quinta-feira, 6 de março de 2008

O REI VAI NU, DE CALÇÕES E CAMISOLA…

Crónica de pontapés à toa

Hoje apeteceu-me escrever sobre futebol. Não porque o futebol me delicie sobremaneira, mas porque ele tem sido, e continua a ser, o rei deste país da treta, como dizem para aí, um rei a quem todos rendem vassalagem durante as tardes e serões dos dia úteis, e durante o dia inteiro nos fins-de-semana.

Os jornais desportivos, os diários noticiosos e os ecrãs de TV enchem o espaço de frivolidades como a dor do joelho do Tal, a pouca sorte do Outro, o castigo do Terceiro, a transferência do Quarto, o estado da relva, os árbitros escolhidos, as picardias dos treinadores, dos presidentes dos clubes e até o estado das investigações do Processo do Apito Dourado…

Ainda pensei refugiar-me na Internet…mas até na Internet se torna difícil escapar a esta onda que submerge tudo e todos. Porque seria eu uma excepção a conseguir escapar, se ninguém consegue?

Ontem foi o Porto a arrebatar multidões de furiosos ao Estádio do Dragão, depois de uma semana inteira de conjecturas, projectos, contas…até que, cerca das dez da noite, todo o país se encheu de tristeza e os olhos de muitos nortenhos se marejaram de lágrimas. No Porto, parecia o fim do mundo!

Agora, durante dias, não se falará de outra coisa senão dos golos falhados, dos penaltyes que foram mal marcados e o guarda-redes adversário defendeu, enfim, do resultado injusto para o Porto que jogou melhor, que não merecia ter perdido…

Hoje, entram em acção o Benfica e o Sporting. Este também arrebata milhões de portugueses, mas o Benfica, se ganhar, dará de beber a uns milhões de adeptos. Se perder…Deus nos acuda e ilumine os jogadores para o desafio da segunda mão, em Espanha. Até Nossa Senhora de Fátima estará metida nesta salada.

Há que ter em conta, claro, que o Benfica é ainda a marca de Portugal! E lá diz o refrão, utilizado desde que me conheço:

«Quem não é do Benfica e pelo Benfica, não é bom português nem bom chefe de família!»

Mas longe vão já os tempos em que os furiosos do clube eram conhecidos, orgulhosamente pelos homens do garrafão que enchiam as camionetas e os comboios especiais de antigamente. Agora andam, como os «tifosi» de outros clubes, de garrafinha de cerveja na mão e, por causa das coisas, a polícia não os deixa entrar no estádio, nesse preparo.

Um certo comentarista que muito me apraz ouvir e cujos artigos desportivos de crítica desportiva leio com prazer, dizia, a propósito das muitas traficâncias e irregularidades que se verificam no desporto do pontapé na bola, que o rei vai nu…e eu até concordo cem por cento com ele.

Bem, cem por cento, não. O rei vai bem disfarçado, de calções e camisola, dando pontapés à toa! Mesmo assim, algumas vezes até mete golo, de copo na mão e olhos fixos nos ecrãs de TV.

Desta vez não ouço barulho na vizinhança, o que significa, quase de certeza, que o Benfica deve estar a perder, no desafio de futebol com o Getafe. Não importa, ganha moralmente.

Chorar de pena ou de raiva, só no Norte.

O povo português, 70% do Benfica, tem sempre, para grandes males, grandes remédios…

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