quarta-feira, 30 de julho de 2008

ASSEMBLEIA DE FALTOSOS

Exemplo dispensável

Uma notícia badalada hoje, relativamente à Assembleia da República, refere o número de faltas dos senhores deputados às sessões legislativas, podendo tirar-se, desde já, algumas conclusões.

Em primeiro lugar, que os deputados do PEV, com 1 falta e do PCP, com 3,6 faltas por sessão, são os mais assíduos, subindo este número a 4,5 para o CDS-PP, 5, para o PS, superior a 5 para o Bloco e a 9, para o PSD, o grupo mais faltoso.

Já estava à espera de uma coisa destas, pois as imagens da Assembleia com numerosas cadeiras vazias, mostradas pela TV, eram bem esclarecedoras e só faltavam os números a complementá-las, dando o resultado de 1404 faltas, para os 230 deputados.

É uma Assembleia onde os faltosos se fazem notar, com uma média superior a 6 deputados por sessão legislativa, o que significa mais de 2,6 % de deputados ausentes, em média, em cada uma! Certo é também que, nalgumas sessões, como toda a gente aprecia pelas imagens da TV, a percentagem de faltosos é vergonhosa! É o caso das vésperas das pontes de feriado, por exemplo e, nestas alturas, a forma de proceder dos senhores deputados não se distingue da que pratica uma boa parte da população empregada do país. E não só.

Mas será demais, nos tempos que correm, a média dos 2,6%? Talvez não, mas é, acima de tudo, questionável!

Atendendo a que os senhores deputados são o espelho da Nação, parece-me que deveriam ter mais cuidado com a imagem que reflectem ao povo que os observa.

Por obrigação de ofício, porque têm mais responsabilidades e melhores condições de vida que a maioria das gentes que neles votaram, exige-se deles, sempre, o bom exemplo.

Dos maus que nos impingem por aí, estão os portugueses fartos!

A FRASE DO DIA 23-11-2007

Não lembra ao diabo!

Relendo alguns textos arquivados, dei com uma carta enviada ao director do Público, a propósito de uma especial referência feita por esse jornal. Por me parecer que mantém toda a actualidade, aqui registo a carta, a seguir à notícia que lhe deu origem:

«A frase
"A administração fiscal converteu-se numa organização cujo principal objectivo é gerir com eficácia um aparato burocrático e legislativo dedicado a extorquir dinheiro aos cidadãos". Manuel Carvalho, Público, 23-11-2007.»

«A carta ao Director do Público (23-11-2007…22:29)
«Senhor Director:
«Li com alguma apreensão a frase do dia 23-11, escolhida pelo Público, sobre um «aparato burocrático e legislativo dedicado a extorquir dinheiro aos cidadãos». Já tenho lido coisas piores, mas esta também não tem graça. Não conheço, nem boa parte dos leitores, o contexto em que a frase foi escrita mas, de qualquer maneira, fez-me lembrar um e-mail que recebi, pedindo cadeia de transmissão a prevenir os amigos, a propósito dos «criminosos» radares instalados nas portagens das auto-estradas, proporcionando multas de 150 euros ou até a retenção da carta, aos passadores além dos 60 km horários estipulados…

Não há dúvida de que Portugal é um país de brandos costumes e, sobretudo, de uma permissividade tradicional relativamente ao cumprimento das leis. Os cidadãos entretêm-se, nas horas vagas, a descobrir ou publicitar a maneira de transgredi-las. Só faltava, já agora, a Imprensa também colaborar nessa «rebaldaria», demitindo-se, mais uma vez, da sua função de formação do cidadão comum!

Uma frase como aquela, uma vez escolhida, merecia, por isso mesmo, o comentário adequado, da parte do jornal. É evidente que, se todos os cidadãos pagassem honradamente as suas contribuições, quase poderíamos dispensar a tal máquina burocrática…a fazer o papel de polícia. E assim, talvez cada um de nós pagasse um pouco menos…

Eis Portugal no seu melhor!

Os meus cumprimentos.

J. Rodrigues

Alfragide»

segunda-feira, 28 de julho de 2008

CIENTISTA PORTUGUESA DE TOPO

Um exemplo a multiplicar

Uma grande descoberta portuguesa foi anunciada, há dias, no campo das Nanotecnologias da Engenharia por uma investigadora e professora, ainda jovem, da Universidade Nova de Lisboa.

Num país que passa o tempo a badalar desgraças e, o que é pior, a aumentá-las para se sentir cada vez mais coitadinho, aqui está uma notícia de vulto, sobretudo contra a corrente daquilo que nos é diariamente impingido pela Comunicação Social.

Não é ela que tem a culpa das notícias, pois não as fabrica, mas, pertencendo os seus editores e redactores à mesma massa dos que constituem o resto da população, não podia deixar de ampliar, com os seus meios poderosos, aqueles males de que os portugueses enfermam, tanto se queixam ... e algumas vezes até eles próprios forjam.

Seria bom para todos nós que casos como estes fossem divulgados pela C. S. e incentivados pelas autoridades, apresentados nas escolas e tomados como exemplo pela população em geral ávida de auto estima que tantos se esmeram sistematicamente em deitar abaixo!

Uma estação de TV teve a «ousadia» de entrevistar a Doutora-investigadora, num nicho de tempo disponibilizado entre as banalidades que enchem os ecrãs. Foi uma lança em África! As outras, pouco disseram sobre este tema, preferindo distinguir e desenvolver os assaltos à mão armada, as telenovelas, os desafios de futebol, a tradicional maledicência e coscuvilhice, ou a politiquice do dia.

Mas no estrangeiro, com quem passamos o tempo a comparar-nos, sempre no mau sentido, houve logo quem se interessasse pelo invento, desde universidades a grandes empresas, enchendo a Internet de notícias em sites de muitos milhões de visitantes e, para cúmulo, um importante organismo internacional decidiu dar o primeiro prémio do ano (o equivalente a um Nobel), à nossa investigadora, modesta como todos os cérebros das grandes descobertas e, como eles, trabalhando com meios limitados, como é tradicional...

Donde se prova que, geralmente, os que passam o tempo a reclamar a falta de meios se igualam àqueles que têm meios em excesso, sendo que todos eles muito raramente inventam algo de jeito!

Claro, estou certo de que alguém virá dizer um dia destes, na imprensa nacional, que uma andorinha não faz a Primavera, etc. e a culpa de não haver mais casos destes é de um governo ou de um ministro qualquer...Enfim, as patacoadas do costume.

Mas já vai sendo tempo de todos nós, portugueses, aprendermos a tirar proveito da nossa inteligência, em nada inferior à dos outros povos que, humilde e saloiamente tantas vezes, consideramos superiores. E, para isso, para prová-lo, bastará apenas valorizar a nossa auto estima, pensar um pouco e trabalhar a sério, deixando a fofoca, a maledicência e a politiquice barata para os povos do terceiro mundo.

