quarta-feira, 14 de maio de 2008

O MACHADO DE GUERRA

Efeitos de um racionalismo aberrante

Nos velhos tempos em que se usavam machados, sobretudo nas zonas rurais para cortar as árvores e a lenha para as lareiras, aparar as estacas e muitos outros trabalhos agrícolas, também os exércitos que ainda não tinham posto de lado as fundas, usavam esta arma no corpo a corpo, com resultados de uma crueldade que hoje nos custa sequer imaginar. Foram talvez os índios americanos os inventores do tomawak ou machado de arremesso, quase sempre certeiro nas suas mãos exercitadas, à figura dos colonos que invadiam as suas terras.

O machado era enterrado nas épocas de paz e desenterrado nas alturas de carnificina. Com o advento da civilização, esses costumes bárbaros foram-se modificando mas, nalgumas situações, refinando!

Agora, por exemplo, a crueldade antiga, individual e frequentemente exposta, deu lugar à guerra do botão comandada à distância, impessoal, de crueldade nem sempre entendida nem visível, com o míssil tomawak comandado tranquilamente pelo carrasco comodamente sentado a milhares de quilómetros das vítimas, acertando-lhes em cheio, com tolerâncias de dois ou três metros…

As populações rurais que dantes usavam os machados, feitos e afiados nas forjas de aldeia, também já se habituaram às novas tecnologias economizadoras de energia e muito mais eficientes nos trabalhos do campo, como as serras, as podadoras, as aparadoras eléctricas e tantos outros mecanismos modernos.

Permaneceram, no entanto, algumas utilizações e abusos do antigo machado, como sucede nos matadouros e nos talhos onde os magarefes continuam a usá-lo na tarefa de esquartejar as rezes.

Apesar disso, os acidentes e as agressões com machado são agora neste nosso mundo globalizado, tecnologicamente mecanizado e a caminho da robotização integral, muito raras. Mas ainda acontecem.

Ontem, na Áustria, entregou-se à polícia um homem que tinha desenterrado o seu machado… para enterrá-lo, conscientemente, na mulher, na filha, nos pais e no padrasto, como se de rezes se tratasse, facto ao que parece fruto de um desvio aberrante de raciocínio. O assassino confessou que tinha morto os familiares, para evitar-lhes a vergonha futura de se verem na miséria, causada pela falência iminente dos seus próprios negócios alimentados com os bens que eles lhe haviam emprestado …

A poucas semanas da descoberta de um outro caso que também deixara, como este, a Áustria em estado de choque, este assassinato a frio de cinco familiares vem confirmar que o racionalismo puro, sem o apoio da moral, conduz à selvajaria, como sucedeu com o Holocausto posto em prática pelos povos germânicos conduzidos racionalmente por um louco filósofo baseado em falsos princípios…

A Áustria destes casos anormais bizarros, e outros ocorridos ultimamente com alguma frequência, é a mesma que eu conheci há tempos atrás, purgada já dos crimes da maior guerra da humanidade, de lindas paisagens, de gentes educadas, cultas, pressurosas a ajudar o semelhante, ou é um país de racionalistas aberrantes, de regresso à barbárie dos anos quarenta?

Já não sei, não!

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