vista, mas é por isso que há tantos cidadãos a querer ser políticos, quase tantos como cidadãos a desejar ser jornalistas, para poder noticiar ou enaltecer os seus próprios feitos nas colunas dos periódicos...ou denegrir os dos adversários! E sempre sob a capa da verdade, política ou jornalística, tanto faz.

Com frequência, pois, os políticos tornam-se jornalistas e estes se transformam naqueles, numa promiscuidade nada saudável. É o que está a dar.

E, pelo contrário, apesar dos louvores subjacentes ao inquérito acima citado, já ninguém quer ser bombeiro, carteiro, professor, militar ou polícia! E ser médico é quase proibido...

Mas que havemos de fazer?

A vida é assim, feita destas incongruências tornadas anseios, destas virtudes tornadas defeitos, destes vícios tornados virtudes obsessivas, desta mescla de pedras preciosas e ovos podres que a sociedade leva aos píncaros ou deita na fossa, mas que não é capaz de ultrapassar pela positiva.

Afinal, bem vistas as coisas, que são os políticos mais que os outros cidadãos? Porque hão de ser melhores ou piores que os outros, se a massa de que são feitos é a mesma?

E que culpa têm eles, daquilo que os acusamos?

Fomos nós que os glorificamos, na nossa feira de vaidades, e logo os levamos ao Céu. Na nossa ingenuidade ou presunção, nós os fizemos deuses.

E, contudo, nós os mandamos, como juízes infalíveis, pouco tempo depois, para o Inferno.

Na certeza de que nunca, nunca nos julgamos culpados do que fazemos, e pretendemos, isso sim, julgá-los sempre pela bitola baixa.

Diz a notícia que só 14% dos portugueses inquiridos manifestaram confiança nos políticos, a quem deram nota negativa...

Serão mais? Serão menos? São muitos ou poucos? Quem garante? Vendo-a conforme a li, num periódico credenciado.

Mas, pela minha parte, não posso concordar com a percentagem apresentada. A mim não perguntaram...

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