O efeito da pica chinesa
Longe vão já os tempos em que a propaganda partidária rasteira ganhava pontos acusando os adversários políticos de aprovar a aplicação da pica atrás da orelha aos recalcitrantes, pelos regimes considerados despóticos, sinónimo de eliminação certa, sem deixar marcas...
A Medicina Ocidental, a pouco e pouco, vai aceitando, ou aproveitando à socapa, práticas das chamadas medicinas alternativas, entre as quais algumas da Medicina Tradicional Chinesa, tantas vezes classificadas como irrisórias e mal fundamentadas, apesar da sua utilização ancestral.
Agora, contudo, algumas dessas técnicas consideradas ainda há anos absurdas e ridículas, como a acupuntura, começam a ser olhadas com uma certa condescendência e até interesse pelos clínicos, depois de alguns pacientes, no Ocidente, se terem sujeitado à sua aplicação com bons resultados, para surpresa de muitos.
A verdade é que ainda não está provada, cientificamente, a base da acupuntura e a sua relação de causa efeito que os chineses tratam de explicar à sua maneira e preconizam desde alguns milhares de anos a esta parte, servindo-se dela com bons resultados. Mas a ciência lá chegará, para explicar e comprovar, mais ano menos ano, os resultados empíricos e de observação dos sábios chineses.
Entretanto, empiricamente segundo os ocidentais, ou cientificamente, segundo a explicação dos médicos chineses, a técnica de acupuntura vai ganhando pontos no Ocidente, como técnica «simples», eficaz, económica e de efeitos colaterais muito reduzidos, relativamente aos anestésicos de uso mais corrente, começando a ser aplicada em situações variadas, especialmente em casos de ansiedade e de anestesia nalgumas intervenções cirúrgicas, como hoje noticia um jornal português cujo título e subtítulo dizem assim:
«Hospital anestesia com acupunctura»
«Saúde. Redução de efeitos adversos da anestesia tradicional é um objectivo».
Mas o mais curioso da notícia é que a inauguração oficial da técnica de acupuntura em cirurgia, no dito hospital se deve ao pedido e sujeição de uma paciente que, profissionalmente, é médica no respectivo centro de operações! «Logo depois da operação, já garantia que pode aconselhar a anestesia com agulhas porque "nem sentiu dores, nem nada" e evitou as alergias, náuseas e má disposição que as anestesias locais e gerais podem provocar».
É interessante ver como certos preconceitos estão a ser ultrapassados, neste e noutros domínios. Também aqui a globalização da informação está a dar os seus frutos, nem sempre bons, nem sempre maus, mas permitindo, ao menos, a troca de ideias, de conhecimentos e práticas. Neste caso, em benefício da saúde da espécie humana.
E pensarmos nós que, ainda em pleno século XIX, a anestesia para a amputação de um membro consistia numa boa dose de aguardente, com o paciente bem amarrado...
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