Ora em Portugal, infelizmente, tudo isto existe, tudo isto é triste, tudo isto é fado. E o fado é fatal, como o destino! Dá para chorar, ter muitas saudades dos tempos idos cheios de uma felicidade indigente e alegre à distância, justificada por uma filosofia barata e duvidosa em que o dinheiro não traz felicidade...
Um amigo mandou-me ontem uma mensagem com a cópia duma carta aberta dessas, dirigida ao Presidente da República, com as lamúrias do costume e o pedido de intervenção deste, que o país já não é uma monarquia constitucional decorativa, mas uma república democrática com uma suprema autoridade que devia actuar, bem e depressa...
Ora, à primeira vista, a carta deste senhor advogado, cheia de lugares comuns, parece um tiro único e certeiro no alvo que é, segundo ele, o desgraçado panorama político-económico do país. Muito do que lá escreve é certo, efectivamente. Nem sequer discuto.
Mas...cartas destas são por aí aos montes. Cada português entretém-se a escrevê-las (quando sabe escrever!!!), mesmo sem ser advogado, e até muito mais directas e acutilantes que esta.
O facto é que, num país de advogados de palavra fácil e execuções difíceis e demoradas, treinados para discussões eternas e críticas a propósito ou a despropósito, mas encaixando perfeitamente numa Justiça pelas ruas da amargura, os problemas reais do país serão sempre muito mais complicados de resolver do que deveriam sê-lo, porque as novas tecnologias não se compadecem com floreados de retórica fácil e exigem acções.
Nas nossas universidades e politécnicos ainda é enorme a quantidade de letrados e advogados a estudar para o canudo, em vez de matemáticos, físicos, biólogos...ou até canalizadores e electricistas! E provável ou infelizmente, só um governo ditatorial seria capaz de inverter rapidamente esta situação, tão entranhada está na nossa sociedade. Mas foi assim que aconteceu, por exemplo, na Alemanha de Hitler e nos países comunistas de leste, todos casos célebres pela má memória que nos deixaram.
Cartas destas, além disso, não ajudam ninguém. Não alertam sequer o presidente que
está farto de ler e ouvir tais coisas, sem saber ou poder dar-lhes resposta; não comovem os governos que lutam desesperadamente para tentar corrigir o que anda mal, umas vezes com sucesso, outras vezes, não; não convencem os cidadãos que continuam a comer a sopa dos pobres, enquanto ao lado os restantes vão curtir às discotecas, ao Rock in Rio, ou aos casinos, sem se importar um pepino que o país se afunde ou não.
Na realidade, a cura dos nossos males está em nós mesmos, que julgamos tudo saber mas nada fazemos, na nossa falta de civismo e de esforço, na nossa mania de atirar a culpa aos outros -governos, instituições, autarquias, empresas, escolas, patrões ou empregados, etc., etc., sempre que tentam fazer algo, e os denegrimos até à saciedade... enquanto não conseguimos espreitar o furo e agarrar o tacho, o único objectivo fixo sem lugar a discussões académicas.
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