segunda-feira, 10 de março de 2008

PROFESSORES E «SETORES»

A manifestação dos 100.000

Não se trata da célebre retirada dos dez mil, de Xenofonte, perdidos num território inimigo longínquo. São 100.000 «setores», de megafone em punho, à invasão e ocupação do bem conhecido Terreiro do Paço!

E tudo por quê? Pela defesa inquestionável ao seu bom nome de «setores» com currículo e trabalho eficiente comprovado por eles próprios…

Será que a democracia em Portugal, é só para inglês ver? Será que se elege um governo, não para governar, mas para apoiar os interesses ou os benefícios de uns quantos? Se não é assim, se governa, está perdido! Fazem-se manifestações, grita-se com megafones, convocam-se advogados e metem-se providências cautelares a torto e a direito, no geral falaciosas e condenadas depois por tribunais superiores, mas que têm o condão de atrasar as medidas tomadas, dificultar ao máximo a sua aplicação, desgastar o mais possível o governo reformista que todos puseram no poder (quase 70%), exigindo-lhe reformas…reformas…reformas…rápidas, profundas, eficazes. Esqueceram-se de dizer, no boletim de voto, que queriam essas reformas rápidas, profundas, eficazes… para os outros e superficiais, lentas e ineficazes para si próprios! Eles imaginaram, erradamente, que as reformas profundas e eficazes não iriam tocar nos privilégios acumulados em vinte ou trinta anos de laxismo, que os impostos requeridos pelas normas da CE não lhes caberia a eles pagar, que as avaliações e o mérito reclamados no período pré-eleitoral seriam, como de costume, simples passagens administrativas copiadas do PREC de 74…

Mas enganaram-se.

A fuga aos impostos começou a ser eficazmente combatida, e então esses mesmos apelaram para a brutalidade da fiscalização, rigorosa mas sem bom senso, que até cometia erros…

Nos hospitais e noutros serviços públicos, foi implantada a verificação electrónica das presenças a horas, por imposição do polegar…e logo esses tais reclamaram imediatamente que o sistema tinha defeitos e depois, lembraram o direito ao antigo livro de presenças onde a falsificação de dados era conhecida e aceite, desde séculos!

Na Justiça, acabaram as férias de três meses…e imediatamente os próprios juízes fizeram ver que trabalhavam durante esse período e punham em dia as sobras do trabalho normal…

Acabaram-se as escrituras sem registo, e logo os apoderados do sector bramiram indicando possíveis erros de informática, possíveis contratempos…mas nunca a real perda de proventos, em benefício do contribuinte, o cidadão comum…

Nas escolas, por outro lado, ampliou-se o horário de trabalho, obrigaram-se os «setores» a dar aulas de substituição, para acabar com os furos endémicos, para benefício dos alunos e dos pais que trabalham e logo se inventou que era uma violência e que as aulas eram uma fantochada…

Inauguraram-se as colocações por três anos, coisa sempre ansiada, e rapidamente os «setores» questionaram os concursos…

Estabeleceram-se normas de cumprimento de horários e um regime de faltas justificadas, e invocaram-se imediatamente os regimes fascistas…

Alteraram-se as direcções das escolas, antepondo a um conselho pedagógico inadequado e ineficaz, um reitor escolhido, pela primeira vez na História, entre professores, pais e autarcas, supremo crime de lesa autonomia dos «setores» laxistas…

Já eram crimes a mais!

Quando, por fim, entrou em vigor a avaliação dos professores, discutida sempre, é claro, mas finalizando sem a colaboração e a aprovação dos sindicatos, aqui d´el rei! Que não houve diálogo, que os «setores» nunca recusaram a avaliação, não aceitam é a avaliação estapafúrdia que querem impor-lhes sem a sua concordância, isto é, autorização...Onde é que já se ouviu isso? Quem manda, afinal?

Por último, não conseguindo a anulação das avaliações, resolveram fazer várias manifestações, culminando na dos 100.000.

Interessantes foram algumas entrevistas feitas então a «setores» em luta, mostrando à saciedade a ignorância dos motivos, das regras da avaliação, o fraseado utilizado por alguns entrevistados, por vezes ao nível mais baixo de alguns dos infelizes alunos de bairro de lata…num espectáculo degradante, a que não faltou o enquadramento da direcção da CGTP e as palavras de ordem saídas do baú bolorento do PREC onde permaneciam religiosamente guardadas desde os anos gloriosos de certa esquerda ultrapassada…

Há dias, recebi um mail, dessas cadeias que circulam na Internet, em que um «setor» se queixava amargamente da falta de reconhecimento dos governantes pelo seu esforço e citava umas dezenas de frases absurdas escritas pelos seus educandos, não sei se para rir ou chorar…

Outro mail mostrava excertos de alguns decretos de 2005, com a confusa linguagem advocacial e burocrática em vigor num Secretariado da Educação, apelando à sua leitura crítica, pelo «setorado» culto…

Dezenas de mails foram passados, em cadeia, com caricaturas da ministra, mais ou menos agressivas, mais ou menos grotescas, e até alguém descobriu que no Diário da República fora publicado um subsídio de 20.000 euros à Federação de Associações de Pais…fazendo subentender que era uma ajuda para esta lutar contra os sindicatos e as manifestações….

Por último, lançou-se a atoarda da PSP estar a coagir os possíveis manifestantes, a desencorajá-los de irem à grande manifestação, coisa que a que têm direito pleno e ninguém se atreve a discutir…

É o vale tudo! E a orquestração ficou bem visível, tratando de capitalizar algum desconforto ou até alguma preocupação ou descontentamento naturais. Primeiro, pelos sindicatos e depois por todos os partidos da oposição, incluindo a extrema-esquerda e a extrema-direita! Mas isto é próprio de politiquice oportunista, não de política séria.

Quanto aos «setores», apetece-me passar aqui as breves linhas do comentário que enviei a um oportuno artigo de um periódico desta manhã:

«Se não têm medo de ser avaliados, porque se preocupam tanto? Ou desejavam uma avaliação tipo passagem administrativa? Muitas outras profissões são avaliadas todos os dias; porque haveriam os «setores» de ser a excepção? Quem não deve, não teme!!!»

Os verdadeiros professores ensinam e não temem!

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