Se não o conseguirmos, só poderemos comparar-nos a eles, sem apelo nem agravo.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

MAIS OUTRO ARQUIVAMENTO

Justificações de um trio respeitável

Depois do arquivamento do caso Maddie, já por muitos considerado como paradigma da Justiça Portuguesa tomada em sentido lato, não têm conta os artigos e comentários que têm sido publicados enchendo páginas e páginas de toda a Comunicação Social, geralmente de uma superficialidade confrangedora, relatando com o recurso a títulos bombásticos, quantas vezes, aquilo que era suposto ser reduzido a uns tantos parágrafos de textos concisos e esclarecedores. Tudo para satisfazer e incrementar a coscuvilhice doentia de grande parte dos leitores.

Mas não se pretenderia um jornalismo bonzinho, incaracterístico, apático, subserviente. Simplesmente que fosse rigoroso na informação e certeiro no comentário.

A verdade é que a maior parte desses textos agora editados faz uma crítica impiedosa à Investigação e à Justiça Portuguesa, mas limpa as mãos quanto à actuação da Imprensa, o que não é correcto, na minha perspectiva. Muitas vezes, ao longo de todo o processo, ela foi veículo de inverdades, ambiguidades e até comentários tendenciosos sempre soprados por alguém bem situado, a despeito dos muitos «segredos de justiça» que abundavam por aí.

Sejamos honestos: à semelhança de tantos outros casos, neste também houve falhanços simultâneos da Investigação, da Justiça e da Imprensa, sem grandes desculpas ou atenuantes para qualquer delas. Vir agora uma certa classe jornalística desculpar-se das fofocas apresentadas, com os erros da PJ ou do MP e o secretismo das «fontes seguras», parece-me semelhante às desculpas dos investigadores pela falta de vestígios e enredos das testemunhas, ou dos juízes pela dificuldade de fazer sentenças perfeitas na base do que a polícia conseguiu investigar, etc.

Estas são as justificações deste trio respeitável.

Deitar culpas dos fracassos para o tipo do lado, especialmente se está fragilizado, é um vício ancestral dos corporativismos nacionais, em vez de procurá-las dentro de si próprios.

Além do que, como diz o Zé-Povinho, é sempre muito mais fácil ver o argueiro no olho do vizinho...

segunda-feira, 21 de julho de 2008

UMA CÂMARA DE LETRADOS

Os deputados que elegemos


Hoje deu-me para escrever umas quantas frases ácidas, resultantes da apreciação de dados concretos que acabei de ler e que me encheram de perplexidade.

«Um relatório respeitante aos serviços do Parlamento indicou que mais de metade dos 230 deputados portugueses são advogados ou professores e que têm entre 41 e 60 anos. De acordo com o relatório, a Assembleia da República é constituída por 70 advogados, magistrados e outros juristas, e por 61 professores de todos os níveis de ensino.»
Ora aí está porque o Parlamento passa o tempo a botar faladura, a discutir, a desconversar, a julgar tudo e nada...a fingir que pensa e a não fazer coisa que se veja! Falta, também é evidente, um pouco mais de juventude, de audácia, de iniciativa, de acção, a dar vida à sapiência dos donos da palavra...

Além desta gente referida, fazem parte do Parlamento 20 dirigentes da Administração Pública e 14 técnicos superiores dessa mesma Administração Pública tão rotineira, burocratizada e criticada pela sociedade portuguesa.

Fazendo as contas, coisa que provavelmente alguns dos deputados referenciados já não são capazes de fazer, temos: 230-70-61-20-14=65, isto é, 28,2%, pouco mais de um quarto da Assembleia, fica disponível (não sei se está!) para todas as outras profissões que trabalham, neste país, sem ter que passar o tempo a preencher papéis, discutir ou botar sentenças.

O relatório apresenta ainda outros dados curiosos: desses 65 que sobram, fazem parte 10 deputados com profissões intelectuais, um agricultor, 2 operários, 7 engenheiros e 3 reformados. Não diz o que fazem os 22 que faltam aqui...

Também o sexo feminino continua a não ligar à política, ou é dela excluído, pois no Parlamento existem 165 homens e 65 mulheres, o que significa que o grupo de portugueses mais numeroso...e não sei se, neste momento já, o mais instruído do país (ao menos entre os adultos mais jovens), é o que tem menos representatividade política!

Muitas outras ilações poderiam ser tiradas dum estudo mais aprofundado deste relatório básico, mas estas chegarão, certamente, para nos deixar tristes e pensativos.

De vez em quando, alguém, do cimo da sua cadeira doutoral proclama que é preciso mudar Portugal, que é preciso reformar isto ou aquilo, que é preciso acabar com a burocracia, a corrupção, a ineficácia. Mas esbarra-se sempre na defesa acérrima dos benefícios, das regalias, dos «direitos» conseguidos pelas corporações dominantes.

E aqui está mais outra razão de peso que ajuda muito à falta de eficácia do Parlamento. Por isso, lá diz a sabedoria popular tão depreciada pelos «sabões» nacionais: «eles falam, falam, mas não fazem nada...»

Pensando bem, falar e discutir são direitos constitucionais dos cidadãos, entre tantos outros. Mas, infelizmente, são as únicas coisas que sabe fazer a maioria dos deputados, pois para isso eles estudaram Letras e Direito. Fizeram-se espertos! E os restantes, coitados, são, por essa maioria de sábios, impedidos de fazer qualquer coisa, a não ser número. Estou, evidentemente, a partir do princípio de que sabem fazer qualquer coisa de produtivo...

Os resultados estão à vista, com algumas legislaturas bem pouco eficazes.

E cá estamos nós para aguentar tudo, democraticamente. Valha a verdade que a culpa, no fundo, democraticamente também, é toda nossa, do Zé-Povinho que, em hora de eleições, se deixa ir sempre na conversa! E depois mais nada sabe fazer do que chamar nomes àqueles que elegeu alegremente...

Mas, basta de má-língua!

Sei perfeitamente que muitos senhores deputados trabalham imenso, na base dos dados fornecidos pelas estatísticas, pelos relatórios encomedados, pelos seus acessores, etc., e são até excelentes políticos, mas isso não tira nada à generalidade do que disse atrás. O Povo que não os vê nesses trabalhos, nessas cansativas reuniões de estudo, e que só os avista no hemiciclo, durante horas, a desconversar com os «inimigos» de bancada, no grande palco da TV onde dão especctáculo, que outra coisa poderá chamar-lhes além de agentes de politiquice barata?

A propósito, quem sentenciou que a Política é a mais nobre das artes?

Devem ter sido os gregos, há dois mil e quinhentos anos. Mas agora, os tempos são outros...

domingo, 20 de julho de 2008

TRANSPLANTES E TRANSPLANTES

A carta de condução por pontos

Os transplantes estão na moda. Desde que o Cristian Barnard se lembrou de mudar um coração, o órgão «indiscutível» dos sentimentos, todo o gato-sapato desatou a imitá-lo e agora qualquer um transplanta qualquer coisa que lhe ocorra, como quem muda de camisa. Não é bem assim, mas faz de conta...

Bem vistas as coisas, a transplantação de plantas é quase tão antiga como a humanidade. Afinal, as plantas são seres vivos, como os homens, e não sei porque motivo se demorou tantos anos a transplantar órgãos na espécie humana! Provavelmente porque as plantas não se queixam, não reclamam, não choram, e morrem sem dar um grito!...

