Mas o curioso da questão é que, contra tudo o que seria de esperar, à medida que a alfabetização e a qualidade de vida vão melhorando, o celebrado pacifismo das gentes torna-se cada vez mais uma miragem. E assim, se há cinquenta anos eram conhecidas e verberadas as mortes à facada e à sacholada, por questões de ciúmes ou da água de rega, agora começam a ser frequentes as mortes a tiro que nem sequer exigem um mínimo de força física.
Claro, ninguém hoje usa facas longas, a não ser os magarefes, e muito menos as sacholas. Provavelmente, até muito pouca gente saberá, actualmente, o que é uma sachola, quanto mais usá-la para o fim a que se destinava, na agricultura, ou ainda para outra qualquer finalidade mais violenta e aberrante!
Ora, com o pessoal quase todo alfabetizado, quem há que não saiba ler as instruções de uma pistola, ou de uma espingarda automática, tomando as precauções necessárias para evitar um acidente? Mas também é certo que em Portugal não existe a cultura de ler as instruções de nenhum equipamento, por mais complicado que seja, bastando a tradicional esperteza e, se não for suficiente, o célebre desenrascanço. Mas isto são apenas considerações gratuitas.
O certo é que, geralmente, quem usa estes artefactos perigosos, não tem licença de uso e porte de arma, e também não precisou, alguma vez na vida, de ler as instruções respectivas, nem os códigos da Justiça. Mas aprende, com uma facilidade espantosa, como carregar os cartuchos e puxar o gatilho, apontando sempre no sentido de quem lhe oferece resistência, quer seja num assalto a uma gasolineira ou a um multibanco, quer se trate do «carjacking» actualmente na moda, ou de algum ajuste de contas no reino da droga, etc., etc., com a polícia a apanhar também por tabela, de vez em quando.
Era apenas o que faltava! Tiroteio nas ruas, como num filme do Far West!
Parece, portanto, que aprender a ler, ser instruído e ter cursos superiores, apenas, não chega. É preciso algo mais, muito mais, a educação!
Por alguma razão, o ministério que se ocupa da instrução das populações, se chama Ministério da Educação. Mas a verdade é que só a vertente da Instrução tem ocupado os governantes, as autarquias e os professores, de há muitas dezenas de anos a esta parte.
O civismo e o comportamento em sociedade que deviam ocupar boa parte do ensino, na família e na escola, têm sido descurados sistematicamente, pelos pais e pelos professores, dando lugar à permissividade, ao abandono, à falta de um mínimo de disciplina cívica que nos permita conviver em paz com o nosso semelhante, seja de que estrato social, raça, religião ou cor política for. E a Comunicação Social, publicitando desastradamente, ou promovendo incondicionalmente as aberrações do dia a dia, escudada numa falsa ideia da liberdade de imprensa irresponsável, também concorre alegremente para o descalabro.
Já não somos a Nação de gente humilde, respeitadora e boazinha, com 70% de analfabetos, como nos anos quarenta. Passamos, segundo as estatísticas, para os 6%. Claro, ainda falta um pouco para acabar com essa chaga.
Mesmo assim, o País lá vai ficando cada vez mais instruído, mais perto das médias europeias. Mas também, paralelamente, cada vez mais mal-educado, mais agressivo, aproximando-se, pouco a pouco, da violência, em actos e números, registada nas tais médias europeias tão badaladas, por mais eficiente e numerosa que seja a polícia posta nas ruas.
E, neste particular, ao contrário de outros, dispensávamos essa aproximação...
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