O machado era enterrado nas épocas de paz e desenterrado nas alturas de carnificina. Com o advento da civilização, esses costumes bárbaros foram-se modificando mas, nalgumas situações, refinando!
Agora, por exemplo, a crueldade antiga, individual e frequentemente exposta, deu lugar à guerra do botão comandada à distância, impessoal, de crueldade nem sempre entendida nem visível, com o míssil tomawak comandado tranquilamente pelo carrasco comodamente sentado a milhares de quilómetros das vítimas, acertando-lhes em cheio, com tolerâncias de dois ou três metros…
As populações rurais que dantes usavam os machados, feitos e afiados nas forjas de aldeia, também já se habituaram às novas tecnologias economizadoras de energia e muito mais eficientes nos trabalhos do campo, como as serras, as podadoras, as aparadoras eléctricas e tantos outros mecanismos modernos.
Permaneceram, no entanto, algumas utilizações e abusos do antigo machado, como sucede nos matadouros e nos talhos onde os magarefes continuam a usá-lo na tarefa de esquartejar as rezes.
Apesar disso, os acidentes e as agressões com machado são agora neste nosso mundo globalizado, tecnologicamente mecanizado e a caminho da robotização integral, muito raras. Mas ainda acontecem.
Ontem, na Áustria, entregou-se à polícia um homem que tinha desenterrado o seu machado… para enterrá-lo, conscientemente, na mulher, na filha, nos pais e no padrasto, como se de rezes se tratasse, facto ao que parece fruto de um desvio aberrante de raciocínio. O assassino confessou que tinha morto os familiares, para evitar-lhes a vergonha futura de se verem na miséria, causada pela falência iminente dos seus próprios negócios alimentados com os bens que eles lhe haviam emprestado …
A poucas semanas da descoberta de um outro caso que também deixara, como este, a Áustria em estado de choque, este assassinato a frio de cinco familiares vem confirmar que o racionalismo puro, sem o apoio da moral, conduz à selvajaria, como sucedeu com o Holocausto posto em prática pelos povos germânicos conduzidos racionalmente por um louco filósofo baseado em falsos princípios…
A Áustria destes casos anormais bizarros, e outros ocorridos ultimamente com alguma frequência, é a mesma que eu conheci há tempos atrás, purgada já dos crimes da maior guerra da humanidade, de lindas paisagens, de gentes educadas, cultas, pressurosas a ajudar o semelhante, ou é um país de racionalistas aberrantes, de regresso à barbárie dos anos quarenta?
Já não sei, não!
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