sexta-feira, 28 de março de 2008

JOGOS OLÍMPICOS, EM PEQUIM

O atletismo político da era moderna

Agora que a China está a impor a sua ordem rígida e implacável no inconformado Tibete, com o pacífico Dalai Lama jogando com relativo sucesso a cartada da propaganda legítima da recuperação da independência da sua pátria, discute-se nalguns países ocidentais a ida ou não dos seus atletas aos Jogos Olímpicos de Pequim, uma forma de protesto exemplar pela intolerância do governo chinês e a brutalidade da intervenção das suas forças policiais.

Nada de novo, esta postura do Ocidente. Com o pretexto de lutar pela liberdade e pela democracia, vários boicotes foram feitos no século XX e também outros tiveram lugar, como represália da parte de países anteriormente boicotados…

Ficaram também particularmente célebres, pelos maus motivos, os Jogos Olímpicos de Berlim, com a democracia alemã a dar as últimas, nos preparativos hitlerianos para a segunda guerra mundial e, depois dela, os de Munique, com o atentado dos palestinianos aos atletas judaicos ali presentes. Puro atletismo politiqueiro, nas entrelinhas.

Muitas histórias podem ser contadas sobre os Jogos Olímpicos, de sucesso ou insucesso, com imensas querelas diplomáticas absurdas pelo meio, com prémios ou desespero de atletas, e de comemorações ou lutos vividos pelos naturais dos países concorrentes.

Uma coisa é certa. Os Jogos Olímpicos realizavam-se na Grécia, quinhentos anos antes de Cristo, num clima de tréguas entre cidades-estados que se guerreavam frequentemente, exaltando, deste modo, a disputa leal entre os atletas. A tirana Esparta e a democrática Atenas (com os respectivos partidários) faziam descansar as armas religiosamente, para essa comemoração.

Foi aqui, neste espírito de competição saudável, incentivando e exaltando a amizade do mundo grego acima das rixas tradicionais, que se inspirou o iluminado barão P.C. para fazer renascer esses Jogos milenares.

Apesar de tantos contratempos e dificuldades, as comemorações modernas atingiram dimensões nunca imaginadas pelo seu mentor e têm servido para cimentar a amizade dos povos ou, pelo menos, para fazer a propaganda dela. Já era tempo de esquecer vingançazinhas de estimação entre algumas nações e deixar os atletas competirem em paz, sem intervenção da política matreira que torna complicadas as coisas simples. Aos atletas o que é dos verdadeiros atletas. Os atletas da política não deveriam ser para aqui chamados.

Realisticamente falando, o Tibete há-de ter o apoio moral possível das Democracias Ocidentais e nada mais que isso, e a China fará os Jogos Olímpicos de 2008, com vivas ou críticas do Ocidente, tanto faz.

Em Pequim, os atletas autênticos baterão vários recordes, como é costume, nestas ocasiões. E, no entanto, mais uma mancha ficará gravada nos anais dos Jogos, sem vantagem para ninguém. Nem mesmo, infelizmente, para o infortunado Tibete e outros países vítimas de algumas ditaduras que se pavoneiam impunemente por aí…

1 comentário:

Anónimo disse...

Sem duvida !!!
aos jogos os que são de jogos, politica fica fora ou deveria ficar.
Miguel