Claro que as coisas não são tão prosaicas e a vida humana é o topo da carreira, a mais especializada e a mais complicada de todas. Por isso é que os transplantes na espécie humana são ainda complicados, apesar de alguns progressistas já preverem transplantes até há alguns anos impensáveis.

Também a política tem, por vezes, a sua interferência nestes actos e nos comentários que por aí se escrevem. Ainda estava para durar o Império Soviético, e circulavam notícias dando conta do transplante de cabeças feito em cães por esses ateus malvados que davam a pica atrás da orelha aos que não eram da cor... Eles teriam levado a cabo, com êxito, diversas transplantações, certamente com o objectivo inconfessável de ensaiar proximamente em humanos...

Independente dos aspectos científicos da questão, logo se puseram todas as sumidades filosóficas, teológicas e jurídicas a discutir a moralidade ou os seus efeitos legais a que se juntaram, logo de seguida, valha a verdade, as anedotas correspondentes, metendo sobretudo padres e juízes pelo meio, etc. Imagine-se um padre a confessar os pecados de uma cabeça de homem, transplantada, num corpo de mulher, ou vice-versa? Ou um juiz, com corpo de padre, a emitir sentenças sobre um transplantado às avessas? Ou um funcionário do Arquivo de Identificação a produzir uma segunda via de um bilhete de identidade?

Mas o Regime Soviético já lá vai. Entretanto, não me admira nada que, no Ocidente, algum investigador atrevido avance, num dia destes, a tentar fazer o mesmo para ganhar o Prémio Nobel....provavelmente, nesse caso, o último a ser entregue a alguém, a corpo inteiro!

Isto dos transplantes tem muito que se lhe diga. Já os romanos, que tinham apanhado a ideia dos gregos, se gabavam de que o ideal era «mens sana in corpore sano», mas não tinham passado daí, embora cortar cabeças, nesse tempo, fosse para eles uma banalidade. Agora, se a técnica referida vai avante, nada mais fácil que mudar corpos ou cabeças para obter os melhores efeitos. E depois, quem haverá por aí com a sua cabeça segura entre os ombros? Também as seguradoras poderão, a prazo, vir a fechar as portas...

O caso não é para rir.

Uma notícia de hoje, vinda de Espanha, dava conta de que o governo e a administração pública espanhola tinham embandeirado em arco pela espectacular baixa de acidentes rodoviários conseguida pela entrada em vigor da carta de condução por pontos, a mesma que vai também agora vigorar em Portugal.

Mas não há bela sem senão! É que, há quinze anos, em Espanha, 43% dos órgãos transplantados, nos hospitais, provinha de doadores jovens acidentados nas estradas. Ora no ano de 2007, por efeito da lei dos pontos e da consequente baixa de acidentes verificada, a oferta é de apenas 10%, para uma procura cada vez maior!!!

O jornal não referia que remédio tinha sido previsto para esta nova situação, mas confiemos no bom senso de «nuestros hermanos», de quem seguimos sempre os exemplos.

Felizmente, ainda não chegamos aos transplantes de cabeça a preços de saldo!

sexta-feira, 18 de julho de 2008

PORTUGUÊS INTERNACIONALISTA

Um aspecto do derrotismo nacional

Ontem recebi uma mensagem, via Internet, autêntico manancial de ideias para artigos de opinião, e que vou transcrever a seguir:

«Internacionalismo português

Português é peculiar:

- Se tem um problema para ultrapassar... diz que se vê grego;

- Se alguma coisa é difícil de compreender... diz que é chinês;

- Se trabalha de manhã à noite... diz que é um mouro;

- Se tem uma invenção moderna e mais ou menos inútil... diz que é uma americanice;

- Se alguém mexe em coisas que não deve... diz que é como o espanhol;

- Se alguém vive com luxo e ostentação... diz que vive à grande e à francesa;

- Se alguém faz algo para causar boa impressão aos outros... diz que é só para inglês ver;

- Se alguém tenta regatear o preço de alguma coisa... diz que é pior que um marroquino;

Mas quando alguma coisa corre mal... diz que é à PORTUGUESA

Como se vê, o texto não tem nada de original, mas, pensando bem, consegue até fazer uma síntese bem original, espectacular, de certa forma de estar tão peculiar da nossa gente boa, humilde por vezes até à subserviência, e invejosa do estrangeiro...no entanto sempre disposta, na sua esperteza saloia, a tirar proveito dele. Gente que embandeira em arco quando tem um mínimo sucesso, uma vez por outra, mas carpindo permanentemente as suas mágoas através de um derrotismo feroz, etc. ... Infelizmente, a nossa imprensa, em vez de tentar contrariar no bom sentido, esse espírito negativista, promovendo as boas qualidades, esforça-se, diariamente, por exaltar ao máximo as piores, usando o mais execrável dos derrotismos, tantas vezes à sombra de uma liberdade irresponsável.

Claro, faz parte deste mesmo povo que todos somos...à portuguesa!


terça-feira, 15 de julho de 2008

TELEMÓVEIS FORA DA CRISE


O desemprego e a moda do GPS

A crise está instalada. A crise veio para ficar. A crise é notícia. Só se ouve falar na crise. A crise já está na moda. O tema só foi ultrapassado, na Comunicação Social, pela publicitação elogiosa e desenfreada do mais recente telemóvel de última geração!

Há dias, ao entrar num centro comercial, nem queria acreditar no que os meus olhos viam. Havia filas à porta das lojas de venda de telemóveis, os celebrados iPhones acabados de chegar a este Portugal de tesos. Nos dias anteriores já ouvira as emissoras de rádio e de TV a badalarem constantemente as patacoadas do costume, sobre uma novidade de telemóvel espectacular que estava a causar furor nos EUA, apesar dos preços elevados relativamente aos aparelhos usuais, mas desvalorizara a questão.

Para quê estar a preocupar-me com estas pepineiras, caras para a bolsa de grande parte dos portugueses e perfeitamente dispensáveis, ao contrário do pão para a boca?

Para quê prestar atenção a uma brincadeira destas, quando a rapaziada se entretinha a protestar nas ruas contra o governo, contra a subida de preço da gasolina, da inflação, do custo de vida, do desemprego, das dificuldades do dia-a-dia?

Para quê, se o telemóvel normal faz o trabalho de casa, por valores cada vez mais baixos -e ainda bem! – apanhando-nos, em qualquer canto onde nos encontremos, com os seus toques polifónicos dos trechos mais corriqueiros de óperas famosas, transformados em música pimba para parolos?

O meu telemóvel baratinho faz tudo o que preciso nas comunicações correntes, mensagens escritas incluídas, e ainda me apresenta o calendário, a hora, a calculadora, a agenda com mais de cem números de familiares e amigos...e avisa-me com um toque suave, nada foleiro, quando alguém entra em linha. Já o tenho há anos, é de pequenas dimensões e estou muito contente com ele. Não sinto necessidade nenhuma destes acessórios que agora vão acoplando ao aparelho, para aumentar as vendas, como a câmara fotográfica ou de vídeo, o mini gravador, o rádio, o MP3, e ainda a lista e localização dos restaurantes, o GPS...

