sexta-feira, 30 de maio de 2008

PETRÓLEO E CRISE-II

Os remédios que tardam

O preço do petróleo continua a subir, os consumidores continuam a pagar mais pelos combustíveis que usam mas, pior que isto, a subida de preço dos bens alimentares vem causando um mal-estar cada vez mais acentuado entre as gentes de menos recursos, no mundo inteiro, apesar de uma parte da população europeia ainda não se ter apercebido, no meio da abundância em que foi criada, da magnitude da dificuldade.

Não vai ser fácil resolver este grande problema, mesmo na Europa dos maiores recursos.

As pessoas ainda esperam pelo fim de uma crise passageira, sem se preocuparam com as grandes incógnitas em que urge ocupar o pensamento, antes que seja tarde demais. A primeira é o fim, mais ou menos anunciado, da era dos combustíveis fósseis e a sua substituição, a sério, por outras soluções mais eficazes, mais baratas e, se possível, ainda mais universais. A outra é a necessidade cada vez mais imperiosa da implementação da auto-suficiência alimentar de populações cada vez mais numerosas e mais dependentes, na economia global que tudo vai abrangendo, inexoravelmente.

Os grandes interesses imediatos das grandes empresas petrolíferas e das poderosas indústrias adjacentes tornam difíceis e lentas as intervenções dos governos, no que toca à ultrapassagem da dependência dos combustíveis fósseis e das indústrias petroquímicas aos quais a Humanidade está totalmente presa. Medidas vêm sendo tomadas, com lentidão exasperante, na busca ou utilização de energias alternativas, algumas delas acertadamente, outras em forma aberrante e totalmente condenável, como o recurso subsidiado de alguns países, como os EUA, a bio combustíveis, sem respeito pela degradação rápida dos solos, pela perda de áreas cultiváveis para sustento das populações e pela sua luta diária pela alimentação, quantas vezes pela própria sobrevivência.

No que toca aos bens alimentares, seria do mais elementar bom senso que os governos estimulassem, por todos os meios, as agriculturas nacionais, em realidade o caminho mais curto para colmatar a carestia, a falta de alimentos e a fome em muitas regiões do globo quase abandonadas à sua sorte, como certas áreas da África e da Ásia passíveis de serem transformadas em autênticos celeiros, se fossem devidamente ajudadas com capitais, fertilizantes e tecnologia adequada pelos países de maiores recursos, tantas vezes canalizados para armamento de alto custo e nulo benefício.

Mesmo na União Europeia, penso que está na altura dos comissários dedicarem um pouco mais de atenção ao desenvolvimento da agricultura de cada uma das 27 pátrias, contrariamente aos cortes que têm sido incentivados para a falência a prazo das culturas mais difíceis ou menos produtivas, para benefício de uma manutenção artificial -e imoral - de preços e para o aumento dos lucros da poderosa agricultura privilegiada de algumas nações...tudo ao contrário da liberdade, igualdade e fraternidade tão apregoadas, em nome das quais alguns milhões de idealistas, visionários ou simples figurantes deram a vida.

Não sei até que ponto o governo português terá capacidade de manobra para canalizar auxílio para as zonas agrícolas desertificadas, mas deveria fazê-lo, dando ajuda e emprego aos mais prejudicados por esta crise, sem fim à vista. Nem sei também até que ponto muitos ricos e poderosos que fazem alarde da sua imoralidade desviando, por exemplo, enormes quantidades de recursos e água para grandes campos de golf para simples negócio e lazer, deveriam, em lugar disso, colaborar no estímulo da moribunda agricultura local...

Estas são as soluções que antevejo para o nosso futuro próximo. De imediato, era bom que os produtores de petróleo modernizassem e tornassem mais eficiente a sua degradada maquinaria extractiva, produzissem mais crude e houvesse, paralelamente, menos especulação. Mas esses não parecem ser os objectivos da OPEC e seus pares. E o abaixamento dos impostos sobre os combustíveis também não se afigura possível aos governos. Motivo pelo qual, os consumidores europeus -e os portugueses, ainda mais particularmente, -só têm uma solução: restringir a utilização das gasolinas e dos gasóleos ao estritamente necessário, poupando o máximo no consumo e nas despesas ambientais, quer eliminado os gastos supérfluos, quer utilizando transportes públicos ou em grupo.

Antes que outras medidas restritivas mais sérias venham eventualmente a tornar-se necessárias ou acabem mesmo por ser impostas, quer queiramos, quer não.

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