segunda-feira, 5 de maio de 2008

E A CULPA É DE QUEM?

Crónica de gerações rascas e ignorantes…

Desde o discurso do 25 de Abril, do Presidente da República, muitas páginas foram publicadas e outras provavelmente continuarão na forja, dando continuidade à ideia, querida e mastigada por uma certa camada intelectual, de uma frustração ou descontentamento existentes com a actual juventude. De tal forma que já começa a ser um lugar comum, na nossa imprensa diária, e não só, apelidar a actual geração jovem de rasca, ignorante e muitas outras coisas mais.

Mas a geração de hoje, por alguns leviana ou descuidadamente assim classificada, não é certamente mais rasca nem mais ignorante que as anteriores. Outros defeitos ou virtudes poderá ter, produto das novas tecnologias avassaladoras que a Humanidade já se habituou a tomar como triviais, das filosofias superficiais e desmotivadoras que os mais velhos lhe transmitiram, em pacotes de liberdade fácil e sem regras, sem esforço e sem objectivos claros e atractivos.

Na realidade, a vida dos jovens de hoje é grandemente ocupada naquilo que os mais velhos nunca tiveram, nem sonharam na sua época e que agora, talvez por isso, julgam supérfluo, inútil, imoral. Mas, à gente nova, pouco tempo lhe sobra para pensar nestas balelas.

E para quê, se tudo é fácil, se tudo lhe vem parar às mãos sem esforço, sem trabalho, muito menos sem o sacrifício redentor que dá alegria a largo prazo? …

E, no entanto, a juventude de hoje tem também os seus problemas, como todas as outras anteriores, mesmo com premissas diferentes.

Certo, porém, é que eles não apareceram por geração espontânea, nem foram por ela criados! Eles são o fruto da actuação da geração anterior, como esta recebeu os ensinamentos e os problemas da que lhe deu origem. A única diferença da actual sequência, para as anteriores, é a velocidade das transformações tecnológicas que conduz fatalmente a uma rápida transformação da sociedade contemporânea, numa aceleração nunca dantes descrita nos manuais.

Por isso, temos que concordar, a Humanidade actual, com todas as suas novas questões e as suas dificuldades choramingadas pelos oráculos de serviço, nunca teve, durante milénios, as condições de vida que hoje tem. E, não obstante toda a propaganda do «stress» e dos malefícios do trabalho excessivo dos nossos dias, a mesma juventude não imagina sequer o que marginalmente passaram os pais, e os avós viveram com esforço, fome, analfabetismo ou falta de liberdade…

Também as gentes mais idosas quase não se lembram já das dificuldades do seu tempo de adolescência e os filhos, completamente ocupados no emprego e nos lazeres que se tornaram obrigatórios, no tempo que lhes sobra culpam a juventude das deficiências que, na sua permissividade ou nas suas frustrações, não souberam evitar ou corrigir a tempo.

Mas seria de esperar outra coisa?

Com todos os defeitos que os mais velhos encontram na sociedade actual, chegam agora aos oitenta, quando os seus pais não ultrapassavam os sessenta e cinco. E provavelmente os seus filhos alcançarão os oitenta e cinco anos, quase por regulamento…das chamadas jovens gerações rascas e ignorantes.

Algo não bate certo.

A verdade é que, quanto mais temos, mais queremos, mais nos queixamos!

Pese embora o desconsolo dos fazedores de opinião, a juventude de hoje não é melhor nem pior que foi a deles ou que todas as outras anteriores. Tem as virtudes e os vícios que lhe foram sempre apontados ao longo da História da Humanidade, em que apenas os mais velhos -que já foram também chamados rascas e ignorantes (ou coisas piores) no seu tempo -foram sempre acusadores infalíveis mas sempre culpados…sempre de consciência tranquila…mas sempre incapazes de corrigir as suas faltas…

Claro, há muitos sábios e treinadores de bancada por aí, a tentar comandar as hostes, mas poucos que se se penitenciem dos seus erros, fruto da sua própria ignorância. A culpa é sempre, sempre dos outros!

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