Mas confesso que, de um certo ponto de vista consumista e fútil, devo estar completamente errado. Os moços de hoje são incapazes de caminhar cem metros na rua, sem o MP3 da batucada para curtir e, a partir de agora, sem o GPS para se orientar. Perdem-se!

Provavelmente estou a exagerar, porque sou um perfeito ignorante, eu que pensava, há dias, que sabia tudo acerca de telemóveis, antes de trocar umas impressões com um dos meus netos, de oito anos!

Agora compreendo a avidez pela compra dos iPhones, em que alguns jovens compradores chegaram a esperar, desde as três da madrugada, a abertura das lojas de venda. Para eles, valeu a pena o sacrifício, como declararam ao senhor jornalista que os entrevistou para um canal de TV. Muito mais difícil teria sido ir às aulas e estudar, para não chumbar o ano. Coisas como esta, podem esperar. Também um outro senhor jornalista tentou lançar alguma luz sobre a classe etária a que pertenciam os jovens compradores, mas não conseguiu aclarar grande coisa.

Hoje, qualquer gato-sapato tem telemóvel da última geração e, quem não tem, como eu, é um cota!

Depois de apreciar por momentos, embasbacado, as filas do contentamento da malta, cada vez mais compridas, deixei as proximidades das lojas fatais e entrei no hipermercado alimentar próximo. Reparei que toda a gente estava preocupada com a escolha dos géneros mais baratos, olhando, olhando disfarçadamente para os preços afixados nas prateleiras. Parecia que estava noutro mundo, bem diferente da juventude fútil que vira ali ao lado.

Perguntei a mim próprio, quem seriam aquelas pessoas que a crise tornara tão comedidas, tão cautelosas, tão boas gestoras dos seus salários cada vez com menos poder de compra?...

Concluí que muitas, provavelmente, eram os pais e as mães daqueles que se encontravam lá fora talvez alheios às reais dificuldades da vida... Mas outros deles, talvez até sejam desempregados gastando o subsídio... Outros ainda limitando gastos de primeira necessidade... Quantos comprando a crédito que provavelmente depois não conseguirão pagar...

Esta é mais uma das faceta do nosso Mundo Cão onde a crise económica global está na moda, amplia a crise generalizada de emprego, mas não consegue superar a moda intransponível de um simples telemóvel último grito e outras extravagâncias por aí...com a fome a espreitar, mesmo ao lado.

Ora aqui está também, mais uma faceta bem ilustrativa das contradições deste povo de fraca literacia que compõe uma pequena grande nação de quase 900 anos de existência, que tudo sabe, que tudo critica, reclama e deita abaixo, que passa o tempo a agigantar as desgraças que o afligem, que põe todos os dias a sua auto estima nas ruas da amargura, mas que se sente feliz a curtir com um telemóvel de última geração, confiando apenas no seu tradicional desenrascanço!

segunda-feira, 14 de julho de 2008

ACUPUNTURA

O efeito da pica chinesa

Longe vão já os tempos em que a propaganda partidária rasteira ganhava pontos acusando os adversários políticos de aprovar a aplicação da pica atrás da orelha aos recalcitrantes, pelos regimes considerados despóticos, sinónimo de eliminação certa, sem deixar marcas...

A Medicina Ocidental, a pouco e pouco, vai aceitando, ou aproveitando à socapa, práticas das chamadas medicinas alternativas, entre as quais algumas da Medicina Tradicional Chinesa, tantas vezes classificadas como irrisórias e mal fundamentadas, apesar da sua utilização ancestral.

Agora, contudo, algumas dessas técnicas consideradas ainda há anos absurdas e ridículas, como a acupuntura, começam a ser olhadas com uma certa condescendência e até interesse pelos clínicos, depois de alguns pacientes, no Ocidente, se terem sujeitado à sua aplicação com bons resultados, para surpresa de muitos.

A verdade é que ainda não está provada, cientificamente, a base da acupuntura e a sua relação de causa efeito que os chineses tratam de explicar à sua maneira e preconizam desde alguns milhares de anos a esta parte, servindo-se dela com bons resultados. Mas a ciência lá chegará, para explicar e comprovar, mais ano menos ano, os resultados empíricos e de observação dos sábios chineses.

Entretanto, empiricamente segundo os ocidentais, ou cientificamente, segundo a explicação dos médicos chineses, a técnica de acupuntura vai ganhando pontos no Ocidente, como técnica «simples», eficaz, económica e de efeitos colaterais muito reduzidos, relativamente aos anestésicos de uso mais corrente, começando a ser aplicada em situações variadas, especialmente em casos de ansiedade e de anestesia nalgumas intervenções cirúrgicas, como hoje noticia um jornal português cujo título e subtítulo dizem assim:

«Hospital anestesia com acupunctura»

«Saúde. Redução de efeitos adversos da anestesia tradicional é um objectivo».

Mas o mais curioso da notícia é que a inauguração oficial da técnica de acupuntura em cirurgia, no dito hospital se deve ao pedido e sujeição de uma paciente que, profissionalmente, é médica no respectivo centro de operações! «Logo depois da operação, já garantia que pode aconselhar a anestesia com agulhas porque "nem sentiu dores, nem nada" e evitou as alergias, náuseas e má disposição que as anestesias locais e gerais podem provocar».

É interessante ver como certos preconceitos estão a ser ultrapassados, neste e noutros domínios. Também aqui a globalização da informação está a dar os seus frutos, nem sempre bons, nem sempre maus, mas permitindo, ao menos, a troca de ideias, de conhecimentos e práticas. Neste caso, em benefício da saúde da espécie humana.

E pensarmos nós que, ainda em pleno século XIX, a anestesia para a amputação de um membro consistia numa boa dose de aguardente, com o paciente bem amarrado...

domingo, 13 de julho de 2008

NOTÌCIAS DO FUTEBOL

Crónica do fundo profundo

As notícias que ultimamente nos têm chegado do Futebol não são agradáveis e prendem-se especialmente com actos de corrupção, investigações, castigos, reuniões, declarações e contradições, etc., etc. Como as investigações não esclarecem grande coisa e os tribunais não emitem vereditos inquestionáveis ou não decidem coisa nenhuma, navega tudo, ainda por cima, num mar de suspeitas de toda a ordem.

A pior coisa que pode haver, num caso como este, ou outro qualquer, é a suspeita de algo gigantesco, partindo às vezes de uma ninharia que é aumentada ao sabor das más línguas, as quais pouco mais conseguem que vomitar cobras e lagartos sobre aquilo que mais gozo lhes dá e de que muito pouco ou nada sabem de concreto.

A verdade, porém, neste caso do Futebol, mesmo sem suspeitas, é que algo se passa de anormal, mesmo na anormalidade congénita que é passada diariamente para o exterior, pela Comunicação Social, porque a grandeza da miséria referida nas notícias dos eventos publicadas nos últimos dias, é mostrada por muitos títulos como estes:

«Futebol Nacional: Rui Moreira: «Vejo a justiça desportiva bater no fundo»

«Futebol Nacional: «O futebol bateu no fundo»: diz Cunha Leal»...

