segunda-feira, 26 de maio de 2008

PETRÓLEO E CRISE

Crónica das soluções incómodas

Tenho ouvido, lido na imprensa ou recebido inúmeras notícias e mensagens relativas à subida de preço do petróleo e suas tremendas consequências a nível da economia e até do progresso e do bem-estar social. Todas elas servem para nos pôr em dia com as crescentes exigências de consumo que se verificam continuadamente, a partir das décadas de cinquenta e ainda outros factores aos quais ninguém ligava importância: a instabilidade permanente, recentemente agravada, na zona petrolífera vital do Médio Oriente, e o aumento desmesurado do consumo das grandes economias gigantes emergentes, a China e a Índia.

Como se isto não fosse pouco, a crise da economia americana (onde os magnates do petróleo têm, afinal, a maioria dos seus investimentos), espalha os seus reflexos desagradáveis em todas as partes do Mundo, até na Europa, do euro forte!

Também não é de pôr totalmente de lado a teoria alarmista de que o petróleo tem os dias contados, porque as jazidas continuam a ser exploradas com uma ânsia e uma ganância extraordinárias nos últimos tempos, numa progressão ascendente sem contrapartida na descoberta de fontes de crude a condizer.

Certo que as grandes companhias petrolíferas também não se descosem, a este respeito mas, com um pouco de sensatez, é lícito suspeitar que algum dia chegaremos ao fim da era dos combustíveis fósseis.

A propósito, tenho perguntado a mim próprio, sem qualquer base de apoio, é certo, se a razão pela qual alguns dos grandes produtores do Médio Oriente se preocupam tanto com o desenvolvimento da energia atómica não será fruto de algumas previsões mais pessimistas que as nossas, a esse respeito…para além das guerras endémicas de que não conseguem desligar-se.

Entre nós a subida do preço do petróleo e seus derivados acompanha o movimento universal, com as consequências que se esperam. As empresas e os consumidores, em geral, protestam. A subida do custo de vida, inerente, é cada vez mais um facto à vista dos cidadãos, mas os seus protestos nem sempre são correctamente dirigidos, ou adequados, ou justificados por boas razões.

Protesta-se porque os dirigentes da GALP ou os «penduras» políticos ganham rios de dinheiro, porque os impostos aplicados pelo Governo sobre a matéria prima base e os sucedâneos são elevados, muito maiores do que na nossa vizinha Espanha (que nos serve sempre de comparação atávica), porque as Pescas, os Taxis a Agricultura, o Gato e o Periquito devem ter preços de excepção ainda mais beneficiados que os actuais, porque os transportes não podem subir de preço, porque os preços são «cartelizados», etc., etc.

Na realidade, tudo isto é justificável ou não, conforme a perspectiva.

Por exemplo, imoralidades como as citadas aos «penduras» da GALP há muitas por aí, em todos os locais que investiguemos. E, quanto ao preço do petróleo, ele deriva simplesmente da subida do crude que é a matéria-prima, reflectindo-se daí para cima, a todos os níveis. Até está na moda um e-mail de protesto solicitando um boicote às três principais distribuidoras de combustíveis: A GALP, a REPSOL e a BP, nos próximos dias 1,2,3 de Junho.

Ora esse boicote, pensando friamente, é uma coisa caricata!!! A GALP, a REPSOL e a BP vendem 99% da gasolina e do gasóleo que consumimos. Tanto elas, como a AGIP e mais dois ou três distribuidores, assim como os próprios postos espanhóis fronteiriços, e outros, compram estes combustíveis refinados à nossa PETROGAL, familiar da GALP !!!

Desta forma, não descortino como é possível fazer assim um boicote aos três grandes.

Deixar de comprar nos dias 1, 2 e 3 de Junho? E ir comprar a quem? E a quantos quilómetros de distância? E fazer buzinadelas em marchas lentas, para quê? Para gastar ainda mais gasolina ou fazê-la gastar aos outros? Diminuir os impostos sobre a gasolina, para quê? Para nos colocarem em cima outros impostos mais gravosos, a fim de compensar o orçamento geral da Nação?

Sejamos sensatos!

Só há três maneiras de boicotar as gasolineiras, salvar o nosso magro pecúlio e até proteger simultaneamente o ambiente e a economia do País:

1-Andar a pé ou de bicicleta, sempre que possível.

2-Fazer associações com familiares, amigos e colegas, nas deslocações de carro, em vez de andar por aí, sozinho, a mostrar o bólide ao pagode, sem necessidade.

3-Utilizar os transportes públicos.

Com toda a certeza que a maioria dos portugueses já pensou nisso, muito antes de mim.

Mas então por que é que eles não querem pôr em prática nenhuma destas soluções? A maioria, porque são comodistas ou têm medo de baixar de nível social...outros porque são oportunistas da situação… outros ainda porque são ceguinhos de todo...

A verdade é que, se as coisas continuarem assim, muitos acabarão por andar a pé ou à boleia, pela força das circunstâncias, o que é bem pior, ficando sem carro mesmo para os seus adorados fins-de-semana onde gastam geralmente a gasolina que ainda sobrou dos dias de trabalho...

Finalmente tenho a acrescentar, para quem ponha em dúvida a eficácia destes remédios, que não estou a falar de cor. Já andei, durante cerca de dez anos, na crise dos anos 70, em «vaquinha» nas idas e vindas do emprego, com mais quatro colegas, em que cada um levava o seu carro, apenas um dia por semana! E cortei, nessa altura, a maioria dos fins-de-semana com a família. Não sinto que, por qualquer desses motivos, alguma vez tenha deixado de ser quem era!

Isto, sim, foi um verdadeiro boicote às gasolineiras, uma pura defesa do consumidor, do ambiente e do País que gasta fortunas com petróleo, de longe a nossa maior importação.

O que se badala por aí, a torto e a direito, é a pura gritaria insensata de muitos, ou o mero aproveitamento de outros tantos, no meio do desespero real de um número cada vez maior de vítimas da situação.

Que em Portugal, o mais fácil é deitar logo as culpas aos governos, exigir-lhes subsídios ou isenções de impostos. As boas soluções poderão discutir-se até à eternidade, mas nunca chegarão a levar-se a cabo. Quando muito, são ideias interessantes para os outros aplicarem...ou cumprirem.

Sem comentários: