Os romanos, que por aqui passaram, ensinaram-nos que «in medio virtus» -a virtude, a verdade, está no meio -mas entre nós o provérbio mais conhecido é outro, provavelmente inventado pelos impagáveis portugueses que para isso têm um jeito insuperável: «in vino, veritas» ou seja, a verdade está no vinho! E quando a verdade, a realidade da maioria dos portugueses assenta em tal provérbio, pouco ou nada de valor pode fazer-se. O vinho é a maior riqueza nacional, sob todos os pontos de vista! Ele está em todo o lado. Há que aproveitá-lo, usá-lo, vendê-lo, abusar dele…Meio-termo, pois, além do vinho, para quê?
Claro, quando algum felizardo sobe às alturas, imediatamente outro comenta que um pouco de humildade não lhe faria mal. E o inverso também é verdadeiro. Se alguém está no fundo, logo outro comenta: coitadinho, porque não se anima?
Pura conversa de «chacha»! O mal está em que nós, portugueses, nunca ou muito dificilmente passamos das palavras aos actos. Nem colocamos os poderosos no seu devido lugar, nem ajudamos os pobrezinhos a erguer-se até um lugar decente. Contentamo-nos em palrar da desigualdade social que por aí vai e cada um que se amanhe!
Um por todos e todos por um? Isso é que era bom mas, mesmo no Benfica, só serve para enfeitar o emblema.
Quando protestamos de indignação, como as claques do futebol, apregoando insultos ou jurando mortes, tudo não passa de conversa fiada. Amolecemos dali a pouco com um copito, ou com um simples rebuçado, como crianças grandes, e imediatamente fazemos o acto de contrição, com muitas desculpas, muitos salamaleques…até à próxima.
É a tal humildade matreira que vive da prudência ou do medo de quem não tem força para mais, umas vezes, e pressente a oportunidade do aproveitamento da situação, outras tantas.
-Ó senhor João,
Então
Como vai
A sua mão?
Ainda dói,
Ou não?
-Olá, dona Teresa,
Pois esta beleza
Está presa,
Não sai
Com reza,
Mas mói…
Os grandes rasgos da nossa História que tanto elogiamos aos nossos antepassados, não se compadecem com as pequenas dores do momento, que moem… moem… e nunca conseguimos ultrapassar, por falta de tratamento, de vontade ou de simples imaginação. O tempo se encarregará, sozinho, de sarar as grandes feridas que sofremos com humildade infinita e as pequenas que aguentamos sem piar, mas lamentando sempre e empolando a sua dimensão ou os seus efeitos, logo que alguém nos pergunta por elas.
Fazem-nos falta grandes objectivos, mobilizadores, para dar a volta a esta «apagada e vil tristeza» de que falava Camões, esta só parcialmente invertida ao fim de sessenta anos de dominação filipina, nas Guerras da Restauração. (Estou a falar a sério e não das guerras da restauração e da ASAE que passam nos jornais todos os dias, para encher páginas!)
Não faço ideia de quanto tempo será ainda preciso para dar a volta, desta vez, ao apertar do cinto, à desmoralização geral destruidora que por aí vai…apenas ultrapassada por essa vulgar humildade matreira, à espreita, servilmente, da oportunidade do ressurgimento automático ou à custa do subsídio, sem esforço, sem imaginação, sem a criatividade que traz a riqueza, o bem estar, o orgulho de conseguir ser alguém pelo seu trabalho e persistência…
Também é certo que ainda não chegamos ao ponto de exigir uma nova Guerra da Restauração. Por outro lado, os nossos maiores já lá vão há muitos anos, todos os enaltecemos, é verdade, mas ninguém se atreve a imitá-los. Heróis não aparecem todos os dias.
Entretemo-nos a enaltecer as nossas feridas, as nossas mazelas. No mínimo dos mínimos, dizemos delas que não matam, não doem, mas moem. Com jeito passa...
E talvez apareça um milagre a salvar-nos, como em Ourique.
Vale mais estar quietinho!...
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