E assim por diante. Todas as notícias almejam o fundo que ninguém sabe onde fica, nem os comentadores desportivos encartados...E eu, simples mortal, muito menos!

Mas, fazendo fé naquilo que tenho lido, antevejo que esse fundo é muito, muito mais profundo do que muita gente imagina. E, para o Futebol, vai ser uma tarefa bem difícil sair de lá...

A Lógica ainda não é uma batata.

-MAMÃ, EU QUERO!

Querer é próprio do homem

A catadupa de notícias mandadas pela Internet, pelas agências de informação, pelos investigadores e jornalistas de serviço, etc., é de tal ordem que os próprios fazedores de noticiários na Imprensa, na Rádio ou na TV devem ver-se aflitos para seleccioná-las, resumi-las, encabeçá-las e dar-lhe forma apetecível ao público. Nem sempre, evidentemente, conseguem cumprir todos estes requisitos, por mais que se esforcem.

Os títulos das notícias que acabo de ler, às quais não tenho sequer a mínima crítica a fazer, têm, no entanto, o seu quê de impositivo e, ao mesmo tempo, de caricato. Senão, vejamos:

«Loures: Moradores pedem (querem) há anos sair da Quinta da Fonte

«Moradores da Quinta da Fonte tentam (querem) dormir noutro bairro

«Ministro quer responsáveis por tiroteio, em tribunal

«CDS-PP quer ministro da Administração Interna, no Parlamento»

E assim por diante.

Também eu queria muita coisa...até mesmo o impossível!

Quem é que não quer a realização de um sonho lindo?

Quem é que não quer ganhar mais?

Quem é que não quer melhorar a sua qualidade de vida?

Quem é que não quer ter sempre boa saúde?

Enfim, quem é que não quer ser feliz...e sem ter ninguém a chatear?

Se estivesse aqui a fazer perguntas deste tipo, nem amanhã chegaria a metade da missa.

E, afinal, quem há que não queira, desde pequenino, qualquer coisa?

Lembro-me, a propósito de uma simples e espectacular canção brasileira muito conhecida, desde os anos quarenta ou por aí, e mesmo agora, passado tanto tempo, cantada nas festas populares, e não só...

Quando calha, alguns humoristas de serviço, parodiando os desejos de certa gente oportunista e gananciosa, repetem-na, com duplo sentido:

-Mamã, eu quero!

-Mamã, eu quero mamar!

-Dá-lhe a chupeta!

-Dá-lhe a chupeta,

Para o bebé não chorar!...

Há desejos para todos os gostos, a favor ou contra, seja do que for. Podemos não concordar com a posição duns e doutros mas, para quê tentar convencê-los ou ficar triste? Rir será sempre o melhor remédio. E os brasileiros que fizeram a canção sabiam-no bem. É uma letra que dá para tudo! Até para sambar...

sábado, 12 de julho de 2008

TIROTEIOS NA RUA

A sachola fora da média

Este país de brandos costumes que todos conheciam, ainda há cinquenta anos povoado de gente analfabeta, humilde e pacífica, está a transformar-se, pouco a pouco. Não é de admirar. Todo o mundo é sujeito a mudança, como dizia o poeta.

Mas o curioso da questão é que, contra tudo o que seria de esperar, à medida que a alfabetização e a qualidade de vida vão melhorando, o celebrado pacifismo das gentes torna-se cada vez mais uma miragem. E assim, se há cinquenta anos eram conhecidas e verberadas as mortes à facada e à sacholada, por questões de ciúmes ou da água de rega, agora começam a ser frequentes as mortes a tiro que nem sequer exigem um mínimo de força física.

Claro, ninguém hoje usa facas longas, a não ser os magarefes, e muito menos as sacholas. Provavelmente, até muito pouca gente saberá, actualmente, o que é uma sachola, quanto mais usá-la para o fim a que se destinava, na agricultura, ou ainda para outra qualquer finalidade mais violenta e aberrante!

Ora, com o pessoal quase todo alfabetizado, quem há que não saiba ler as instruções de uma pistola, ou de uma espingarda automática, tomando as precauções necessárias para evitar um acidente? Mas também é certo que em Portugal não existe a cultura de ler as instruções de nenhum equipamento, por mais complicado que seja, bastando a tradicional esperteza e, se não for suficiente, o célebre desenrascanço. Mas isto são apenas considerações gratuitas.

O certo é que, geralmente, quem usa estes artefactos perigosos, não tem licença de uso e porte de arma, e também não precisou, alguma vez na vida, de ler as instruções respectivas, nem os códigos da Justiça. Mas aprende, com uma facilidade espantosa, como carregar os cartuchos e puxar o gatilho, apontando sempre no sentido de quem lhe oferece resistência, quer seja num assalto a uma gasolineira ou a um multibanco, quer se trate do «carjacking» actualmente na moda, ou de algum ajuste de contas no reino da droga, etc., etc., com a polícia a apanhar também por tabela, de vez em quando.

Durante dois dias, em certo bairro da periferia de Loures, houve violento tiroteio, ao que parece entre dois bandos, possivelmente dois grupos étnicos rivais, de que resultaram várias pessoas feridas e só por verdadeiro milagre não houve alguns mortos.

A PSP interveio, lá foi caçando algumas armas ilegais e apanhando alguns energúmenos, mas nada que deixe tranquilos os habitantes do lugar.

Era apenas o que faltava! Tiroteio nas ruas, como num filme do Far West!

Parece, portanto, que aprender a ler, ser instruído e ter cursos superiores, apenas, não chega. É preciso algo mais, muito mais, a educação!

Por alguma razão, o ministério que se ocupa da instrução das populações, se chama Ministério da Educação. Mas a verdade é que só a vertente da Instrução tem ocupado os governantes, as autarquias e os professores, de há muitas dezenas de anos a esta parte.

O civismo e o comportamento em sociedade que deviam ocupar boa parte do ensino, na família e na escola, têm sido descurados sistematicamente, pelos pais e pelos professores, dando lugar à permissividade, ao abandono, à falta de um mínimo de disciplina cívica que nos permita conviver em paz com o nosso semelhante, seja de que estrato social, raça, religião ou cor política for. E a Comunicação Social, publicitando desastradamente, ou promovendo incondicionalmente as aberrações do dia a dia, escudada numa falsa ideia da liberdade de imprensa irresponsável, também concorre alegremente para o descalabro.

Já não somos a Nação de gente humilde, respeitadora e boazinha, com 70% de analfabetos, como nos anos quarenta. Passamos, segundo as estatísticas, para os 6%. Claro, ainda falta um pouco para acabar com essa chaga.

Mesmo assim, o País lá vai ficando cada vez mais instruído, mais perto das médias europeias. Mas também, paralelamente, cada vez mais mal-educado, mais agressivo, aproximando-se, pouco a pouco, da violência, em actos e números, registada nas tais médias europeias tão badaladas, por mais eficiente e numerosa que seja a polícia posta nas ruas.

E, neste particular, ao contrário de outros, dispensávamos essa aproximação...

sexta-feira, 11 de julho de 2008

AS BAIXAS EM ALTA

Mais um problema de atestados


Já não importa muito, nesta altura do campeonato, saber quem atesta qualquer coisa. Seja quem for, já ninguém acredita no atestado.

