Acordos e entendimentos às quartas e sextas
Na maior parte das vezes, não sei quem tem razão, nas discussões sem fim em que todos os intervenientes saem sempre vencedores. Vencidos confessados nunca vi! Também não me interessa agora! Deixo a pesquisa para os analistas de serviço ou os jornalistas «cuscos», sempre apressados, de microfone em punho, apontando frases como metralhadoras e disparando palavras como balas a varrer tudo, a querer mostrar serviço, a tentar saber a todo o custo quem é o culpado da situação, que o resto é pura conversa para encher espaço e não lhes interessa nada, no fundo.
A verdade é que ninguém gosta de ser vencido, nem num jogo a feijões. Mas umas noções de civismo que dantes se ensinavam na escola e hoje andam um tanto esquecidas, faziam com que as gentes ultrapassassem esse preconceito e saudassem o adversário vencedor, quanto mais não fosse, por educação, com sorriso amarelo…ou pela esperança de vir a derrotá-lo depois.
No futebol, como o resultado final está à vista e não pode ser alterado, há sempre uma vítima, um culpado sem necessidade de mais perguntas -o árbitro -. O árbitro está sempre comprado pelo adversário, pelo que são frequentes as vitórias morais e outras cenas caricatas que deixam tranquilas as consciências de adeptos e jogadores perdedores e menos preocupados também os dirigentes responsáveis por eventuais e decorrentes maus resultados de bilheteira.
Na política onde, parodiando Lavoisier, nunca nada se cria, nunca nada se perde e sempre tudo se transforma a gosto do cliente, a vitória é uma constante e a derrota é uma palavra que só existe em teoria, nas declarações à Comunicação Social. No resultado de qualquer eleição, com números expostos de uma crueza sem margem para dúvidas, um político que perde faz imediatamente a sua leitura favorável salvando a pele, exaltando vitórias morais ou parcelares como desculpas subliminares e mandando recados ao vencedor, de modo a deixar a vitória deste irremediavelmente subvalorizada ou até comprometida perante a opinião pública.
Mas a pilhéria atinge também a educação e os professores, coisa que, até há um tempo atrás, julgávamos impossível. Após vários meses de negociações entre professores, representados pelos sindicatos respectivos, e o governo, isto é, o Ministério da Educação, assistimos todos os dias a vitórias e a recuos. Vitórias, claro, dos sindicatos e recuos dos governantes, segundo aqueles.
Pobre gente esta, do governo, que passa tempo precioso a andar para trás, não sabe mesmo fazer mais nada senão recuar, segundo dizem os seus adversários negociais! Grandes, felizes associações de professores que, mesmo do fundo onde todos os dias se dizem metidas, ocupam o tempo disponível a cantarem vitória, de poleiro!
As negociações governo sindicatos conduziram a um encontro que foi logo assinado, antes que alguém se lembrasse de não concordar à última hora, ou de dar uma nova volta ao texto final.
Acordo? Não, entendimento!
Folhas de acordo? Não, memorando de entendimento!
Alguns pontos da discussão foram caricatos demais para passar despercebidos de uma parte da população mais atenta. Mas a maioria tem problemas sérios a resolver e está-se «borrifando» já para questiúnculas deste tipo!
Hoje é sábado, dia de pôr de lado essas diferenças ridículas e fazer o apanhado honesto da semana, por entre vitórias e recuos às terças e quintas e acordos ou entendimentos às quartas e sextas. Basta.
Amanhã, domingo, é dia de descanso, e segunda-feira há que tomar fôlego para arrancar com novas pilhérias, à volta de assuntos sérios.
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