quarta-feira, 30 de abril de 2008

JUVENTUDE IGNORANTE

O veredicto dos sábios

Já passou a grande euforia dos feriados, com belos dias de calor e praia cujos acidentes não chegaram a gerar a mínima preocupação nas gentes, e perante a qual as fracas comemorações em honra da Democracia fizeram triste figura.

O discurso do Presidente da República, neste 25 de Abril, também não tratou de nada de especial. Limitou-se a chamar ignorantes aos jovens de menos de 30 anos de idade, parafraseando certo comentarista de uns quantos anos atrás, que já lhes tinha posto o carimbo de geração rasca! Lembro-me também, nessa altura, de que um deles lhe retorquiu simplesmente que a culpa era da geração de iluminados que agora detinha o poder, não fazia nada de jeito ou se entretinha a fazer os comentários…

Talvez por se ter lembrado disso, o P.R. lá foi dizendo que a culpa era em boa parte dos políticos, os quais, no fim de contas, não tinham feito leis adequadas para um sistema educativo capaz. Mesmo com essa ressalva, o Partido Comunista Português e o Bloco de Esquerda atiraram as suas pedradas certeiras, culpando-o pela ausência de medidas adequadas como Primeiro-Ministro, durante mais de dez anos.

Por outro lado, não me parece que tivesse sido necessário o P.R. mandar fazer um estudo do óbvio a uma universidade conceituada.

E também eu, como qualquer um, poderia apontar aqui os mais variados argumentos e acusações a torto e a direito, sem chegar a qualquer conclusão, como já é hábito, neste país de sábios em que alguns deles, mais ousados -ou oportunistas – se transformam em políticos façanhudos e outros, por não estarem tão expostos na arena, mandam, de fora, ensinamentos, bocas e críticas aos primeiros, com o Povo a aguentar aqueles e a gramar estes, com mais ou menos paciência, enquanto vai fazendo pela sobrevivência cada vez mais difícil…

Abro aqui um parêntese. Se os sábios da Política conseguem ter artes para ser os detentores do poder, os sábios da Comunicação Social armam-se em detentores da verdade absoluta. Mas, desde o 25 de Abril, ambos emproados defensores da Democracia, à sua maneira, concorrem à compita para a sua estabilização ou desestabilização, conforme os seus pontos de vista…ou os seus interesses de momento, umas vezes convergentes, outras opostos. Às guerras entre políticos e imprensa, juntam-se as lutas entre as diversas facções de cada uma das espertezas, sempre com o Povo em pano de fundo, sempre como razão única da Democracia que por ele é paga e bem paga. E depois queixam-se uns e outros de que os jovens são rascas ou ignorantes!

Como disse, o Povo não quer saber nada destas tricas em que se envolvem os respectivos mandantes, estejam na Cadeira do Poder ou na Sombra dele. Quer bons resultados da governação, em vez de vingança político-partidária institucionalizada e uma imprensa honesta, em lugar de propagandista, derrotista ou fofoqueira.

Ora, ao pretender ser directo no seu discurso, atirando-se aos jovens, no resultado da busca de um tema que julgou consensual, o P.R. pôs-se a jeito, para ser simplesmente ignorado...ou contestado pelos mesmos jovens, e não só, que representam mais de 30 por cento da população do país.

Dizem eles que, se são ignorantes, à falta de ensinamento dos mais velhos, o devem. Se não sabem nada de História e de Geografia, é porque os políticos quase riscaram essas disciplinas do mapa…ao menos da maneira como os pais as aprendiam. Se não sabem nada de Português, de Física, Química ou Matemática, é porque os «setores» não sabem ensinar os verbos, os Lusíadas, a lei do pêndulo, a fórmula da água e a tabuada, como dantes.

A verdade, porém, sem ironias é que os jovens de hoje, com condições económicas nunca sonhadas pelos pais e avós, têm à sua disposição meios nunca vistos de aprendizagem, nem sempre utilizados com a eficácia merecida. E, por outro lado, a Sociedade põe ao seu dispor meios poderosos de entretenimento e diversão, com pressupostos educacionais nem sempre os mais adequados.

Apesar de tudo, creio que a actual geração de jovens não é pior que a dos seus pais ou dos seus avós. As áreas de conhecimento são diferentes, os interesses em jogo são outros muito diversos. E esta dicotomia entre velhos e jovens manter-se-á, com sempre, desde que a escrita permitiu descobri-la já nos tempos da antiguidade.

Os nossos primeiros reis eram analfabetos. O meu pai, deixou de estudar grego, com grande pena do meu avô. Eu deixei de aprender latim, com desgosto do meu pai. Os meus filhos deixaram de empinar a tabuada à custa da menina-de-cinco-olhos e os meus netos aprendem inglês na escola pré primária.

São assim os tempos de hoje. Eles não sabem algumas coisas que nós sabíamos, na sua idade…e também nós não sabíamos naquela idade, metade de outras coisas que eles sabem agora…

Muitas coisas do ensino e da forma de estar, de agora, apesar de toda a boa vontade, os adultos não conseguirão nunca assimilar. Mas esta época e o futuro não são os nossos, são os deles.

O certo é que, muito mais importante que o ensino dos jovens, ou chamar-lhes rascas ou ignorantes, a nossa preocupação (dos pais, dos professores, dos políticos e da imprensa) deve ser a de incutir-lhes boas normas de educação e civismo, sem as quais não chegarão aonde devem. Por mais discursos que o Presidente leia e por mais leis que o Governo faça, mesmo que a Comunicação Social cinicamente se esforce por apresentá-las insistentemente ao lado da fofoca, do crime, ou dos anúncios pornográficos…

Porque é o civismo que nos permite não esquecer os nossos Maiores, guardar no nosso íntimo as virtudes da Democracia e estar na Sociedade de modo digno e responsável, sem o que não haverá paz nem progresso.

Só chamar nomes feios aos jovens nunca adiantou grande coisa.

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