Antigamente, no tempo da «Outra Senhora», os atestados eram feitos obrigatoriamente em papel selado de cor azul, com selo de água e o escudo nacional impresso e, sendo muitos, traziam uma receita não desprezável para as fábricas de papel almaço e sobretudo para os cofres do Estado, via Casa da Moeda. Cada atestado era ainda validado com um selo fiscal de 5 escudos...e a assinatura do médico responsável, coisas todas que hoje nos parecem caricatas.

Quando andava na Faculdade, pelos anos cinquenta, requeria-se também a segunda chamada aos exames, na tal folha de papel almaço azul, validada com o dito selo fiscal de 5 escudos, inutilizado com a assinatura do requerente. Vim a saber, mais tarde, que um funcionário da Faculdade que tinha sempre selos disponíveis em carteira para socorrer os alunos desprevenidos, havia sido expulso, porque arrancava os selos e apagava as assinaturas apostas, com técnica irrepreensível, de alguns requerimentos arquivados e os vendia como novos aos alunos enrascados!

Ora aí estão duas lições a tirar do caso. Em primeiro lugar, a falcatrua já existia naquela altura, a nível de funcionalismo público, ao contrário do que apregoam alguns salazaristas retardatários. Em segundo lugar, que existia, de vez em quando, ao menos, a decência e eficácia de um chefe a pôr no olho da rua um funcionário público, coisa rara e nunca vista, nos dias de hoje, para encanto de certo sindicalismo irresponsável.

Ora, vem isto a propósito dos atestados médicos que agora se passam por aí...à revelia da ética e da lei, para vergonha dos cidadãos cumpridores.

Há uns tempos, mais de quinhentos alunos de uma escola secundária, com a aprovação dos pais, não querendo repetir determinado exame na data marcada, apresentaram na véspera o respectivo atestado médico de doença (incapacitante). Perante o protesto da Administração Escolar, a Ordem dos Médicos recusou-se a castigar ou mesmo apenas a repreender os seus representados, sem ter uma acção judicial, caso a caso. E o tribunal, solicitado para se pronunciar sobre várias situações por demais evidentes, deve ter-se julgado incompetente para julgar os actos médicos...Não sei se alguma sentença menos abonatória para os clínicos chegou a ser proferida mas, de qualquer maneira, o simples bom senso e a mera caricatura que o caso mostra, pelo menos exigiria da Ordem algo mais que uma posição de defensora estrénua da corporação.

Agora, outra situação que seria caricata, se não fosse igualmente gravosa das Finanças Públicas e do bolso dos cidadãos pagantes, «um médico de Viseu está a ser investigado internamente por ter emitido um número muito elevado de baixas médicas», cerca de 2000, num ano!

Isso mesmo, as baixas em alta, desta vez! Não faço a mínima ideia do que poderá acontecer mas, extrapolando a situação anterior, imagino...

Disse, imagino!

Não vou atestar nada. Atestar é uma coisa que implica responsabilidade, que comporta a honestidade do declarante e, sobretudo, a do certificador. Ora eu ainda me considero suficientemente honesto e responsável, para não atestar, à balda, o que quer que seja. Além do mais, não pertenço a nenhuma corporação de créditos firmados, nem tenho nenhuma Ordem poderosa a defender-me, se cometer algum falhanço...

Há atestados a mais, por aí.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

ATÉ OS TRIBUNAIS!

Multibancos, polícias e ladrões

Agora até os tribunais são assaltados! Já não há respeito pelo local onde se pratica a Justiça. Sempre é melhor que a falta de respeito aos magistrados, mas, mesmo assim, o desrespeito do local era algo inacreditável, uns anos atrás. -- O tribunal de Loures foi assaltado na madrugada de hoje, tendo sido levada a máquina de multibanco que se encontrava no átrio do edifício, que continua a funcionar normalmente, disse à Lusa fonte judicial.

Um Palácio da Justiça não é uma chafarica qualquer, tem paredes, portas e janelas reforçadas, segurança policial adequada e, sobretudo, uma aura de respeitabilidade que poucos edifícios têm. Ora os ladrões, estiveram-se marimbando para a tal aura de respeitabilidade e, muito menos, para as paredes, as portas e as janelas reforçadas e a eventual segurança policial. Valha a verdade que, embora não seja a ocasião que faz o ladrão, o descuido na segurança deu asas às habilidades dos amigos do alheio. Os polícias que, confiadamente, só chegaram de manhã ao seu trabalho de vigilância, deram com as ventas na torneira! Alguém se deixou adormecer, que não devia! Se a coisa pega...

Na ausência de guardas ao edifício, ou de um simples aparelho de alarme, os larápios não precisaram, pois, de qualquer malabarismo de última moda. Encostaram a sua carrinha ao portão principal, carregaram tranquilamente o pesado cofre e partiram na melhor, sem qualquer incómodo, para parte incerta!

A notícia da Lusa diz ainda que o roubo não chegou a afectar o normal funcionamento do tribunal!

Fantástico! Também aos ladrões não interessaria nada, mas unicamente o roubo da máquina e do respectivo dinheiro. Se tivessem interesse em impedir o funcionamento da Justiça, ainda seria muito mais fácil que levar a caixa multibanco. Bastava levar umas simples pastas de arquivo...ou apenas deitar para o interior do edifício uma bombinha de mau cheiro! Assim como assim...

A esta hora já um porta-voz terá tentado sacudir a água do capote, deitando culpas para alguém longínquo e desprevenido, ou andará algum inquérito a correr para descobrir o culpado da eventual negligência (sem conclusões à vista, como habitualmente) e a PJ na investigação, ela que não tem mais nada que fazer...enquanto os larápios, a bom recato e com muita probabilidade, lêem calmamente a notícia do evento descrita no jornal da manhã, no intervalo do trabalho da abertura do cofre, para retirar as massas e pôr-se ao fresco!

Hão-de ser apanhados, mesmo assim, apesar de tanta nabice, mas não teria sido melhor prevenir, antes de remediar? E logo num tribunal, durante o dia cheio de magistrados, advogados, polícias, funcionários, cidadãos, códigos e arquivos importantes... Tanto profissional empenhado na Segurança do cidadão comum, e tanta falta dela, na sua própria casa! Que mau aspecto!

É bem certo, cada vez mais certo, o ditado popular: em casa de ferreiro, espeto de pau!

AS LEIS E O SEU CUMPRIMENTO

Crónica de espertezas saloias

O IVA baixou de 21 para 20%, a partir de 1 de Julho de 2008. É pouco, dizem as gentes. Quer isto dizer, contudo, que, em teoria, os preços das mercadorias ao consumidor, deveriam baixar, também, qualquer coisinha. Mas nem sempre é assim!

O negociante português, com aperfeiçoada esperteza saloia, arranjou, como de costume, uma forma habilidosa de ficar mais beneficiado com o diploma. Na maioria dos casos, manteve ou aumentou os preços que deveria baixar!!! E assim, fez o «três em um»: o IVA que pagava ao Estado, baixou efectivamente em percentagem, mas manteve o mesmo valor, pelo que o preço de venda ao público aumentou ligeiramente, não incomodando muito os clientes, e o lucro subiu mais uma pisca...

O ministro da Economia, coitado, lá andou pelos hipermercados, a tentar ver o invisível!

Já devia saber que é assim com grande parte das leis, quando postas em prática. A intenção do legislador é boa, mas rapidamente fica subvertida pelos chico-espertos que abundam no País. Lá diz o Povo que anda meio mundo a enganar o outro meio!...

Comentários, para quê?

Vim passar uns dias à aldeia, onde não há habitantes suficientes para hipermercados locais, mas todos têm carro para lá irem fazer compras. Ao cimo da minha rua, há um pequeno café com o nome de «Faz-te Esperto». Ao princípio achava graça ao nome e tive ganas de perguntar ao dono a sua razão de ser, mas logo me chegou aos ouvidos que essa era a alcunha que as gentes do lugar lhe haviam posto, há muitos anos, eles lá sabiam porquê...

Ou a frase seria antes um conselho aos compinchas da terra que vão ali tomar café, ou refrescar-se com uma cervejinha acompanhada de caracóis?

Talvez. O povo lá diz, quem não fizer parte da Quadrilha do Olho Vivo, está tramado!

Este é o país que temos, onde ser sério, honesto e cumpridor, cada vez é mais difícil e menos compensador. A verdade, porém, é que já a minha avozinha dizia o mesmo, e andava a pé...

Entrei no «Faz-te Esperto» a tomar um café, para espairecer de tristezas. Lá dentro o rádio de serviço apresentava a voz do Paço Bandeira, que iniciava a canção:

-Oh Elvas! Oh Elvas! Badajoz à vista!...

E logo um cliente matreiro, apoiado ao balcão enquanto saboreava uma bica com cheirinho, comentou com o sentido apurado da carestia da vida:

-Deitei-me numa cama curta e dormi com os pés de fora. Isto tudo é uma manta de retalhos!

Do outro lado do balcão, o «Faz-te Esperto» sorria, sem dizer palavra...

Saudei as personagens, tomei rapidamente a minha bica, curtinha com adoçante para enganar o vício e a hipertensão, pus no balcão os cinquenta cêntimos da ordem e regressei a casa ainda mais pensativo do que saíra, procurando a sombra.

Contrariando o meu discurso, o «Faz-te Esperto» não tinha aumentado o preço da bica. Era um herói!

domingo, 6 de julho de 2008

JUSTIÇA DESPORTIVA NO TRIBUNAL PÚBLICO

É preciso ter vergonha

O que se está a passar no Conselho de Justiça da F.P.F. é uma vergonha, para quem a não teve. Não interessa já quem tem razão, quem foi o culpado, quem fugiu, quem foi coagido, quem desautorizou, quem assinou de cruz, quem fechou ou reabriu uma reunião, quem culpou ou é culpado de compadrio, quem está legal ou ilegal, quem disse ou não disse, quem fez ou não fez, quem é suspeito, quem, afinal, partindo do interior da instituição, manchou a imagem da Justiça Desportiva mais do que ela já estava...Para o tribunal da opinião pública, neste momento, já ninguém parece escapar à sujeira.

O espectáculo tem sido deprimente e, pior do que as cenas e as notícias vindas a lume nos dias 4,5 e 6 deste quente mês de Julho, envolvendo magistrados de topo de uma instituição cúpula do deporto rei, não vai haver, de certeza.

Mas elas correm ainda o risco, ao serem continuadas em próximos capítulos, de extrapolação para a outra Justiça, a dos tribunais comuns, ela também já de si tão maltratada...e isso é péssimo!

Haja vergonha! Um mínimo de vergonha!

Não admira que alguns comentários lidos na imprensa indiquem, como a melhor saída desta crise, uma vassourada geral na gente que não sabe comportar-se à altura do seu posto e das suas responsabilidades.

Talvez isso não venha a acontecer, mas o certo é que, quem não sabe comportar-se correctamente, nem dar-se ao respeito, no exercício das suas funções, com toga ou sem ela, dificilmente poderá ser respeitado.

SABER, COMENTAR E FAZER

Crónica de três entrevistas televisivas

Nesta passada semana, estive atento a três entrevistas da TV, sendo duas delas dos principais políticos, da Oposição e do Governo, e uma outra de Medina Carreira, talvez o nosso maior especialista em Economia Fiscal.

Enquanto os dois primeiros apresentaram e defenderam as suas posições, mais ou menos convincentemente, conforme as cores dos seus partidários ou simpatizantes, mas com o mínimo de argumentos técnicos de base, o último discorreu sobre os principais problemas da Economia do país, mostrando tecnicamente os erros cometidos pelos políticos nos últimos dez anos e apresentando as melhores soluções, alicerçadas em bases sólidas, irrefutáveis.

Mas, para além das diferenças dos temas e das soluções apresentadas nas entrevistas, ficou bem patente, para o espectador, que os discursos, dos políticos e do técnico, corriam em linhas paralelas, como conversas de surdos, independentemente das razões apresentadas, sempre com a percepção nítida de que, quem está de fora da execução sabe sempre muito mais o que fazer, do que quem está dentro dela. É natural e humano, mas nem sempre verdadeiro.

Nesta sequência, ficou ainda, a quem assistiu às três entrevistas, a sensação de que as soluções óptimas para o País eram as do tecnicista Medina Carreira, e nunca as dos políticos, quer da Oposição, quer do Governo, estas embora prejudicadas por alguma politiquice ou picardia que vem sempre à mistura nestas alturas.

Claro, impor-se-ia fatalmente, aos ouvintes, que Medina Carreira, o sábio, o homem das soluções eficazes e consensuais (ou outro semelhante), tomasse as rédeas do Governo da Nação, para obter a sua redenção rápida, em linha recta, sem voltas nem recuos. Estamos, neste ponto, todos de acordo.

Então porque esperamos?

É que, infelizmente, governar não é apenas apresentar problemas e soluções. Se assim fosse, Portugal seria um éden! Medina Carreira é um conhecedor absoluto das necessidades e das dificuldades da Nação, em Economia e Impostos, tem razão na maioria do que afirma, mas partindo do princípio que aceitava, antevejo que não teria três meses de governação, se tentasse sequer pô-la em prática.

Curiosamente, governar em democracia, mais que compreender e comentar o passado, e prever o futuro, é fazer, equilibrando o que se deve e o que se pode... com a licença e a aprovação da maioria dos cidadãos, na prática, em muitas circunstâncias, uma autêntica quadratura do círculo!

E assim, só nos resta, como vai sendo hábito, caminhar com cuidado e sem grandes veleidades, no fio da navalha em que nos encontramos permanentemente, esperando não cair no fosso. O que, valha a verdade, já não é nada mau, nos tempos que correm...

sábado, 5 de julho de 2008

O MUSEU DE SANTA COMBA DÃO

Os espinhos que permanecem

Lá anda o Museu Salazar às voltas, entre os cidadãos da Terra, a polícia e os oposicionistas, apoiados os primeiros pela Câmara Municipal, os segundos pelas autoridades de segurança e os últimos pelos mentores mais radicais de algumas correntes políticas.

Pessoalmente, antecipo, não me agrada a instalação do Museu, mas ela deverá ser interpretada e comentada para além dos gostos pessoais.

O problema é muito mais complicado, de tão simples que parece ser, no fundo, e por isso já foi alvo de uma petição à Assembleia da República, tendo sido debatido apaixonadamente por todas as bancadas, com a Direita a apoiar os partidários da instalação do Museu e a Esquerda a rejeitá-la. No final, tudo ficou em águas de bacalhau, porque não houve qualquer votação a esse respeito. O problema vai persistir.

Ora, independentemente dos prós e dos contras que o Museu Salazar possa ainda mobilizar, uma coisa é certa: ele já morreu há cerca de quarenta anos e o seu regime acabou, vai para trinta e cinco! Muito da História desse tempo está ainda por escrever, e ela tornará claro o que de bom e de mau Salazar fez no país, ao longo de várias dezenas de anos. O Museu servirá para manter vivo, no futuro (e na memória cada vez mais débil dos portugueses), um pedaço dessa História, com os seus parágrafos negativos e positivos permitindo, quando já poucos se lembrarem de uma época de limitação das liberdades individuais, o que é que fazia endeusar um homem tranquilo e certamente superior, elevando-o acima dos seus defeitos, o maior dos quais foi a manutenção, pela força policial, da obediência e domínio do país, durante um período tão longo.

Essa História faz-se de grandes feitos, mas também de grandes misérias e, sobretudo, de pequenos nadas que comandam tudo na sombra, dos quais muitas vezes só mais tarde nos apercebemos. O Museu contribuiria, sem dúvida, para tornar visíveis alguns dos aspectos talvez menos conhecidos do público actual, do carácter, da personalidade de Salazar.

As gentes do concelho de Santa Comba Dão teimam em perpetuar a sua memória, como o mais ilustre filho da Terra, enquanto outras persistem em apagá-la. Entre estes, alguns, eventualmente, pensam que os demais, de sentido político contrário, desejariam ou poderiam aproveitar-se, à sua sombra, da ideologia política salazarista, para ressuscitar um regime que o 25 de Abril destronou, o que é uma excessiva aberração democrática e, mais que isso, um sinal de medo e descrença na vitalidade da democracia que nos governa. Pretendem usar, para evitá-lo, os processos da ditadura que Salazar tão bem encarnou.

Numa outra óptica, a exaltação dos conterrâneos falecidos, mesmo mal amados, sempre foi considerado uma virtude, sobretudo nas zonas rurais, e nunca fez mal a ninguém. Mas, para outros, mais urbanizados, até umas simples flores piedosamente colocadas numa campa, por familiares ou amigos, poderão congeminar um santuário, uma intenção oculta, uma tentativa de perpetuação de um regime banido, senão mesmo o começo de uma revolução, e o Museu transformar-se-ia no agente panfletário dum atentado, num espinho cravado no politicamente correcto da sua visão sócio-política do país.

Os cidadãos de Santa Comba Dão gostam, ainda assim, do seu Salazar, muito embora já tenha passado a época dos mitos e dos caseiros heróis semideuses?

Deixá-los lá, até que se fartem.

Mas não lhes demos razões para maior exaltação, com slogans em desuso ou com proibições mal fundamentadas, criadoras de novos mitos.

Uma notícia de hoje, dá conta de que uma representação de Hitler, no Museu de Cera de M.me Tousseau, em Berlim, onde figuram mais de 70 representações de personalidades mundialmente conhecidas, como A. Einstein, Bento XVI, etc., tinha sido decapitada por um desses guardas da orientação política global que não admite posição contrária à sua. Tal como próprio Hitler pensava e punha em prática, no seu tempo...

Não podem ser ocultados, como os ditadores tentaram fazer queimando livros e pessoas, os anos da História que não nos agradam. Devem ser expostos, juntamente com os energúmenos da época, para que a Humanidade deles tire o devido exemplo, veja o que realmente se esconde atrás da aparente bonomia ou eficácia dessas personagens. Para que se repita diariamente o julgamento necessário e justo, mantendo o esquema de prevenção desejável, afim de que os sistemas que implementaram não voltem nunca a ter lugar de relevo na sociedade.

Na Alemanha, o Museu de M.me Tousseau não se transformou em santuário, os alemães prenderam pouco depois o autor do atentado. Com a larga experiência que têm destas coisas, acharam, há muito, que já era tempo de abandonar de vez radicalismos (ou vinganças), de qualquer cor.

Será que, em Portugal, após trinta e cinco anos de democracia, ainda não aprendemos?

quarta-feira, 2 de julho de 2008

OUTRA VEZ, SENHORA INÊS?

Mais escutas na berlinda

«O Jornal de Notícias diz hoje que Pinto da Costa considera que a Liga de Futebol profissional violou a lei ao usar e divulgar escutas feitas pela Polícia Judiciária durante o processo Apito Dourado.
Quer saber quem, na Liga, pediu as certidões das escutas aos tribunais e quem deu autorização para que fossem divulgadas no site da internet da Liga.»

Não vale a pena entrar em mais pormenores, nem tentar averiguar quem tem razão, ou quem é o culpado.

O certo é que mais uma vez os agentes da Justiça Portuguesa, à semelhança do que sucedeu noutros casos, deram um tiro no pé. Na realidade, eles passam a vida a dar tiros no pé... ou a quem não devem.

É humano! Quem não erra, neste mundo? Mas difícil é confessar o erro, ou corrigi-lo.

Ora a Justiça que passa a vida a fazer julgamentos, pois para isso foi feita, está por isso mais sujeita que ninguém a errar, segundo o cálculo das probabilidades, por mais códigos e regulamentos em que se apoie. Embora não devesse.

Porém, se há julgamentos difíceis, conclusões complicadas, em que até os erros podem ser desculpados, muito embora as suas consequências na Justiça sejam quase sempre irremediáveis, existem aqui situações simples que são pouco menos que indesculpáveis e até caricatas, não se coadunando com o rigor da toga, da balança e dos olhos vendados... Nestes casos, os olhos estarão mesmo vendados e a Justiça estará mesmo cegueta na leitura e cumprimento dos códigos por que se rege. Mesmo a balança ficará desequilibrada, pois a toga, só por si, não significa nada. O hábito não faz o monge, de acordo com a antiquíssima sabedoria popular.

Esses casos não dignificam nada a Justiça, nem ajudam a melhorar a imagem, já de si pouco enaltecedora, que a opinião pública infelizmente tem dela. E não devia ser assim.

Pois andávamos todos um pouco esquecidos das patuscas publicações de escutas em segredo de justiça, na praça pública, com a caricata conclusão do inquérito de um senhor procurador culpando eventualmente os publicistas, em vez dos verdadeiros réus e seus coniventes na fuga do segredo. Até parecia, no entanto, que tudo estava sanado e assuntos deste tipo encerrados de uma vez por todas.

Mas a verdade vem sempre ao de cima. Na realidade, parece que ainda continua a saga das escutas na praça pública, para gáudio dos fofoqueiros, desespero dos prejudicados, e a impassibilidade dos agentes da Justiça.

Sem comentários. Este, como soe dizer-se, é o país que temos...

.