sábado, 12 de julho de 2008

TIROTEIOS NA RUA

A sachola fora da média

Este país de brandos costumes que todos conheciam, ainda há cinquenta anos povoado de gente analfabeta, humilde e pacífica, está a transformar-se, pouco a pouco. Não é de admirar. Todo o mundo é sujeito a mudança, como dizia o poeta.

Mas o curioso da questão é que, contra tudo o que seria de esperar, à medida que a alfabetização e a qualidade de vida vão melhorando, o celebrado pacifismo das gentes torna-se cada vez mais uma miragem. E assim, se há cinquenta anos eram conhecidas e verberadas as mortes à facada e à sacholada, por questões de ciúmes ou da água de rega, agora começam a ser frequentes as mortes a tiro que nem sequer exigem um mínimo de força física.

Claro, ninguém hoje usa facas longas, a não ser os magarefes, e muito menos as sacholas. Provavelmente, até muito pouca gente saberá, actualmente, o que é uma sachola, quanto mais usá-la para o fim a que se destinava, na agricultura, ou ainda para outra qualquer finalidade mais violenta e aberrante!

Ora, com o pessoal quase todo alfabetizado, quem há que não saiba ler as instruções de uma pistola, ou de uma espingarda automática, tomando as precauções necessárias para evitar um acidente? Mas também é certo que em Portugal não existe a cultura de ler as instruções de nenhum equipamento, por mais complicado que seja, bastando a tradicional esperteza e, se não for suficiente, o célebre desenrascanço. Mas isto são apenas considerações gratuitas.

O certo é que, geralmente, quem usa estes artefactos perigosos, não tem licença de uso e porte de arma, e também não precisou, alguma vez na vida, de ler as instruções respectivas, nem os códigos da Justiça. Mas aprende, com uma facilidade espantosa, como carregar os cartuchos e puxar o gatilho, apontando sempre no sentido de quem lhe oferece resistência, quer seja num assalto a uma gasolineira ou a um multibanco, quer se trate do «carjacking» actualmente na moda, ou de algum ajuste de contas no reino da droga, etc., etc., com a polícia a apanhar também por tabela, de vez em quando.

Durante dois dias, em certo bairro da periferia de Loures, houve violento tiroteio, ao que parece entre dois bandos, possivelmente dois grupos étnicos rivais, de que resultaram várias pessoas feridas e só por verdadeiro milagre não houve alguns mortos.

A PSP interveio, lá foi caçando algumas armas ilegais e apanhando alguns energúmenos, mas nada que deixe tranquilos os habitantes do lugar.

Era apenas o que faltava! Tiroteio nas ruas, como num filme do Far West!

Parece, portanto, que aprender a ler, ser instruído e ter cursos superiores, apenas, não chega. É preciso algo mais, muito mais, a educação!

Por alguma razão, o ministério que se ocupa da instrução das populações, se chama Ministério da Educação. Mas a verdade é que só a vertente da Instrução tem ocupado os governantes, as autarquias e os professores, de há muitas dezenas de anos a esta parte.

O civismo e o comportamento em sociedade que deviam ocupar boa parte do ensino, na família e na escola, têm sido descurados sistematicamente, pelos pais e pelos professores, dando lugar à permissividade, ao abandono, à falta de um mínimo de disciplina cívica que nos permita conviver em paz com o nosso semelhante, seja de que estrato social, raça, religião ou cor política for. E a Comunicação Social, publicitando desastradamente, ou promovendo incondicionalmente as aberrações do dia a dia, escudada numa falsa ideia da liberdade de imprensa irresponsável, também concorre alegremente para o descalabro.

Já não somos a Nação de gente humilde, respeitadora e boazinha, com 70% de analfabetos, como nos anos quarenta. Passamos, segundo as estatísticas, para os 6%. Claro, ainda falta um pouco para acabar com essa chaga.

Mesmo assim, o País lá vai ficando cada vez mais instruído, mais perto das médias europeias. Mas também, paralelamente, cada vez mais mal-educado, mais agressivo, aproximando-se, pouco a pouco, da violência, em actos e números, registada nas tais médias europeias tão badaladas, por mais eficiente e numerosa que seja a polícia posta nas ruas.

E, neste particular, ao contrário de outros, dispensávamos essa aproximação...

Sem comentários: